Proposta de deputados muda carga horária e currículo do ensino médio
O último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) teve número recorde de inscrições, com mais de sete milhões de alunos.
A prova serve para classificar o aluno no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que possibilita a escolha de uma das 123 instituições de ensino superior que aderiram ao programa.
A prova é dividida por áreas de conhecimento: linguagem, matemática, ciências da natureza e ciências humanas.
Como forma de preparar o aluno do ensino médio para essa prova, a comissão especial criada na Câmara dos Deputados para debater a reformulação do ensino médio propôs que o ensino médio seja organizado por áreas de conhecimento e não mais por disciplinas, como acontece atualmente.
O relator da comissão especial, deputado Wilson Filho (PTB-PB), explicou porque a mudança foi proposta.
"Se muita gente já vê o Enem uma porta de entrada para a universidade, por que não colocar, para esses que acabam o ensino médio e pensam no Enem como a porta de entrada para o seu futuro, as mesmas diretrizes e o mesmo formato curricular que tem o Enem? É uma opção".
Tempo integral
A proposta apresentada também estabelece um prazo de cinco anos para que as escolas tenham pelo menos 50% de seus alunos no sistema de tempo integral.
Outra novidade apresentada pela comissão permite que no último ano do ensino médio os alunos possam optar por uma das áreas de conhecimento: linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas, ou, ainda, optar pela formação profissional.
O presidente da comissão especial, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), destacou que já no próximo ano alguns estados vão ampliar para cinco horas o tempo de aula do ensino médio.
Ele destacou que o principal ganho da proposta apresentada na comissão é tornar o aluno o protagonista da sua educação. "Ele vai definir o seu projeto de vida”.
Ao mesmo tempo, lembrou o deputado, o projeto “propõe o ensino médio multidisciplinar, que possa desenvolver habilidades não cognitivas e não meramente as habilidades cognitivas".
O Projeto de Lei 6840/13, originado do relatório aprovado pela comissão, ainda deve ser analisado por outra comissão especial que será criada para este fim. Depois de aprovado na comissão especial, a proposta segue para o Plenário da Câmara.
Excesso de disciplinas
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Luiz Cláudio Costa, considera que a proposta é um avanço, principalmente na mudança no modo como a grade curricular é organizada, e considera um grande desafio a ser enfrentado “o nosso modelo de ensino médio, da forma que ele é”.
Costa diz que “é preciso avaliar direitinho” a atual situação do ensino médio com muitas disciplinas: “O estudante sai do nono ano e de repente ele vai para 19 disciplinas no seu currículo, o tempo que ele tem para absorver... se é esse o caminho. Essa reflexão está sendo feita e o Brasil está enfrentando isso de frente".
A secretária de Educação do estado de Minas Gerais, Ana Lúcia Gazolla, entende que as universidades também precisam se ajustar à divisão das matérias por áreas de conhecimento, como é proposto no projeto em análise na Câmara, e não mais por disciplinas, como é atualmente.
A formação dos professores dificulta essa adaptação, diz a secretária, “porque é disciplinar. Então, quando a gente pensa em modelos por campos do conhecimento, interdisciplinares e com temas transversais, nós esbarramos na formação compartimentada dos professores”.
Por isso, ela lembra que o Congresso Nacional “precisará legislar para sinalizar para as universidades e entidades formadoras para os novos modelos de escola e de currículo que precisamos implementar".
Bolsa para ficar na escola
Para o presidente do Conselho Nacional de Juventude, Alessandro Melchior, a proposta apresentada resolve em parte os problemas.
Mas ele considera que “é preciso avançar ainda mais” para atender os 75% dos jovens que cursam o ensino médio e estão inseridos ou querem participar do mercado de trabalho para complementação da renda familiar ou para terem seu próprio dinheiro.
Melchior defende a adoção de uma bolsa de inatividade juvenil para que os adolescentes possam se dedicar ao ensino em tempo integral.
"Se você pegar as classes média e alta no Brasil, elas financiam seus jovens que continuam no ensino médio, depois vão para a universidade, para que possam entrar no mercado de trabalho com mais qualificação e com mais condições de disputa das melhores vagas.
No caso da juventude pobre, isso não é apresentado e aí pra gente o principal elemento que precisa ser resgatado é justamente o financiamento dessa inatividade juvenil que até agora não apareceu".
Fonte: Agência Câmara Notícias
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