EUA indicam que Marin dividiu propina com Del Nero e Teixeira
As investigações do Departamento de Justiça dos EUA sobre a corrupção no futebol indicam que José Maria Marin, ex-presidente da CBF, dividiu propinas recebidas pela exploração comercial da Copa do Brasil com Ricardo Teixeira (também ex) e Marco Polo Del Nero (atual presidente da CBF).
Em reunião no ano passado com o presidente da Traffic, J. Hawilla, Marin, então presidente da CBF, sugeriu que a propina que vinha sendo compartilhada com o antecessor, Ricardo Teixeira, deveria ser paga apenas a ele e a Del Nero, segundo a investigação norte-americana.
A conversa teria ocorrido em abril do ano passado, durante viagem de Marin a Miami (EUA). O assunto era o pagamento de propinas para ele e para o "coconspirador 12" (menção a um integrante do esquema), referente à Copa do Brasil, cujos direitos comerciais eram cedidos à Traffic. Esse esquema existiria desde 1990.
"Em determinado momento, quando o coconspirador 2 [Hawilla] perguntou se era realmente necessário continuar pagando propinas para seu antecessor na presidência da CBF, Marin disse: 'Está na hora de vir na nossa direção. Verdade ou não?'.
O coconspirador 2 concordou dizendo: "Claro, claro, claro. Esse dinheiro tinha de ser dado a você [ou vocês]'. Marin concordou: "É isso".
Antes desta reunião, porém, a investigação dos EUA aponta que Hawilla concordou em dividir a propina entre Marin e os coconspiradores 11 e 12.
Segundo a Justiça americana, neste processo, tanto o coconspirador 11 quanto o 12 são descritos como altos executivos da CBF, da Conmebol e da Fifa. Só Teixeira e Del Nero se encaixam no perfil.
O termo "coconspirador" é usado nos textos do Departamento de Estado para pessoas não acusadas formalmente ou para preservar a origem de informações.
Procurada pela Folha, a CBF informou que tinha conhecimento do teor da acusação, mas que não se pronunciaria sobre o assunto.
No início do esquema, em 1990, a propina era paga a Teixeira, que aparece na acusação como "coconspirador 11". A partir de 2012, Marin e Del Nero assumem respectivamente a presidência e a vice-presidência da CBF e passam a exigir parte da propina, sempre de acordo com a investigação dos EUA.
A peça acusatória afirma que, desde 2012, o valor da propina seria de R$ 2 milhões por ano até 2022, dividida entre os três cartolas. O custo do suborno seria arcado em partes iguais pela Traffic e a Klefer, do ex-presidente do Flamengo Kleber Leite, empresa que passou a compartilhar os direitos da Copa do Brasil.
O Departamento de Justiça não informou o valor pago entre 1990 e 2012, mas identificou duas transferências bancárias feitas a partir dos Estados Unidos em 2013.
A primeira, de US$ 500 mil, foi feita pela Klefer (identificada como companhia de marketing esportivo B) para a conta em Londres de um fabricante de iates de luxo.
A segunda transferência (US$ 450 mil), feita alguns dias depois, saiu de conta da Traffic em Miami para conta da Klefer em Nova York.
Na tarde desta quarta (27), a PF realizou operação na sede da Klefer, no Rio. Procurada por telefone, funcionária da Klefer disse que empresa não comentaria o episódio.
Fonte: Folha
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