Cassandra Rios desafiou censura para se tornar a primeira brasileira a vender 1 milhão de livros e educar uma geração

08/03/2018 06:39 Brasil
Foto: Divulgação/Folha de S. Paulo
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“Me acusaram de atentado à moral e aos bons costumes. Isso em 1954. No livro [“A Volúpia do Pecado”], a homossexual é simplesmente aquilo que ela quer: ela enfrenta seus problemas, que todo o mundo os tem, mas no final é feliz”, diz a escritora Cassandra Rios, em entrevista ao jornal Lampião da Esquina, de outubro de 1978.

Perseguida pelo regime militar e considerada uma escritora maldita, Cassandra Rios, pseudônimo de Odete Rios, mesmo tendo 36 livros proibidos, foi a primeira mulher a vender 1 milhão de exemplares no Brasil e, no início dos anos 1990, passou a ser objeto de análises no meio acadêmico sobre sua vivência numa sociedade conservadora, onde Rios escreveu sobre homoafetividade, prazer e drogas. 

A escritora morreu de câncer, aos 69 anos, no Dia Internacional da Mulher, em 8 de março de 2002.

Nascida em outubro de 1932, Cassandra Rios publicou “A Volúpia do Pecado”, seu primeiro livro, em 1948.

“Ela o escreveu com 16 anos. Fazia uma literatura assumidamente popular. Eram livros baratos. Havia desenhos provocantes nas capas: moças oferecidas em poses sutilmente sensuais”, disse Marcelo Rubens Paiva, em artigo na Folha, em março de 2002. Segundo o autor, a literatura de Cassandra Rios educou uma geração.

As censuras aplicadas aos livros de Rios –que foram intensificadas com o Ato Institucional no 5 (AI-5)–,  renderam apelidos como “papisa da homossexualidade”, “a grande pornógrafa” e “a safo de Perdizes”. Este último dá nome ao documentário “Cassandra Rios – A Safo de Perdizes”, da diretora Hanna Korich, lançado em 2013.

“A ditadura perseguiu Cassandra por ela ser lésbica, mulher e por vender muitos livros! A ditadura era machista e burra e não se conformava com uma mulher escrevendo explicitamente cenas de sexo entre mulheres, e com tiragens imensas de livros. Cassandra era explícita, sempre foi, não escondia nada, seja em cenas de sexo hétero, como principalmente homossexuais femininas”, diz Hanna Korich em entrevista ao jornalista Vitor Angelo.

Os livros de Cassandra Rios contam histórias que o regime militar e parte da sociedade do século 20 preferiam que fossem apagadas.  Sua literatura provoca e questiona a heterossexualidade compulsória.

“Cassandra, em várias ocasiões, declarou que não era subversiva e sim ‘apolítica’. A verdade é que ela abordava abertamente temas tabus numa época em que a sociedade brasileira era extremamente homofóbica, conservadora e machista, mais do que agora”, conclui Hanna Korich.

Fonte: Jair dos Santos Cortecertu / Folha de S.Paulo

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