Exame de sangue não substitui o toque retal, diz urologista

27/11/2014 08:36 Saúde
Ricardo de Lucia - Membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia. Foto: Marcos Ribeiro.
Ricardo de Lucia - Membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia. Foto: Marcos Ribeiro.

O preconceito e falta de conhecimento a respeito do exame mais popular usado no diagnóstico do câncer de próstata, o toque retal, leva muitos homens a optarem apenas pelo exame de sangue, chamado de PSA. O problema é que sozinho esse exame está longe de ser um marcador tumoral ideal, pois ele não é específico para o câncer de próstata. O alerta é do urologista Ricardo De Lucia, membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), membro internacional da American Urological Association (AUA), e professor de Urologia da faculdade de Medicina da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

Segundo o médico, pequenos tumores podem ser percebidos apenas pelo toque retal, pois não apresentam alterações significativas dos níveis do PSA. Pra garantia de eficácia, ele sugere que seja feito o exame digital da próstata (toque) e a dosagem sanguínea do PSA. Nesta entrevista Ricardo de Lucia fala sobre o preconceito dos homens sobre o exame de toque, a importância do exame, os perigos da doença e a forma de tratamento.

O exame de próstata ainda é um tabu entre os homens?

Infelizmente ainda é. Vivemos em um país latino americano, onde a cultura machista ainda é uma realidade. Mas este, e outros preconceitos, vem mudando nos últimos anos. Temos notado, que campanhas de esclarecimento sobre esta doença, como o Novembro Azul e com o apoio da mídia, os homens tem procurado mais o especialista e também muitas vezes incentivados por sua parceira.

É normal a próstata registrar aumento com a idade. Por quê?

Sim. A próstata é uma glândula do sistema reprodutor masculino que sofre influência da testosterona (hormônio masculino), após os 40 anos começa a haver uma mudança hormonal, o que leva a um aumento gradativo do volume da próstata, chamado de hiperplasia prostática benigna (HPB). Este aumento pode levar a obstrução do canal da urina (uretra), levando a dificuldade para urinar e até a retenção urinária, necessitando de tratamento. Portanto a HPB faz parte do envelhecimento do homem, mas este aumento benigno não está relacionado com o câncer da próstata.

Esse aumento pode ser o início de uma doença?

Sim. Como descrito, este aumento benigno da próstata (HPB) é uma das principais causas de consulta ao urologista, pois os transtornos urinários decorrente desta afecção leva a um prejuízo na qualidade de vida do homem, necessitando tratamento que pode ser clínico ou cirúrgico.

A partir de que idade e qual a frequência o homem deve realizar o exame de próstata?

O câncer de próstata é muito comum, acometendo 1 em cada 6 homens, por esta razão se recomenda que todo homem com mais de 50 anos faça o exame da próstata, e em casos em que houver casos de câncer na família, iniciar aos 45 anos.

Muitos homens optam apenas pelo exame de sangue PSA. Ele é totalmente confiável?

Não. Infelizmente o PSA (Antígeno Prostático Específico) falha muito e está longe de ser um marcador tumoral ideal, pois ele não é específico para o câncer de próstata. Por outro lado, pequenos tumores podem ser percebidos pelo toque e ainda não apresentam alterações significativas dos níveis do PSA. Portanto se recomenda que seja feito o exame digital da próstata (toque) e a dosagem sanguínea do PSA. Com a realização de ambos conseguimos detectar 90% dos casos de câncer e em muitas vezes, muitos anos antes desse câncer se manifestar. É importante lembrar, que nos casos suspeitos, realizamos a biópsia da próstata para a confirmação da doença.

Então o exame de sangue não substitui o exame de toque retal?

Não substitui. O ideal é que ele seja realizado em conjunto com o toque retal para aumentar a probabilidade de detecção do câncer.

Qual a principal diferença em termos de diagnóstico preciso entre o exame de sangue PSA e o exame de toque?

O PSA é um exame específico para afecções da próstata, mas não é específico para o câncer. Ou seja, ele pode estar aumentado tanto em doenças benignas, como ocorre em infecções da próstata (prostatite), como na câncer.

Quem tem histórico de câncer de próstata na família deve ficar em alerta. Quais os riscos?

Sim. O câncer de próstata é muito mais comum em homens com história familiar para esta doença. Portanto homens que tiveram parentes com câncer de próstata são considerados grupo de risco para o desenvolvimento desta doença e devem começar a fazer o rastreamento (toque e PSA), mais cedo. Outros fatores de risco são a idade avançada, consumo exagerado de gordura saturada, obesidade e sedentarismo.

Hoje, a maioria dos cânceres de próstata é descoberto no início ou em estado avançado? Qual a realidade do país?

Estamos longe do ideal. O Brasil é um país continental, com realidades muito diferentes. Além da desinformação e o preconceito de uma parte significativa da sociedade, existe a falta de acesso de uma grande parte da população a este exame. Portanto temos descoberto os cânceres de próstata cada vez mais cedo, mas ainda temos muito a melhorar.

Quais as chances de cura quando o câncer é descoberto no início e qual o tipo de tratamento?

Hoje conseguimos descobrir os casos iniciais de câncer na próstata, muitos anos antes dele vir a se manifestar. Quando isso ocorre, podemos oferecer cura em mais de 90% a estes homens, através da retirada da próstata (cirurgia) ou com a destruição do tumor com radioterapia. Cada modalidade de tratamento tem as suas vantagens e desvantagens, que devem ser explicadas e discutidas com o paciente, para decidir a melhor forma de tratamento, o que chamamos de tratamento individualizado.

Fonte: Dourados Agora

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