Empresa com indústria em Itaporã encabeça projeto de US$ 51 milhões no rio Paraná

24/06/2015 15:16 Brasil
Criação de tilápias da empresa americana Reagal Springs.. Reprodução
Criação de tilápias da empresa americana Reagal Springs.. Reprodução

A matéria sobre o investimento foi publicada na Folha de S. Paulo, e relata que o investimento de US$ 51 milhões será custeado por três empresas, dentre a única brasileira, a Axial, que atua no mercado com a marca Mar & Terra, dando enfâse a estrutura e produção da empresa em Itaporã.
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Dentro de sete meses, 20 milhões de filhotes de peixe pesando 30 g -menos que um pãozinho francês- serão transferidos para gaiolas de aço flutuantes no rio Paraná. Seis meses depois, com quase 1 kg, serão o primeiro lote do maior investimento feito no país em aquicultura (produção em cativeiro).

O projeto, que será anunciado nos próximos dias, começará com 25 mil toneladas por ano, mas prevê quaduplicar a produção até 2020.

Se o cronograma for seguido, o Brasil chegará perto de dobrar sua produção atual, de 150 mil toneladas anuais.

Os US$ 51 milhões investidos na primeira etapa são 100% capital próprio da Tilabras, parceria entre uma das maiores produtoras de tilápia do mundo, a americana Reagal Springs, e a brasileira Axial, holding que atua no setor por meio da Mar & Terra.

Num terreno equivalente a um terço do parque Ibirapuera, comprado na última semana em Selvíria (MS), nas margens do rio, será construído também um frigorífico.

O rio Paraná é considerado um dos biomas mais adequados para a produção de tilápias em cativeiro, porque suas águas são muito limpas e o nível de corrente é adequado.

Nos próximos 15 dias, a empresa pedirá à União concessão para explorar uma superfície fluvial cem vezes maior, pelo período de 20 anos, renováveis por mais 20.

Parceria
O Brasil será o sexto país de instalação da Reagal Springs, que atua hoje no México, Indonésia, Honduras e Sumatra, além de nos EUA.

A iniciativa para a parceria surgiu da empresa brasileira, que planejava aumentar sua participação no setor.

Fundada em 2003, a Mar & Terra produz em Itaporã (MS), pintado e tilápia e, em Rondônia, pirarucu (é a única empresa do país autorizada a exportar essa espécie nativa). Hoje, produz aproximadamente 1.000 toneladas de pescado por ano e compra outras 5.000 toneladas, no mercado ou de engorda com produtores integrados.

Os brasileiros visitaram, ao longo de um ano, vários criadouros fora do Brasil e concluíram que a Regal tinha tecnologia adequada para o tamanho do projeto que tinham em mente.

Do lado da Reagal, o interesse era o de diversificar a produção. A americana também registrará um aumento significativo na produção, já que, somando todas as suas operações, vende hoje 100 mil toneladas de tilápias por ano.

Quando começar a produzir pescados para consumo, no próximo ano, a Tilabras vai colocar no mercado entre 25 mil e 30 mil toneladas de tilápias, cinco vezes o que sai dos tanques dos maiores produtores do país atualmente.

No começo serão vendidos peixes inteiros, para o mercado interno, mas, até o final de 2016, quando completa a primeira fase de investimentos, a Tilabras espera ter concluído a construção do frigorífico, o que lhe permitirá vender o peixe também em filés, frescos e congelados.

Em cinco anos, a produção deve chegar a 100 mil toneladas anuais.

Selvíria, onde ficarão as instalações industriais, está a 45 km de Três Lagoas, de onde deve vir a maior parte da mão de obra -no pico de produção, a empresa projeta 1.850 funcionários diretos, quase um terço de todos os selvirenses.

Santoro afirma que boa parte dos funcionários devem ser recrutada entre agricultores e que todos terão que ser treinados, mesmo os que já tenham experiência em frigoríficos bovinos, pois o uso da faca é diferente.

Atrás de boi e frango
Mesmo sem essa região, o potencial do Brasil é enorme, na avaliação de Sylvio Santoro Filho, diretor de projeto da Tilabras. Estão no país as maiores reservas de água doce do mundo, e o clima quente favorece a engorda dos peixes. No inverno, chegam a parar de comer e levam até 45 dias mais (ou seja, de 8 a 9 meses) para atingirem o tamanho necessário.

O fato de que o brasileiro come poucos pescados "a média é inferior a 10 kg de pescado por pessoa por ano, abaixo dos 12 kg recomendados pela OMS e metade da média global (19 kg)"; é visto como oportunidade de expansão pela nova empresa.

O Mato Grosso do Sul foi escolhido por ser grande produtor de grãos, outro ponto forte do Brasil. Soja é insumo da ração, o principal item da planilha de custos da empresa, chegando a 70%. A Tilabras produzirá sua própria ração quando estiver criando 50 mil toneladas de tilápia, ponto que viabiliza a fábrica.

Já estão projetadas outras duas expansões, para 75 mil e depois 100 mil toneladas, o que deve ocorrer em 2020.

O porte do projeto leva em conta que o mercado global de pescados também é crescente. A empresa planeja exportar 70% de seus peixes a partir, principalmente para os EUA, maiores consumidores do planeta.

A FAO estima que a demanda global por pescados crescerá em aproximadamente 30 milhões de toneladas até 2030. Essa oferta adicional virá da aquicultura, já que a pesca não tem superado os cerca de 90 milhões de toneladas anuais na última década.

Entre os atuais líderes na produção de pescados, poucos têm condições de aumentar a produção de forma significativa. A China, por exemplo, líder na produção de tilápias, enfrenta aumento nos custos, o que poderia abrir espaço para o Brasil.

A expectativa é que o país, hoje líder na exportação de carne bovina e de frango, galgue posições também no setor de pescados. "Saímos de pequenos produtores nacionais e passamos a multinacionais. Abriram-se as comportas para que empresas da mesma grandeza enxerguem o Brasil como oportunidade sensacional", diz Barbalho.

Santoro admite o risco de novos competidores, mas defende que a Tilabras tem o trunfo do pioneirismo. "Até se instalarem, já teremos ampliado e conquistado o mercado interno, fator importante de viabilidade econômica."

A não ser que outros grandes empreendimentos também se instalem no Brasil, o país ainda estará longe das previsões do banco holandês Rabobank, com forte presença no agronegócio, que há dois anos estimava 1 milhão de toneladas de pescados em 2022.

Entraves
Estudo do BNDES sobre o setor, divulgado em 2012, aponta os principais gargalos à evolução: dificuldades no licenciamento ambiental, falta de tecnologia e de crédito.

Um dos problemas apontados por empresários são as dificuldades burocráticas e de licenciamento.

O Ministério da Pesca diz que, além de tentar agilizar a concessão de licenças, tem negociado com governos estaduais a redução do custo de produção, principalmente pelo abatimento de tributos que incidem sobre a ração.

A expectativa é que haja algum avanço em relação à desoneração no próximo trimestre.

Outro gargalo importante é o custo de exportação. Um contêiner que saia do Brasil com destino aos EUA custa 60% mais que um despachado da China, a maior produtora global, com 40 milhões de toneladas por ano.

No momento, Santoro diz que as condições do porto de Santos são adequadas para escoar sua produção. Mas estão em estudo outras opções, inclusive na região Norte.

O rio Paraná é navegável até a bacia do Prata, mas a empresa não vê potencial de exportação para o Mercosul.

Concessão
Como as águas dos rios são da União, é preciso que a empresa obtenha a concessão para usá-las. O processo é regulamentado pelo decreto 4.895 de 2003, e prevê um prazo de 20 anos, renováveis por mais 20.

A ANA (Agência Nacional de Águas) calcula a capacidade de suporte de cada manancial, ou seja, quantos peixes cada reservatório pode produzir, e estipula um valor pela concessão.

Normalmente, ele é de R$ 500 por hectare, segundo Felipe Matias, secretário de Aquicultura do Ministério da Pesca –no caso da Tilabras, a área de criação deve ter 600 hectares, o que levaria o preço mínmo a cerca de R$ 300 mil.

Além de estabelecer esse valor de outorga, o licenciamento exige autorização da Marinha e licença ambiental.

A concessão é por processo licitatório, vence quem oferecer a maior outorga.

 

Fonte: Folha de S. Paulo

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