Atleta medalhista na Rio 2016 decidi por eutanásia devido a dores insuportáveis

10/09/2016 16:47 Esporte
Rainha da Bélgica, Astrid posa ao lado de Marieke Vervoort, prata nos 400m T52 (Foto: Reuters)
Rainha da Bélgica, Astrid posa ao lado de Marieke Vervoort, prata nos 400m T52 (Foto: Reuters)

Marieke Vervoort mal completou 37 anos, mas, cansada das dores insuportáveis, optou por uma medida drástica: a eutanásia. Medalhista de prata nos 400m T52 da Rio 2016, a belga assinou o termo em 2008 que autoriza o médico a aplicar uma injeção letal e dar fim ao drama. Ela sofre de doença degenerativa que paralisa as suas pernas, provoca desmaios e não a deixa dormir por mais de 10 minutos. O momento para pôr fim à sua vida, no entanto, ainda não foi definido. Vervoot, detentora do recorde mundial para os 400m, 800m, 1.500m e 5.000m, foi ouro nos 100m e prata nos 200m em Londres 2012 e faz a sua despedida em Paralimpíadas. A cadeirante ainda irá brigar por uma medalha nos 100m, no próximo dia 17.

- Vivo há anos com muita, muita dor, e é cada vez mais difícil. Por exemplo, no dia da cerimônia de abertura só dormi uma hora - disse Marieke, que passou a usar a cadeira de rodas aos 20 anos.

- Não sei ainda quando será. Vamos ver. Eu tomei esta decisão há muito tempo. Um jornalista publicou em um jornal que eu iria me matar logo depois do Rio de forma equivocada. Isto ganhou uma grande proporção. Eu ainda quero fazer algumas loucuras e aproveitar para curtir a minha família e os meus amigos, algo que não pude fazer enquanto estava treinando - completou.

O sorriso e o espírito leve nas pistas contrastam com o sofrimento que vive na escuridão, longe dos holofotes. No funeral, ela quer que todos fiquem alegres, com direitos a muitas taças de champagne. Ao contrário do Brasil, na Bélgica, a eutanásia é permitida pela lei desde setembro de 2008, desde que haja a aprovação de um médico. No ano passado, mais de 2 mil casos foram declarados no país. A lei foi revista em 2014 e agora permite que menores de idade acometidos de doenças incuráveis e "em capacidade de discernimento" possam escolher a eutanásia. A Bélgica é o único país a autorizar este ato sem limite de idade.

Vevoort preferiu assinar a papelada, contudo, prefere não estipular uma data. Por enquanto, está focada nos Jogos e depois quer aproveitar para conhecer o Rio lado da família e de amigos.

- Sou a favor da eutanásia. Eu assinei os papéis em 2008 porque tenho muita dor e não quero viver com dor. Quero viver, mas bem. Após o Rio não vou pedir a eutanásia, vivo dia a dia, e quando não aguentar mais farei. A cada ano, é mais difícil suportar esta situação porque tenho muita dor - admitiu a belga, que também competiu no triatlo e deu os primeiros passos no esporte na natação, no jiu-jítsu e no ciclismo.

Marieke precisou a aprender a lidar com a dor ainda adolescente. Aos 14 anos, sofreu uma inflamação no pé, que passou para os joelhos. Aos 20, já em uma cadeira de rodas, abandonou os estudos e se submeteu a diversas cirurgias na tentativa de reverter o problema, sem sucesso. A doença degenerativa e incurável, os remédios fortes e as constantes idas a hospitais em busca de tratamento fazem das tristezas maiores do que as alegrias nas pistas. 

A carreira da belga no atletismo é marcada por láureas. Além das duas medalhas nos Jogos de Londres 2012, nos 100m e nos 200m, a atleta subiu ao topo do pódio três vezes no Mundial de Doha, no Catar, no ano passado (100m, 200m, 400m). Marieke confirmou a aposentadoria após o Rio de Janeiro e confia em mais uma conquista, embora aposte em um equilíbrio de forças.

- Existe a possibilidade de medalha, mas será difícil porque a concorrência é muito forte. Estou treinando duro, lutando dia e noite contra minha doença. Espero terminar minha carreira no pódio.

Vervoort passa longas temporadas treinando em Lanzarote, ilha no arquipélago espanhol das Canárias, rodeada por vulcões e grandes crateras. É ali, onde o mar se encontra com os rios lava, que ela quer deixar suas cinzas. Um lugar que lhe traz paz. Fim das dores.

 

Fonte: Cahê Mota e Carol Fontes, do G1

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