Professor nascido em MS está na lista dos 10 melhores do mundo

Da perda da mãe à uma indicação internacional, a trajetória de um professor que mudou a história de um escola conhecida pela violência e tráfico de drogas
26/02/2018 09:52 Educação
(Foto: Daniel Martins/Secretaria de Educação-Rio Preto)
(Foto: Daniel Martins/Secretaria de Educação-Rio Preto)

Um dos 10 finalistas do Global Teacher Prize - premiação internacional considerada o Nobel da educação -, é de Mato Grosso do Sul. O educador Diego Mahfouz Faria Lima, de 30 anos, chega à final do prêmio depois de ser selecionado entre mais de 30 mil educadores, de 173 países. A indicação aconteceu depois que o professor transformou a história de uma escola antes conhecida pelo tráfico de drogas, violência e altos índices de evasão à uma referência internacional.

O sul-mato-grossense tem uma longa trajetória de busca pela inovação na educação e, foi justamente por causa desta preocupação, que em 2014 quando chegou à escola Darcy Ribeiro – mais conhecida pela Policia Militar do que pela comunidade -, aceitou o desafio e conseguiu projetar mudanças.

Este é o segundo ano seguido em que o Brasil tem um representante entre os dez melhores professores do mundo. Além de finalista no prêmio, ele também está entre os três concorrentes convidados a fazer uma palestra durante a cerimônia de premiação. O tema: perspectivas para a educação pública no Brasil para o ano de 2030, no dia 18 de março.

Saída de MS - Diante de tanta alegria é preciso conhecer a caminhada do educador que nasceu em Paranaíba (MS), a 406 km de Campo Grande, mas que se mudou para São José do Rio Preto em 2002, aos 15 anos, devido a luta da mãe contra um câncer. Viagens sofridas ao hospital de Barretos, desemprego do pai, fome e morte da genitora, só serviram para fortalecer e incentivar o desejo de mudança de vida.

Ao Campo Grande News, Diego relatou que a paixão pela educação, veio mesmo quando ele já morava em São José do Rio Preto. O primeiro passo para a mudança aconteceu quando uma turma de alunos divulgou a abertura de inscrições para o magistério. Empolgado com o incentivo de uma amiga, fez a inscrição passou na prova e começou a instrução.

“Fui fazer o magistério porque o atrativo, nesta época, era de que em contrapartida ganhava uma bolsa de um salário mínimo. Com meu pai desempregado eu precisava trabalhar”, relata.

Olhar para o futuro - A mãe de Diego não resistiu a doença e faleceu, quando ele estava no segundo ano de magistério. O estágio tinha acabado, mas o pai do educador já havia arrumado um emprego. Com medo de ficar sozinho em casa retornou à escola e pediu a diretora um estágio voluntário. “Eu comecei a ajudar uma professora a alfabetizar crianças, era muito gratificante ver uma criança aprendendo a ler e escrever e foi quando eu me apaixonei pela educação. Assim que eu terminei o estágio ingressei no curso de pedagogia”, disse.

Desde à época da faculdade, Diego já tinha o desejo de fazer algo impactante e inovador para a educação. “Eu sempre sonhei, mal sabia que no futuro eu viria para uma escola, aonde eu poderia dar uma contribuição tão grande e que transformaria a história e os índices de violência, assim como acontece hoje e ela se torna referência internacional”, disse.

O primeiro emprego de Diego foi como educador de um projeto integral no Parque da Cidadania. Logo depois surgiu o convite para ir à Escola Darcy Ribeiro. Uma escola que tinha uma mídia negativa. Em 2012, a unidade apresentava autos índices de evasão, repetência, tráfico de drogas presente dentro da escola, além de muitos requerimentos de ajuda da Polícia Militar.

“Assim que cheguei, me assustei com a baixa procura por matrícula no 6º ano, pois os pais tinham medo de matricular os filhos. A primeira ação para reverter o cenário da escola foi trazer a comunidade para perto. Elaborei um questionário, que indagava os desafios da escola no ano anterior e quais as expectativas para o próximo ano. Assim, mudamos as prioridades da escola”, explica.

O professor enumera cinco passos para a transformação dos alunos e escola:

- Mudando o olhar- Valorizando o diálogo na escola- Tornando a comunidade participante das ações- E tornar o alunos protagonistas de todas as ações, dando voz a eles.

“Os alunos reclamavam que a escola era feia. Então, eu solicitei para todas as escolas da cidade pedindo restos de materiais, eu buscava meia lata de tinta e todas as escolas se envolveram nas doações. Em princípio, estava eu e mais dois funcionários, quando vi tinha uma comunidade toda envolvida”, revelou.

Com a implantação dos projetos, outras fundações, como a Roberto Marinho, reconheceram os esforços e a escola ganhou o prêmio “Educador Nota Dez” e no mesmo ano Diego foi eleito “Educador do ano”. No ano seguinte, o educador recebeu uma ligação da Academia Brasileira de Educação e foi informado de que receberia o Oscar da Educação Brasileira, pois havia sido nomeado por todos os membros.

“Foi quando a nossa escola começou a ser vista. No ano passado fui indicado ao prêmio e, em princípio, primeiro fiquei entre os 50 e fiquei muito surpreso. Teve auditoria e comprovação dos dados, até que o grupo de Londres passou quatro dias na escolas fazendo as filmagens”, comentou.

Anúncio - Os finalistas foram anunciados no dia 14 de fevereiro pelo bilionário da tecnologia Bill Gates, um dos fundadores da Microsoft. A cerimônia de premiação será realizada no dia 18 de março, na cidade de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. O vencedor ganhará US$ 1 milhão, o equivalente a mais de R$ 3,2 milhões.

“Eu estava em casa e de repente comecei receber mensagens de amigos, pois estava tendo um pronunciamento do Bil Gates na página da fundação no Facebook. Quando abri ouvi ele falando meu nome. No início do mês um grupo de Londres veio até aqui (Rio Preto) para fazer filmagens, mas me disseram que era para uma série britânica e eu não desconfiei. No dia 9 de fevereiro dei uma entrevista via skipe e foi quando revelaram que eu era um dos finalistas e que teria de esperar o anúncio oficial, que ocorreu no dia 14”, emendou.

Planos - No ato da inscrição, Diego já havia sido questionado se parte do dinheiro seria investido na educação ou no social. “Eu disse que meu sonho era ter uma ONG, com cursos profissionalizantes para jovens, no horário contrário ao da escola, recebessem essa educação. Porque assim eles não ficariam na rua, e fora das ruas as portas para envolvimento com as drogas são fechadas”, finalizou.

Fonte: Danielle Valentim / Campo Grandes News

COMENTÁRIOS

Usando sua conta do Facebook para comentar, você estará sujeito aos termos de uso e politicas de privacidade do Facebook. Seu nome no Facebook, Foto e outras informações pessoais que você deixou como públicas, irão aparecer no seu comentário e poderão ser usadas nas plataformas do iFato.