Mina de ouro para empresários? Jornal comprova que CBF "vendeu" a Seleção Brasileira

16/05/2015 20:43 Esporte
Seleção Brasileira de Futebol seria Seleção de Empresários?. Divulgação
Seleção Brasileira de Futebol seria Seleção de Empresários?. Divulgação

De acordo com documentos divulgados pelo jornal Estado de São Paulo neste sábado, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) teria feito contrato secreto, em que aceita exigências incomuns de empresários para a Seleção Brasileira. Os acordos estabelecem que a lista de jogadores convocados precisa atender a critérios estabelecidos pelos parceiros comerciais e qualquer substituição precisa ser realizada em "mútuo acordo".

A questão seria a seguinte: "Cada jogador que substituir um 'titular' precisa ter o mesmo 'valor de marketing' do substituído". O material a que a publicação teve acesso revela como a CBF vendeu o time nacional em troca de milhões de dólares em comissões a agentes e cartolas.

A mina de ouro que a CBF possui, chamada de Seleção, é usada como bem entendem seus mandatários. Desde 2006, a entidade mantém contrato com a companhia ISE para a realização dos amistosos do selecionado. O problema é que a esta é uma empresa de fachada.

O acordo foi mantido em sigilo por quase dez anos, mas documentos revelam que a ISE não possui escritório e tampouco funcionários. Além disso, tem sede nas Ilhas Cayman e é uma subsidiária do grupo Dallah Al Baraka, um dos maiores conglomerados do Oriente Médio, com 38 mil funcionários pelo mundo.

Ricardo Teixeira renovou contrato
O ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, em 2011, renovou o referido contrato por dez anos. Entre 2006 e 2012, a ISE sublicenciou a Kentaro como responsável. Em 2012, o contrato passou para as mãos da Pitch International, depois de uma negociação com a ISE e a CBF. Desde 2011, no acordo oficializado pelo ex-mandatário, é claro o esquema para explorar a marca da seleção, de qualquer forma possível.

"A CBF garantirá e assegurará que os jogadores do Time A que estão jogando nas competições oficiais participarão em qualquer e toda partida", diz o artigo 9.1 do contrato.
"Se acaso os jogadores de qualquer partida não são os do Time A, a taxa de comparecimento prevista nesse acordo será reduzida em 50%", estipula o documento. Por jogo, a CBF lucra US$ 1,05 milhão (R$ 3,14 milhões).

Em caso de corte, por contusão, por exemplo, a CBF precisa provar com um certificado médico aos empresários da ISE que o atleta está macucado: "Qualquer alteração à lista será comunicada por escrito à ISE e confirmada por mútuo acordo. Nesse caso, a CBF fará o possível para substituir com novos jogadores de nível similar, com relação a valor de marketing, habilidades técnicas, reputação''

O contrato secreto ainda prevê que a preparação da Seleção para as Copas de 2018 e 2022 também será de exploração exclusiva da ISE. Por fim, o documento atesta: "Todos os termos e condições deste acordo serão tratados pelas partes como informações confidenciais e nenhuma das partes os divulgará".

Del Nero e Marin sabiam e tentaram negociar novo contrato
E-mails confidenciais obtidos pela mesma publicação revelam que Marin e Del Nero, o atual presidente da CBF, estavam negociando um novo contrato, com valores superiores ao assinado por Teixeira. O lucro seria a única preoupação dos cartolas da CBF.

Porém, Teixeira, no dia 19 de maio de 2012, entrou no negócio, viajou até a Alemanha para um encontro com Marin e Del Nero. Ambos estavam em Munique para a final da Champions League vencida pelo Chelsea. Após muitas negociações, o novo acordo, com a empresa Kentaro, foi deixado de lado. O esquema montado por Teixeira foi mantido, até 2022.

O CEO da Kentaro, Phillip Grothe, alguns dias depois enviou e-mail em que dizia: "O acordo foi assinado no dia 15 de agosto. Vinte e quatro horas antes, Marin e Marco Polo nunca tinham ouvido falar de Pitch. Nós todos sabemos que a Pitch é apenas a testa de ferro da Al Jazeera. Eu acho que eles pagaram 50 milhões de dólares à ISE e aos outros pela assinatura - totalmente loucos".

Contato com funcionário "fantasma"
O atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, falou recentemente sobre o contrato, ao Estadão: “O contrato, na medida do possível, a gente faz para cumprir. Nós chegamos já tinha esse contrato, temos de cumprir. Eu não chego a dizer que esse contrato é tão ruim. Porque quando a gente jogava aqui no Brasil não chegava a tirar esse valor (US$ 1,05 milhão). Hoje quanto é isso? R$ 3 milhões é pouco? Se analisar, hoje o contrato é bom".

“Há jogos que dão prejuízos. O amistoso em Porto Alegre (contra Honduras, em 10 de junho) não vai ter lucro. Vai dar o quê? R$ 4 milhões? Fora do Brasil os amistosos que rendem bem é o momento de lucro deles. Eles perdem dinheiro, ganham dinheiro. Perdem e ganham. Mas a CBF não corre risco nenhum", acrescentou ele.

Del Nero afirmou que os contratos com a ISE foram feitos anteriormente e que não conhece os integrantes da empresa. Revelou ter sido apresentado a um executivo, mas que seu contato era com um funcionário, com quem tratava sobre “uma série de fatores’’. “Mas fui informado que esse funcionário está saindo da empresa", concluiu ele.

 

Fonte: Goal Brazil

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