Com o primeiro diploma aos 74 anos, Emília começa nova graduação e sonha com outra
Nos corredores da Uems (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) a dona Emília é bastante conhecida. Enquanto nossa equipe de reportagem realizava “um bate-papo” para conhecer mais sobre a história da mulher que aos 74 anos concluiu o curso de Letras-Espanhol e já inicia neste mês no curso de Letras- Inglês e, ainda almeja fazer a terceira graduação várias pessoas passavam e a cumprimentavam e diziam “essa é um orgulho”.
Ela veio com a família para Dourados aos 19 anos e até então havia concluído até a quarta série.
Ela conta que naquela época, os pais dela achavam suficiente saber ler e escrever, fazer uns “bilhetinhos” e a própria assinatura e não a incentivavam a continuar os estudos, protótipo que Emília decidiu não seguir e em terras sul-mato-grossenses buscou concluir o ensino fundamental, já na sequência o ensino médio, contando com ações como o supletivo para dar andamento no processo.
Alguns anos depois, casada e com dois filhos, Emília optou por fazer bolos, pães, cucas e outros para contribuir com a renda da família e não conseguiu dar continuidade nos estudos.
As atividades no ramo alimentício tiveram sequência, principalmente quando ela passou pelo processo de separação do esposo e precisou equilibrar ainda mais as contas de casa.
Com os filhos “já crescidos” e já aposentada, a idosa cita que teve mais tempo para buscar os próprios objetivos, em 2015, Emília fez cursinho pré-vestibular da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) por um ano e logo de “primeira” passou para Letras Português na UFGD e Letras- Espanhol na UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), optando pelo segundo.
Ela relata que a jornada teve percalços, mas desistir não era uma opção.
Pegar o ônibus chegar à instituição, se antecipar mais que a turma pois a venda de quitutes continuava, pedir auxílio para os mais jovens principalmente para se adaptar mais as questões que envolviam tecnologia, se tornaram parte da rotina por muitos anos.
“Na busca de ser “um exemplo” e de conquistar seus sonhos, a idosa persistiu e destaca “fui seguindo passei em umas matérias fiquei em outras, chorei bastante, em Espanhol por exemplo, demorei três anos para passar, aí ‘sapateei’ , mas fui persistindo”.
Esse “exemplo” que ela segue buscando ser para o filho mais novo e para os cinco netos, após ter perdido o filho mais velho, que aos 46 anos faleceu devido ao covid, em 2.021.
Se engana quem pensou que após tantos desafios, dona Emília vai “jogar a toalha”. O estudo virou uma paixão e aprender línguas é um ‘objetivo de vida’, já que após isso, ela quer viajar o mundo e visitar as irmãs na Suíça e nos Estados Unidos da América.
“Tive o incentivo dos professores, dos alunos, fiz amizades também e no final acabei gostando muito da outra língua, tanto que aí me abriu a mente para seguir com o curso e agora começar no segundo ano de Inglês. Já me avisaram que é uma língua difícil, mas já avisei também que vou ficar e tentar”, destaca ao citar ainda que outro sonho após esse é o curso de Direito.
“Normalmente nosso público tem entre 18 e 30 anos e ela veio para dar uma equilibrada na turma com seu conhecimento de vida, sua paciência, sua visão de mundo, ela contribuiu muito para o crescimento dos alunos. Ás vezes tinha um aluno desesperado, por conta até de imaturidade e ela ia e acolhia e sempre apoiando e empenhada. Ah se nós tivéssemos várias’ ‘donas Emílias’”, disse Santos ao destacar que ficou muito feliz em saber que terá novamente a idosa como aluna, agora nas aulas do curso de Inglês.
Foto lateral 1- Dona Emília em colação de grau Letras Espanhol (Assessoria UEMS)
Foto fim da matéria- Dona Emília durante cerimônia de colação de grau (Assessoria UEMS)
Fonte: Gizele Almeida / Dourados News
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