Morre aos 68 anos Dino Rocha, o maior sanfoneiro do Brasil

De acordo com a ex-mulher Ruth, além do diabetes, Dino tinha problemas respiratórios e pressão alta; o acordeonista estava na UTI e morreu às 19h de domingo
18/02/2019 07:07 Cultura / Lazer
Dino Rocha e sua sanfona (Foto: Alcides Neto/Arquivo Campo Grande News)
Dino Rocha e sua sanfona (Foto: Alcides Neto/Arquivo Campo Grande News)

Internado há 27 dias no Hospital Regional de Campo Grande, por complicações do diabetes, o sanfoneiro autodidata Dino Rocha morreu na noite desse domingo (17). A família não dava muitos detalhes sobre o estado de saúde do músico e disse ao Campo Grande News há dias atrás que depois que o artista deixasse o hospital ele daria uma coletiva de imprensa.

De acordo com a ex-mulher Ruth Haruko Ishikawa, além do diabetes, Dino tinha problemas respiratórios e pressão alta. O acordeonista estava na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e morreu às 19h de ontem.

Chorando muito ao telefone, Ruth disse apenas que o ex-marido partiu na hora dele. "Não sabemos a vontade de Deus, qual será o momento, a hora. Ele era muito querido, um grande músico, tinha um talento incrível".

A ex-mulher também fez breve relato sobre os últimos dias do músico. "Apareceu uma infecção no braço, estava inchado e vermelho, achamos que era uma picada de inseto e o levamos para o posto de saúde. Ele fez exames e ficou lá".

No dia seguinte, com os resultados dos testes, os médicos da unidade de saúde decidiram que ela precisava de vaga em hospital. Três dias depois, no dia 25 de janeiro, Dino teve uma parada cardiorrespiratória e foi levado para a ala vermelha do Hospital Regional, onde teve outra parada cardíaca.

Desde o dia 26, o artista estava entubado na UTI do hospital. A causa exata da morte ainda não foi esclarecida.

O velório começa ao meio-dia no cemitério Memorial Park, no bairro Universitário, e será aberto ao público. O sepultamento está marcado para às 9h desta terça-feira (19), no mesmo local.

Amigos - Pelas redes sociais, os compositores João Fígar e Guilherme Rondon fizeram homenagens. “Adeus querido amigo Dino Rocha. Voa como a gaivota pantaneira”, postou Fígar.

Rondon publicou: “Estou de luto, o Chalana de Prata está de luto, o chamamé está de luto, as sanfonas estão de luto, a nossa música está de luto, nosso Estado está de luto”.

O compositor chamou Dino de “gênio da música”. “Tenho maior orgulho de dizer que estivemos juntos nos palcos da vida nestes últimos 30 anos. Todas as honras serão poucas”.

Guilherme Rondon ainda prestou condolências à família. Dino deixa três filhos, dois netos e a ex-mulher, Ruth, que ficaram responsáveis pelos cuidados nos últimos dias do acordeonista, que chegou a ser aclamado como o maior do Brasil.

História - Dino Rocha nasceu no dia 23 de maio de 1951 em Juti (a 310 quilômetros de Campo Grande) e viveu a infância afastada da música, sem nunca ter tido aulas para aprender a instrumentos. Filho de mãe alemã e pai filho de gaúcho com argentina, Dino aprendeu as composições que ouvia em casa de ouvido e, além de instrumentista, era compositor era cantor.

A carreira começou cedo, quando aos 9 anos decidiu aprender a tocar acordeom. Aos 16 anos apresentou-se com seu primeiro grupo, “Los 5 Nativos”, de Ponta Porã. Em 1972, mudou-se para Campo Grande. Dois anos depois, gravou pela primeira vez no LP “Voltei amor”, da dupla Amambai e Amambaí. Quando chegou a Campo Grande, ainda usava o nome que consta na certidão de nascimento: Roaldo. O nome artístico foi dado pelo poeta Zacarias Mourão.

De acordo com a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, como compositor são mais de 50, entre as quais, “Gaivota pantaneira”, parceria com Mourão. Em 1991, recebeu o prêmio “Jacaré de Prata” como melhor instrumentista do Brasil. Atuou em três capítulos da novela “Pantanal”, da Rede Manchete ao lado de Almir Sater e Sérgio Reis, sucesso do começo dos anos de 1990, na extinta TV Manchete.

Dino viajou o País inteiro. Em 2000, foi convidado para participar do projeto “Balaio Brasil”, no Sesc de São Paulo apresentando-se ao lado de Dominguinhos, Caçulinha, Sivuca, Hermeto Pascoal e Toninho Ferragut. Também participou do projeto “Sanfona brasileira” pelo Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro, em São Paulo e Brasília. Apresentou-se no Sesc São Paulo em 2002 no projeto “Brasil da Sanfona”, quando representou a região Centro-Oeste.

O conjunto de obras de Dino Rocha é formado por mais de 30 discos (entre vinil e CDs). Ele também participou, como convidado, de vários trabalhos com outros artistas.

Em entrevista ao Lado B, em 2016, Dino contou que, mais novo de todos os dez irmãos, só descobriu o desejo de tocar sanfona no dia que um dos irmãos faleceu. Um acidente no quartel de Ponta Porã levou precocemente o sanfoneiro da família. O jeito foi homenagear quem partiu.

Nos últimos anos, fez parte da Chalana de Prata, na companhia de Paulo Simões, Guilherme Rondon e Celito Espíndola tocando grandes canções da história de Mato Grosso do Sul. Participou do FIB (Festival de Inverno de Bonito) em 2017 e de shows na Concha Acústica Helena Meireles, no Parque das Nações Indígenas.

Fonte: Anahi Zurutuza, Wendy Tonhati e Mirian Machado / Campo Grandes News

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