Pró-reitora da UFGD fala sobre a importância de se formar uma cidade leitora

26/12/2013 15:55 Educação
Pró-reitora de Extensão e Cultura da UFGD, professora Célia Regina Delácio Fernandes (Foto: Divulgação).
Pró-reitora de Extensão e Cultura da UFGD, professora Célia Regina Delácio Fernandes (Foto: Divulgação).

Recentemente a UFGD foi cenário da segunda edição da Feira do Livro e da Leitura, organizada juntamente com o oitavo encontro do Programa Nacional de Incentivo à Leitura (ProLer) – Comitê Dourados. A atividade, que já integra o calendário cultural não apenas da instituição, mas do município, proporciona o incentivo à leitura e o acesso a livros a preços baixos, além da inserção da comunidade escolar com a universidade.

A pró-reitora de Extensão e Cultura, professora doutora Célia Regina Delácio Fernandes fala sobre o projeto, as novidades deste ano e as expectativas para próximas edições. Doutora em Letras, pela Unicamp, e coordenadora do ProLer – Comitê de Dourados, a docente enfatiza que ler é essencial na formação e na vida de todas as pessoas, pois além de ser uma prática social, a leitura dá margem à criação de novos mundos.

A UFGD realizou em novembro a segunda edição da Feira do Livro e da Leitura, evento que, apesar de recente, já integra o calendário de atividades culturais de Dourados. Qual é o objetivo da universidade com este projeto e sua relevância no cenário regional?

Como eu trabalho nesta área de formação de leitores, do ensino da literatura e de políticas públicas de leitura, quando assumi a PROEX, em setembro de 2011, no momento de fazer o plano de ação da pró-reitoria eu já tinha em mente a necessidade de realizarmos esta feira do livro. Um evento que não fosse apenas para vender livros e, sim, um fomento à leitura.

Na primeira edição, no ano passado, fizemos a feira junto com o ProLer, oferecendo minicursos de capacitação, e junto com a Coordenadoria de Cultura, oferecendo atividades culturais. Então, a ideia da feira é que a gente possa oferecer livros mais baratos, a preços populares, dando acesso a toda a comunidade de Dourados e região. É preciso compreender que só formamos leitores com o acesso aos livros. A ideia, também, é que essa feira desencadeie, a nível municipal, uma discussão sobre o Plano Municipal do Livro e da Leitura e possa contribuir na construção de uma cidade leitora.

Como a universidade vem aprimorando o desenvolvimento do evento? Quais as novidades nesta edição? E para os próximos anos?

Com relação ao ProLer, no ano passado tivemos em torno de 20 minicursos, todos na área de Letras, em Língua Inglesa ou Língua Portuguesa, Linguística Aplicada ou Literatura. Neste ano, com o tema “Ler o mundo”, inspirado na concepção de leitura do educador Paulo Freire, que não dissocia leitura de mundo e leitura da palavra, quisemos promover uma troca maior, trazendo outras áreas. Então, além da área da Letras, da qual faço parte, conversamos com o pessoal da Licenciatura Indígena, da Matemática, das Ciências Biológicas, da Agronomia, das Artes Cênicas, da Educação e tivemos a participação de vários professores e técnicos de outras áreas. Passamos de 20 para 34 minicursos.

Já com relação às outras programações culturais que compõem a feira, mantivemos as intervenções culturais e o show, realizados pela Coordenadoria de Cultura. A grande novidade foram as Cápsulas de Cultura, ou seja, fragmentos de obras literárias adaptadas para o teatro. Mas tivemos outras novidades como o cine-livro com debates antes e depois das apresentações e, desta vez, com filmes nacionais e um filme internacional, pois no ano passado foram apenas produções nacionais. No último ano também não tivemos lançamentos de livros, apenas bate-papo com autores, outra novidade desta edição, na qual foram realizados vários lançamentos.

E contamos, ainda, com a participação dos PIBIDs (Artes Cênicas e Filmatura), fomentando a inserção cultural. Sem falar da escritora convidada para a abertura, Raquel Naveira, que é de Mato Grosso do Sul, reconhecida nacionalmente, e que veio falar sobre a função social da literatura, especialmente da poesia. Com relação à exposição de livros, procuramos oferecer tipos de obras que agradassem a todos os públicos, ou seja, o cardápio foi bastante variado, para crianças, adolescentes e adultos, com diferentes autores, gêneros e editoras, com objetivo de seduzir o leitor. E recebemos a visitação de alunos de escolas públicas. O retorno da comunidade foi bastante positivo e isso nos dá a certeza de que estamos no rumo certo. Para o ano que vem estamos planejando realizar o evento no final do primeiro semestre ou no início do segundo.

O que é o Programa Nacional de Incentivo à Leitura (ProLer) e como sua representação em Dourados atua?

Existe o ProLer nacional, desde 1992, um programa governamental de incentivo à leitura no Brasil e ele tem vários comitês distribuídos no País inteiro, que fazem convênio com a Biblioteca Nacional, por meio do Ministério da Cultura. A PROEX fez o convênio via UFGD, no entanto, o ProLer - Comitê de Dourados já existia antes disso e realizou vários encontros, sendo que nesta edição da feira houve o oitavo encontro do programa.

Recursos financeiros oriundos do Ministério da Cultura são poucos, então o programa vive do trabalho de militância de cada comitê em prol da formação de leitores e isso proporciona a parceria com prefeituras e governos estaduais e patrocínios, porque o nome ProLer é conhecido em todo o Brasil. Aqui em Dourados temos um comitê instituído com pessoas tanto da UFGD como ex-alunos de graduação e pós-graduação, além de outros que querem contribuir com a causa da leitura. E além desse encontro nacional, o comitê procura conceder cursos de capacitação aos professores da rede pública, tudo de forma gratuita.

Qual é o panorama do incentivo à leitura na cidade de Dourados hoje? A universidade tem desenvolvido pesquisas sobre o tema e trabalhos paralelos à feira nas escolas?

O que tem sido feito todos os anos são os cursos de capacitação para os professores, porque o professor só vai conseguir formar leitores se ele mesmo o for. Leitura não é uma aptidão ou um dom. É uma aprendizagem. E tem que ser ensinada. Ler se aprende lendo. A maioria das pessoas que é grande leitora ou se formou como escritora teve algum incentivo, seja em casa, pela família, ou na escola, pois quando o professor gosta de ler e fala com entusiasmo e paixão, ele contagia seus alunos. Temos pesquisas que mostram que quando as pessoas passam por mediadores, com experiências positivas de leitura, elas acabam se tornando leitores com maior facilidade.

O escritor Carlos Drummond de Andrade, por exemplo, em sua história de leitura, foi submetido às práticas significativas de leitura desde a infância, pois o pai lia jornal, ele lia gravuras e a mãe o iniciou no alfabeto, tendo chegado à escola e recebido incentivo da professora com exercícios de redação, o que o estimulou. Ele é um dos maiores exemplos de uma pessoa de classe média que teve bons mediadores e acesso a materiais de leitura, ainda que no início do século XX.

Nessa perspectiva, é preciso formar bons mediadores para formarmos leitores e escritores. Sem dúvida, a UFGD tem contribuído bastante nessa área, mas a demanda da região de Dourados, assim como do Centro-Oeste, é imensa. A universidade sozinha não consegue dar conta de resolver o problema, seria preciso a formulação de uma política pública municipal para avançarmos na questão. O ProLer tem realizado cursos de capacitação fora da feira. Eu tenho organizado cursos com minhas orientandas pelo comitê desde 2008 e temos retorno de professores que escrevem e contam que têm colocado em prática o que aprenderam. O ideal seria acompanhar os professores que passaram pelo curso e dar continuidade a essas ações, mas por enquanto não temos essas condições.

Na sua experiência como educadora, o que os livros e a leitura podem fazer por crianças, jovens e adultos, tanto em fase de aprendizagem como em toda sua formação?

Formar leitor é uma necessidade do mudo contemporâneo, porque vivemos numa sociedade grafocêntrica e não há como ficar sem a leitura. Quem não sabe ler e escrever está à margem desta sociedade. Ler é uma prática social, pois temos que ler tudo, placas, rótulos, manuais, cartazes, ou seja, não dá para viver sem leitura hoje.

Porém, como educadora eu procuro incentivar a leitura literária, pois diferentemente dos outros gêneros de leitura, que têm sua importância no mundo e na vida, a leitura literária é aquela que envolve a imaginação. Você pode sair deste mundo racional e ir para o mundo do imaginário. Dentro de uma obra literária há uma pluralidade de significações e liberdade de entendimentos, cada pessoa lê no texto a sua experiência.

O leitor literário pode viver outras vidas, vários tempos, estar em vários locais, o que ele não consegue fazer na vida real. A literatura abre portas, torna o mundo e os seres compreensíveis e, por esses e outros motivos, deveria ser um direito de todos, pois é uma necessidade básica, assim como alimentação, saúde e moradia.

Precisamos da arte. E a literatura, como arte, possibilita a criação de outros mundos a partir da ficção, mundos possíveis. E muitas coisas reais foram criadas a partir de da invenção de escritores, da ficção. Para finalizar, gostaria de dizer que o direito à leitura é fundamental para a construção de uma sociedade justa e democrática. E convidar a todas e todos que queiram somar conosco para fazer de Dourados uma cidade leitora.

Fonte: UFGD

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