Dourados chega aos 83 anos sem festa e aniversário questionado
Monumento ao Colono, principal cartão-postal de Dourados; cidade completa 83 anos hoje (Foto: Helio de Freitas)
Segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul, com 215 mil habitantes, Dourados completa 83 anos de emancipação nesta quinta-feira (20), mas não haverá comemoração. Tirando a agenda da campanha Natal para Todos, promovida por empresários, não haverá nenhum outro ato para lembrar o aniversário de fundação, cuja data verdadeira é alvo de questionamento.
Desde o início dos anos 2000 não existe desfile no dia de aniversário da cidade. O feriado também só serve para órgãos públicos e agências bancárias. Faltando cinco dias para o Natal, as lojas funcionam normalmente hoje, assim como ocorre há pelo menos uma década.
Sem dinheiro até para pagar o 13º de todo os servidores, fragilizada por operações policiais anticorrupção e impedida pela Justiça de organizar a tradicional festa de Natal Dourados Brilha – que em anos anteriores incluiu o aniversário – a prefeitura também preparou nenhuma agenda para a data.
Nesta quarta-feira a prefeita Délia Razuk (PR) lançou um pacote de obras que serão executadas em 2019, mas hoje, 20 de dezembro, não haverá nenhuma inauguração. É um aniversário sem festa, sem bolo, sem identidade.
“A abertura do comércio descaracterizou o aniversário de Dourados. Além do funcionamento das lojas em 20 de dezembro, não há ato concreto de comemoração da data por parte do poder público. A última comemoração aconteceu nos 80 anos [2015]”, afirmou ao Campo Grande News o advogado e historiador Rozemar Mattos.
Batalhador em defesa da história e dos pioneiros douradenses, Rozemar é presidente do Centro Cívico Histórico e Cultural 20 de Dezembro. A entidade promove hoje uma seresta, para homenagear os 83 anos de Dourados.
História questionada – Há vários fatos na história de Dourados que são questionados, inclusive feitos de pioneiros como Marcelino Pires e até mesmo a data de aniversário da cidade. O maior homenageado em terras douradenses, por exemplo, nunca pisou em Dourados.
O tenente Antônio João Ribeiro, herói da Guerra do Paraguai e que dá nome à principal praça da cidade e inspirou a frase “Terra de Antônio João” no brasão oficial, morreu bem antes de Dourados ser fundada.
Há pelo menos quatro anos, historiadores locais tentam convencer a classe política a corrigir os erros do passado. O Campo Grande News narrou em 2015 a luta deles em busca da verdade. Mas de lá para cá nada mudou.
Estudo feito por uma comissão de revisão histórica defende como data correta de fundação o 15 de junho de 1914, quando foi criado o Distrito de Paz de Dourados.
O relatório também questiona a condição de Marcelino Pires como fundador de Dourados e defende mudança no brasão, para retirada da frase “Terra de Antônio João”.
Em 2015 o relatório foi entregue à Câmara de Vereadores, mas nunca recebeu atenção dos vereadores. O documento é criticado por familiares dos pioneiros, que defendem o 20 de dezembro como data de fundação.
O professor e historiador Carlos Magno Mieres Amarilha, responsável pelo estudo sobre a data de fundação de Dourados, diz que desde o início existe controvérsia sobre a data.
Segundo ele, a lei definindo o 20 de dezembro como aniversário de Dourados foi promulgada pela Câmara de Vereadores no dia 23 de outubro de 1953, por iniciativa do então vereador Aguiar Ferreira de Sousa.
Aguiar tentou, mas não conseguiu, naquele ano, fazer uma festa para comemorar o aniversário. Festa mesmo só teve em 1954, organizada pelo então prefeito Nelson de Araújo.
Amarilha afirma que documentos da época provam a contestação pela data. Muitos defendiam comemorar o aniversário em 22 de janeiro, quando foi assinada a primeira ata de posse do primeiro prefeito, em 1936.
O relatório engavetado há três anos na Câmara aponta como prova sobre a data de fundação da cidade a Lei nº 658, de 15 de junho de 1914. Naquele dia foi criado o Distrito de Paz de Dourados com sede no “Patrimônio dos Dourados”, constituída no governo de Joaquim Augusto da Costa Marques.
Segundo Carlos Amarilha, a lei 658 é o primeiro documento oficial mais antigo relacionado ao atual município de Dourados. O Distrito de Paz pertencia ao município de Ponta Porã.
Fonte: Helio de Freitas, de Dourados / Campo Grandes News
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