Reordenamento no ensino estadual fecha quatro escolas em MS

Mudanças são provocadas por diversos fatores, entre eles a mudança na oferta do ensino fundamental por parte do estado
03/01/2019 13:02 Educação
Escola Estadual Zamenhof, uma das unidades que será fechada (Foto: Divulgação)
Escola Estadual Zamenhof, uma das unidades que será fechada (Foto: Divulgação)

O ensino estadual em Mato Grosso do Sul passa por mudanças, com ampliação do ensino integral e técnico e a reforma do ensino médio, que mudou a base curricular. O que tem tirado a tranquilidade de pais e comunidades escolares, ainda assim, é o encerramento de algumas escolas. Parte do que a secretaria chama de reordenamento, quatro unidades foram fechadas no estado, uma delas transferida de prédio.

As escolas fechadas são a Escola Estadual Zamenhoff e a Escola Estadual Otaviano Gonçalves de Silveira Júnior, em Campo Grande. Os alunos passam a frequentar escolas próximas, a exemplo dos alunos da Otaviano Gonçalves, que devem estudar na Escola Estadual Arlindo Gomes.

A secretária titular da SED (Secretaria Estadual de Educação) afirmou, em coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira (3), que os alunos dessas duas escolas vão podem escolher onde estudar, de acordo com a proximidade e possibilidade. “Ontem me ligou uma mãe e falei: ‘vocês têm prioridade, vocês podem escolher a escola que vocês quiserem’”, declarou.

Além das duas escolas em questão, ainda há o encerramento das atividades no prédio onde funcionava a Escola Estadual Riachuelo, transferida para o prédio da Escola Estadual Hércules Maymone. Além de Campo Grande, Camapuã também sofreu mudanças e a Escola Estadual Abadia Faustino Inácio também será fechada.

Porque fecham – A secretária elencou uma série de fatores para as mudanças. Entre eles explica, está o reordenamento do ensino fundamental e médio. Em cumprimento a lei federal, gradativamente, o estado deve oferecer apenas o ensino fundamental II e ensino médio. O fundamental I e o ensino infantil ficam a cargo do município. Maria Cecília citou uma necessidade de melhorar “o foco” das unidades escolares.

“Um dos fatores que pesam muito é uma escola não ter foco, tem escola que tem fundamental I, II e ensino médio, EJA, AJA, profissional, e eu acredito que a gente tendo um foco fica mais fácil. Inclusive no estado, se a gente puder ter escola só do 6º ao 9º e uma outra só do ensino médio, a faixa etária, a proposta metodológica são diferentes. Então quanto mais foco tiver, mais fácil é a formação continuada, mais fácil é lidar com a juventude, mas fácil é lidar com o vocabulário”.

Outras questão é o fim de escolas com poucos alunos. O exemplo, citou a secretaria, é a Zamenhof, que tinha 134 alunos, segundo a SED, e vai gerar uma economia de R$ 90 mil ao ano para o estado, já que o prédio era alugado.

Residencial pediu, escola fecha – Chama atenção, entre as mudanças, a decisão de fechar a Escola Estadual Otaviano Gonçalves. A secretária citou, durante coletiva, que o motivo foi o pedido do Residencial Flamingos, onde a escola funciona. A escola, um projeto que antes atendia famílias do residencial, passou a receber alunos de outros “locais”, o que teria incomodado moradores.

“E ontem nós tomamos uma decisão em cima de um pedido do Residencial Flamingo, que tem uma escola, desde que o residencial foi concluído tem uma creche e tem uma escola. Penso que na época era interessante para eles porque seus filhos estudavam. O residencial envelheceu, não tem mais as crianças de lá então pediram que a gente retirasse a escola, porque são alunos de outros lugares entrando nos seus condomínios. O prefeito Marquinhos já tirou a creche e nós temos a menos de cem metros uma escola que cabe todo mundo, escola Arlindo Andrade Gomes”, declarou.

Alunos do AJA – A mudança que provocou mais revolta foi a transferência da Escola Riachuelo para a Hércules Maymone. Considerada especial pela comunidade escolar, o encerramento das atividades no prédio levou alunos e professores até a Câmara Municipal para pedir ajuda. Um dos motivos é o medo da adaptação dos alunos do AJA (Avanço do Jovem na Aprendizagem), projeto que reúne alunos com vulnerabilidade social, a exemplo dos que cumpriram medidas socioeducativas, e estudantes que apresentam atraso escolar.

O prédio, explicou a secretária, será dividido de acordo com as faixas etárias e os alunos do AJA devem ocupar o terceiro andar da Hércules Maymone.

“Os professores do AJA são professores selecionados e continuarão sendo selecionados, eles não são efetivos. Se a gente faz a seleção e o professor não gosta do piercing, boné, de uma tatuagem, ele já não serve, ele tem que ser um professor que tenha a linguagem desse jovem que está fora do contexto. Então o material é especial, a direção é escolhida e o professor também é escolhido. E nós temos psicólogo e assistente social que vão atrás do menino que está faltando. Então não vai ter os professores iguais do restante da turma do Hércules Maymone. Não posso garantir que quem estava lá [professores antigos] vai permanecer”, afirmou.

Quando realizou a mudança, a secretaria afirmou que o motivo era a mobilidade dos alunos, que não contavam com linhas de ônibus para irem até a Escola Riachuelo. Agora, os alunos vão estudar em frente ao terminal Hércules Maymone, mas os pedidos feitos pela secretária para ampliar as linhas de ônibus, declarou, não foram concedidos.

Pais reclamaram – A “revolta” dos pais, afirmou a secretária, não ocorreu por falta de diálogo. Segundo ela, os diretores foram comunicados e ficaram responsáveis por conversar com os pais. “A escola tem um chefe, que é o diretor. Então eles receberam os pais. A gente tem que ter uma certa clareza de que 5 ou 6 pessoas podem fazer um movimento muito grande”.

“Eu não posso admitir que uma família, de 200, 300 alunos percam tempo integral que está maravilhoso, abandono é quase zero, aprovação é muito boa, porque dois, três, quatro professores não querem mudar sua comodidade. Então nem sempre o movimento é da família e do aluno”, declarou a secretária.

Reforma do ensino médio e baixo índice de conclusão – Outro assunto abordado, foi a reforma do ensino médio, que entre outras mudanças, vai ampliar as horas de estudo, de 2400 para 3 mil. Parte dessa carga horária será ministrada por meio de um currículo básico e a outra parte na forma de “itinerários específicos”, que dependem de escolhas dos alunos de acordo com a aptidão.

 

A mudança, afirmou a secretária, deve ajudar o estado a deixar o ranking de pior índice de conclusão do ensino médio do centro-oeste.

"Tenho certeza que o novo ensino médio, que algumas escolas estão ousando fazer o novo itinerário, vai acabar também com isso. Serão as 1800 horas da base comum aí se você está ligado à áreas de exatas, você vai fazer uma optativa que tenha exatas porque o foco vai ser fazer engenharia, ele não precisa estudar tudo aquilo que não tem interesse", disse.

Além disso a secretária citou a mudança no regime de progressão como motivo para que o estado deixe de ocupar o ranking.

“O menino reprova às vezes em geografia no ensino médio e tem que fazer 13 disciplinas novamente por conta da geografia, discutimos bem isso, vi como outros estados faziam, só nós que não fazíamos, então fizemos regime de progressão parcial, se ele ficar em duas disciplinas ele passa pro ano seguinte e faz as outras duas, foi isso que deu um número ruim para Mato Grosso do Sul. O estado não tinha esse regime apesar de estar na lei desde 1997”.

Fonte: Izabela Sanchez / Campo Grandes News

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