Apesar do ano de escândalos, pouco se ouve de política no rock autoral de MS
Rock, pop, samba, rap e sertanejo. Não importa o estilo, mas a música vem ao longo dos anos descrevendo e provocando sentimentos em quem faz e acompanha a produção. Nesse palco de informações e mudanças culturais, sociais e políticas, a pergunta que fica no ar é porque a nova geração procura explicações existencialistas e deixou de lado o embate cotidiano.
Percorrer as redes sociais e as rodinhas de conversa é encontrar com frequência uma indignação coletiva com a corrupção, independente de partidos. O rap tem se consolidado cada vez mais como uma voz que grita a periferia e os problemas, enquanto, quando precisam, quem curte o rock'n'roll precisa recorrer as vozes das décadas de 80 e afins para extravazar o que pensa.
Em busca de quem faz som autoral em Campo Grande, conversamos com alguns músicos da nova e antiga geração para descobrir como é o processo criativo e o porque da preferência por letras mais amenas no novo século.
O cantor e compositor Guga Borba, a frente do Naip e com uma carreia solo mais folk, acredita que os apontamentos do cotidiano continuam no rock'n'roll. “Podemos observar uma nova linguagem e referências culturais nas letras, sendo muito comum letras com duplo sentido e apontamentos do cotidiano. Acho que o romantismo acaba ficando embutido no rock contemporâneo, as vezes ligado também a sexualidade e aventuras passageiras, como também a uma certa apologia ao álcool e as drogas”, diz.
Que o rock é romântico desde sempre ninguém pode negar. Ao contrário que muitos podem imaginar as canções de grandes bandas nacionais e internacionais são cheias de referência a corações apaixonados. Para Guga, o lado comercial pode ter minado os outros temas, além do romantismo, das canções rock'n'roll. “A produção musical do rock no Brasil se tornou muito comercial, e retirou a arte e a poesia deixando em seu lugar apenas o entretenimento”, acredita.
O músico Yan Marcel, da banda de rock autoral Mallone, afirma que a discussão rende muito, mas que o artista sempre terá o direito de falar sobre o que quer.
“Para nós, as coisas fluem de uma maneira muito natural, até porque a gente acredita que não é só apontar o problema, só colocar o dedo na ferida não é o suficiente. A gente gosta de fazer parte da solução, não fica só dentro do problema. Nós temos o direito de falar sobre o que bem entender, o que tem vontade. A gente não acredita que nenhum artista seja obrigado a falar sobre o que acontece. Essa questão de que a arte precisa estar engajada, atrelada a uma questão social cabe muito argumento e muita discussão”, ressalta.
Já para os músicos da Codinome Winchester, o existencialismo também pode ser uma forma de falar sobre esses problemas. Com composições que questionam abertamente o capitalismo e consumo, o grupo propõe antes de mais nada a reflexão.
“Nós somos amigos de longa data, convivemos muito, trabalhamos juntos na banda e esse processo de composição sai dessas reuniões, durante ensaios. O termo existencial é bem utilizado para a questão desse contato com o universo, as músicas tentam mostrar isso, com as nossas vidas cotidianas, nós somos uma coisa só. A música fala sobre a televisão, o consumo, levanta esse questionamento”, frisa o guitarrista Luciano Armspronge, 22 anos.
O jovem músico confessa que o rock mais voltado para a questão política é uma grande influencia para a banda. “Ele é realmente necessário, mas nessas músicas o que surge é o indivíduo que questiona o que é verdade e o que é mentira. O questionamento interior para entender”, ressalta.
Percebendo que existe esse processo de indignação quase coletiva, Guga Borba idealizou um projeto ao lado do músico Leandro Perez que mistura música, cinema e corrupção. “Estou gravando um novo trabalho com o parceiro Leandro Perez, que levanta justamente esta questão política, que abrange os diversos sentimentos de nossa sociedade. A música junto com um pequeno documentário com depoimentos da população”, adianta o músico, afirmando que o trabalho deve sair em janeiro de 2016.
Fonte: Naiane Mesquita, do Campo Grande News
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