Capital

Demissão ocorreu após o comediante cair no "tribunal do júri" dos pais que cobravam uma posição do colégio

Professor foi demitido de uma escola privada onde atuava depois de pais verem vídeos de seus shows de stand-up em Campo Grande. Alex Zazyki, de 44 anos, contou que foi surpreendido na manhã de hoje (05) com demissão imediata após pedidos de posicionamento dos responsáveis à direção da escola, que é privada.

O professor de Física relata que trabalha com o show de comédia desde de 2010, mas que atua como pedagogo desde 1998. Alex relata que começou a trabalhar no colégio de onde foi dispensado no ano passado, mas desde que foi contratado, todos sabiam de suas apresentações de stand-up. Ele disse ainda que os shows não eram segredo e que a escola não se opôs.

“De sexta-feira para cá, eu ganhei o presente de algumas pessoas passarem a conhecer os meus vídeos que são filmados em uma casa de comédia, onde estou com o microfone na mão, uma apresentação artística. E é óbvio que você falou de comédia, você vai passar por vários assuntos, vai brincar com a situação de sexualidade, de droga, mas tudo dentro do teor da comédia, do teatro. Não tem personalidade ali. Tirando a minha cara e meu nome, é um personagem que tá ali”,  comentou.

Alex relata que até ontem não tinha recebido nenhuma reclamação ou advertência. Mas hoje, quando foi chamado pela coordenação do colégio, o professor diz que muitos motivos passaram pela sua cabeça, menos os seus vídeos de stand-up.

“Quando me ligaram eu já pensei assim:  meu Deus, será que eu deixei de entregar alguma coisa ou será que a minha aula tá sei lá? Será que fizeram algum vídeo meu usando inteligência artificial? Que hoje em dia os caras estão conseguindo fazer umas maluquices dessa envolvendo voz e rosto  com inteligência artificial. Cara, a minha cabeça girou assim de forma que eu falei  vamos lá, né?”, relembrou.

Durante conversa que durou cerca de 15 minutos, Alex relata que a coordenadora deixou claro que o motivo de sua demissão era apenas por conta dos seus vídeos de stand-up. O professor diz ter caído no “tribunal do júri”, onde os pais dos alunos começaram a “cobrar um posicionamento do colégio”.

"Eles disseram com todas as letras não deixaram subentendido nada. ‘Professor, você está sendo desligado por conta da repercussão desses vídeos, de tudo, entendeu?’. Mas eu falei ‘gente eu tô com o microfone na mão. Olha ali um fundo é uma casa de comédia’, mas eles disseram ‘é professor, mas a sociedade não tá entendendo’”.

Um dos vídeos que causaram a demissão, o comediante falava da Bncc (Base Nacional Comum Curricular). “É uma coisa que atinge diretamente a minha profissão. Eu não poder falar disso é hilário. Uma coisa que é tão sensacional que está em tramitação de ser revogada pelo congresso, quer dizer, tá óbvio que merecia a piada né”, comentou.

Apesar dos shows de comédia serem realizados uma vez por semana, Alex conta que o stand-up é somente um hobbie que complementa a sua renda. Além do colégio privado de onde foi demitido, o professor trabalha em outras duas escolas, sendo uma pública e outra particular.

Indignado, o professor diz ter se espantado pelos pais e pela escola não terem separado a imagem de educador do comediante que aparece nos vídeos gravados fora da escola. Alex ainda conta que a demissão não foi registrada como justa causa, e com a pressa dele ser retirado do quadro de funcionários, ele não precisará cumprir o aviso prévio.

“Cheguei lá e eles falaram ‘olha vi nos seus vídeos aqui no Instagram, você fazendo piada que você fumava maconha no seu tempo de faculdade, que tal situação é isso, que não sei o quê, sexista aqui nesse caso aqui falando de mulher falando de homem… mas é comédia eu tenho eu tenho que contemplar vários assuntos. Eu não vou rezar uma cartilha, se eu rezar uma cartilha vira palestra e não comédia”, lamentou.

Alex ainda afirma que em nenhum momento patrocinou ou impulsionou os vídeos de seus shows. Apesar do ocorrido no colégio, o professor afirma que não teme que a mesma situação se repita em seus outros dois locais de trabalho.

“Eu ainda acredito, apesar de tomar esse bruta tapa no rosto, que as pessoas vão ter a clareza de falar ‘irmão, não tem nem lógica isso. O cara é comediante uma vez por semana lá no local que é específico disso’. Eu acredito que o bom senso deve reinar, deve dar suporte para as pessoas de verem que as duas atividades não têm ligação. É uma é um extra. Uma situação paralela”, finaliza.

O Campo Grande News entrou em contato com o Colégio Nova Geração e por telefone o gestor, identificado apenas como Tiago, relatou não ter conhecimento do acontecido. O contato também foi realizado por e-mail, mas não houve retorno.

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Fonte: Geniffer Valeriano / Campo Grande News