Caminhoneira coordena grupos no WhatsApp e incentiva greve
Caminhoneira há 25 anos numa profissão majoritariamente masculina, Selma Regina Santos, 48, convoca apoiadores ao protesto contra o custo do diesel online. Ela é criadora de três grupos no aplicativo de mensagens WhatsApp: Para Frente Brasil, Siga Bem Caminhoneiro e Rainha dos Caminhoneiros -este último em sua homenagem.
Casada com o também caminhoneiro Ivo Evangelista, 69, eles contam gastar, numa viagem de cerca de 700 km, entre Curitiba, onde vivem, e o Rio Grande do Sul, cerca de R$ 1.100 em diesel, isso sem contar outros custos da viagem. O casal faz transporte de mudanças, peças de carro e tecidos, a depender do contratante.
"De Foz do Iguaçu a Curitiba são dez pedágios e a pista ainda é mal feita. Os valores também mudam. Você passa lá e 15 dias depois, quando volta, está outro preço", diz Selma.
E a rotina nas estradas tem outras agruras, como dormir no chão do baú e na boléia do caminhão. "A gente lava a roupa no banheiro posto, estende dentro do baú, faz comida no chão. E quando fica doente, muitas vezes não tem hospital ou farmácia perto. Isso quando não dá defeito no caminhão..."
Quando o motor quebra, por exemplo, ela diz gastar em torno de R$ 5.000 pelo conserto. "As pessoas acham que caminhoneiro ganha dinheiro igual água, mas a realidade é outra. Eu nunca tive natal, meu natal é em posto [de gasolina]."
Selma também não participou da criação dos três filhos durante toda a adolescência deles. "Hoje recebo essa cobrança, por não ter visto eles crescerem. Eu pagava uma pensão para a avó, que cuidava", conta ela. "Não sei se valeu."
Mas não foram os filhos que a afastaram das longas viagens pelas rodovias -do Nordeste ao Sul do país. Selma descobriu há quatro anos uma trombose na perna e que tinha arritmia cardíaca.
Brigando para controlar as doenças, a caminhoneira seguiu na profissão, agora em viagens mais curtas."Sigo lutando, guerreando, mas não consigo sair da estrada", diz. "Eu entrei em depressão, tive síndrome do pânico quando parei de ouvir o barulho do motor, de conhecer pessoas diferentes", diz Selma. "Não consigo me ver com uma vassoura dentro de casa."
A fragilidade da saúde foi o motivo pelo qual decidiu não comprar a briga nas ruas. "Recebi um vídeo mostrando que tacaram uma pedra e mataram um motorista. Assim eu não quero. Sou caminhoneira, mas não podemos misturar greve com violência."
Com o serviço parado durante os quatro dias em que rodovias federais de 25 estados e no Distrito Federal estão bloqueadas, Selma e Ivo calculam o prejuízo. "Para nós, que somos autônomos, o prejuízo é total. Mas mesmo assim apoio e incentivo a greve." Com informações da Folhapress.
Fonte: Folhapress
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