Professor indígena de Caarapó é o primeiro a tomar posse como concursado na UFGD

28/05/2015 09:32 Educação
Professor Eliel Benites. Reprodução / Caarapó News
Professor Eliel Benites. Reprodução / Caarapó News

Exemplo de vida, superação, perseverança, orgulho, são algumas das muitas palavras que mais combinam nesse momento com o indígena, Eliel Benites (34). É que o mesmo no último dia 26, tomou posse como professor do quadro efetivo da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

O representante da Aldeia Te´ýikue passou no concurso de professores na UFGD, ocorrido no primeiro semestre deste ano. Sendo assim o primeiro professor Guarani/Kaiowá a conseguir tamanha façanha.

De acordo com a professora Anari Nantes, o professor Eliel Benites, nasceu na Aldeia Te´ýikue e como toda criança indígena teve uma infância muito simples e cheia de desafios. Sendo que o primeiro enfrentado foi o de ser alfabetizado na Língua Portuguesa, quando tinha o guarani como língua materna. O segundo foi vir estudar na escola da cidade a partir da 5ª série, quando tinha que levantar todos os dias às 4h da manhã. No inverno e dias de chuva a situação ficava ainda pior.

“No ano de 1997, com o inicio da administração do prefeito Guaracy Boschigla, a educação de Caarapó tomou novos rumos. E na Aldeia Te´ýikue não foi diferente, pois a  professora Teresinha Batista, secretária de Educação na época, diante da triste estatística das escolas da aldeia fez um profundo diagnóstico para entender melhor as causas dos altos índices de reprovação e abandono escolar. Foi nesse momento que tomou conhecimento da Legislação Específica da Educação Escolar Indígena. A partir daquele ano, deu início ao processo de implantação da Educação Escolar Indígena, bilíngüe, específica, diferenciada, intercultural e comunitária, garantida  na legislação”, explicou Anari.

Anari disse ainda que o professor Eliel foi um dos professores indígenas que deu início a esse trabalho. “O mesmo sempre demonstrou firmeza e confiança na caminhada, sendo incansável na busca de conhecimento e no diálogo constante entre a sua comunidade, órgãos públicos e parceiros que foram sendo agregados ao longo do processo. Sua formação em serviço  permitiu-lhe desenvolver grande liderança, pois a necessidade de organizar os professores indígenas em torno de uma luta comum na região abriu espaço para muitos encontros, reuniões e espaços de estudos, debates, troca de experiências e reivindicações na busca de garantir direitos específicos a população indígena”, comentou.

Informações dão conta ainda que Eliel participou ativamente do Movimento dos Professores Guarani/Kaiowá do Estado, acompanhando e construindo a Proposta Pedagógica do Curso Normal em nível médio – Ára Verá. Foi um dos formandos da Primeira Turma em 2003 e a da Licenciatura Indígena – Teko Arandu, pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), em 2011.

“Como consequência dessa luta, teve inúmeras oportunidades de viajar para vários estados do Brasil e países vizinhos participando de seminários, simpósios, fóruns, colóquios, cursos e palestras. O mesmo aproveitou de tudo para ampliar seus conhecimentos, refletir sobre sua prática pedagógica e entender melhor a realidade do seu povo”, disse a professora Anari.

Em 2012 o professor Eliel como é chamado carinhosamente passou na seleção do mestrado na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), em Campo Grande, estando ainda concluindo a fase de pesquisa e elaboração de sua dissertação. “É bom frisar que Eliel acostumou ser sempre um dos primeiros em tudo que se propunha a fazer. Uma das grandes qualidades sua com certeza é a perseverança, fator preponderante que o fez   superar  gradativamente todas as dificuldades em sua vida”, alegou a professora.

Já o pai do professor Eliel, o seo  Agripino Benites, ao ser questionado sobre esse feito disse: “Estou muito emocionado com o resultado do esforço do meu filho... Ele sempre buscou o melhor para ele e para seu ovo... Sou grato por tantas pessoas que esteve ao seu lado incentivando e contribuindo com a sua formação”. Nesse momento citou vários nomes e como primeiro da lista o  do saudoso amigo professor Antonio Brand.

Para um grupo de professores indígenas e  colegas de Eliel, essa é uma vitória não só do Eliel, mas sim dos professores Guarani/Kaiowá de MS. “Em meio a tantos conflitos e massacres vividos por nós, povos indígenas aqui no Estado, isso é uma resposta a quem disse na imprensa que: “até a educação oferecida a esse povo é inferior, para manter dependentes e manipulados por organizações e políticos”. “Temos orgulho de ter em nosso grupo uma pessoa como o Eliel!  “Ele nos estimula a continuar nossos estudos e sonhar que através da educação podemos transformar a nossa vida e ajudar a melhorar a realidade do nosso povo”.

Conforme o  chefe do Departamento de Esportes e Lazer, Paulo Roberto de Souza, um dos colegas de escola do professor Eliel na época do Ensino Fundamental nas séries finais, o novo funcionário da UFGD está desfrutando do que tem plantado. “Recordo-me como se fosse hoje, o mesmo era muito  esforçado e  dedicado. Havia na oportunidade uma competição sadia entre alguns alunos, para ver quem tirava as melhores notas e o Eliel era um deles. Outro detalhe importante é que naquela época o ensino na aldeia era para séries iniciais e pronto. E o Eliel com uma visão de futuro pegava carona e vinha para a cidade para continuar seus estudos”, disse.

“Sinto-me orgulhoso de ter tido esse privilégio de estudar com uma pessoa que enfrentou inúmeros problemas, inclusive preconceitos, mas mesmo assim não baixou a cabeça, e prosseguiu sua caminhada. Quantos que da nossa época, às vezes concluíram apenas o fundamental, ou no máximo um curso superior. Mas o Eliel foi mais além e hoje desfruta de uma posição de destaque. Só nos resta parabenizá-lo e esperar que essa lição seja de exemplo, não apenas para a comunidade indígena, mas sim para os chamados brancos”, finalizou Paulo Roberto de Souza.

Eliel Benites é casado com Maria Celina Cepre e pai de 4 filhos.

Fonte: Caarapó News

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