Nem mais dinheiro, nem hiperinflação: nota de R$ 200 é para economizar papel
Criação da nova cédula virou piada na internet, apenas de lobo-guará já ser escolhido como personagem (Foto: reprodução redes sociais)
Piadas sobre a situação da economia com o anúncio da criação de nova cédula de R$ 200, anunciada pelo Banco Central, não faltaram nas redes sociais. Apesar do tom jocoso, os cenários previstos foram os mais pessimistas possíveis, passando por hiperinflação até desvalorização do real. A reposta, no entanto, pode parecer mais simples e envolver a mera economia de matéria-prima.
O próprio Banco Central afirmou que a pandemia elevou a demanda dos brasileiros por dinheiro em espécie. Dados divulgados nesta semana mostram que de fevereiro, antes da pandemia, para junho o PMPP (Papel-Moeda em Poder do Público) saltou 29%, de R$ 210,2 bilhões para R$ 270,9 bilhões. O valor é o maior da série histórica do BC, iniciada em dezembro de 2001.
De acordo com o Márcio Coutinho, professor de economia da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), a novidade pode envolver a sistemática do próprio banco. “Pode estar relacionado a quantidade de papel. Até porque hoje a quantidade de transação em dinheiro é muito pequena. Muita gente usa cartão de débito ou crédito, que é a moeda de plástico”.
Apesar do incentivo para o uso de aplicativos e outros meios eletrônicos realizar pagamentos, o cenário de incerteza levou a população a querer ter o dinheiro na mão. A própria diretora de administração do Banco Central, Carolina de Assis Barros, disse que o lançamento da nova nota é uma forma de a instituição agir preventivamente para a possibilidade de aumento da demanda da população por papel moeda.
Segundo o BC, entre março e julho deste ano, um dos efeitos econômicos da pandemia de covid-19 foi o aumento de R$ 61 bilhões no entesouramento de moeda, ou seja, notas que deixaram de circular porque a população deixou o dinheiro em casa.
O economista Sérgio Gonçalves concorda que a medida não passa de algo meramente técnico e não tem efeito algum sobre a economia. “A moeda em si é só um indexador. Ela só uma maneira de eu dizer que seu trabalho custa para mim TANTO e meu produto custa para você TANTO”, explica.
Desta forma, segundo ele, não importa se há somente uma nota de R$ 1 circulando ou se há sete modelos de nota. Atualmente, a gente tem seis modelos de nota em circulação: R$ 2, R$ 5, R$ 10, R$ 20, R$ 50 e R$ 100.
A nova cédula deve começar a circular a partir do fim de agosto e terá como personagem impresso o lobo-guará, espécie que ficou em terceiro lugar em uma pesquisa realizada pelo BC sobre quais animais em extinção deveriam ser representadas em novas cédulas.
Os economistas ouvidos pela reportagem do Campo Grande News explicam porque a nova nota não representa nem mais dinheiro em circulação e nem representa sinal de inflação. Veja as respostas:
Cédula nova circulando na praça é sinal de inflação?
Imprimir uma nota de valor maior não tem nenhum impacto sobre a inflação.
“O que impacta a inflação em relação a questão de emitir dinheiro significa colocar mais moeda circulando dentro do mercado, o que aumenta o consumo. Mas não é o caso disso. A medida é só para o Banco Central ter um maior controle sobre a quantidade de moedas circulando na economia”, explica Gonçalves.
O economista Márcio Coutinho desenha o cenário para comprovar que as duas coisas não necessariamente têm relação. “Teve um época que a inflação chegou a 13% ao dia. O dinheiro perdia valor. Agora a gente não tem inflação. Quer dizer, nós temos inflação. Mas a inflação para este ano é projetada a menos de 3% ao ano. No ano passado a inflação foi de 4%. Você percebe que a inflação está controlada”.
Criar cédula nova é o mesmo que imprimir mais cédulas para circulação?
“A cédula é nova. Não quer dizer que vai ter mais dinheiro circulando”, explica Coutinho.
Gonçalves compartilha da mesma visão e diz que as duas coisas não têm relação. Apesar da impressão de cédulas chegar a ser sugerida pelo ex-ministro da Economia, Henrique Meirelles, em abril deste ano, para colocar mais dinheiro na mão das pessoas, já que o nível de consumo estava entre os mais baixos da história da economia do Brasil, a medida não é recomenda, por ser justamente um gatilho disparador de inflação.
“Não se deve simplesmente imprimir papel-moeda para tentar suprir alguma necessidade de mercado que tende naturalmente a aumentar a capacidade e consumo. Tende com isso fazer com que se inicie um processo de inflação”, explica.
Fonte: Tainá Jara / Campo Grande News
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