No sufoco e de virada, Brasil vence com brilho de Neymar

13/06/2014 00:15 Esporte
Jogadores do Brasil comemoram a vitória sobre a Croácia no jogo de estreia da Copa do Mundo, no Itaquerão em São Paulo.. Ivan Pacheco/VEJA.com
Jogadores do Brasil comemoram a vitória sobre a Croácia no jogo de estreia da Copa do Mundo, no Itaquerão em São Paulo.. Ivan Pacheco/VEJA.com

Foi no sufoco, de virada, com muito nervosismo e com uma ajudinha da arbitragem, mas o Brasil abriu a vigésima edição da Copa do Mundo, nesta quinta-feira, derrotando a Croácia, no Itaquerão, em São Paulo: 3 a 1, gols de Neymar, duas vezes, e Oscar, já no finzinho. Marcelo abriu o placar marcando contra, no início de jogo. Com a vitória, a equipe de Luiz Felipe Scolari sai na frente na classificação do Grupo A e dá o primeiro passo rumo ao seu sexto título mundial. O próximo desafio é contra o México, no Castelão, em Fortaleza, na terça-feira. Até lá, Felipão ainda terá de corrigir as falhas que tornaram a partida inaugural tão difícil – algo já esperado, diga-se, tanto pelo adversário, que conta com bons jogadores, como Modric e Olic, como pelo retrospecto (nas últimas Copas, o Brasil sempre venceu de forma apertada na estreia). Não foi só a seleção que ficou abaixo do esperado: a festa de abertura, com uma cerimônia bastante pobre e fria, teve repercussão negativa no estádio e ao redor do mundo. A presidente Dilma Rousseff, que foi ao Itaquerão, também não teve uma boa tarde: em três ocasiões diferentes, foi xingada em coro pelo público, mesmo não tendo discursado nem sido anunciada pelos alto-falantes.

Início tenso

Sentindo o peso da estreia e do favoritismo, o Brasil teve um início hesitante no jogo, mostrando certo nervosismo em alguns lances. Os croatas, enquanto isso, aproveitavam o fato de jogarem sem nenhum peso sobre os ombros: tentavam controlar o jogo e não se contentavam em apenas defender. O primeiro susto para os brasileiros veio aos 6 minutos, quando o ótimo Modric disparou pelo meio e conseguiu alçar a bola para Olic concluir com extremo perigo – a bola saiu pelo lado direito do goleiro Júlio César. Aos 10 minutos, o primeiro gol da vigésima Copa do Mundo foi marcado por um brasileiro – mas contra sua própria meta. Depois de um cruzamento rasteiro do experiente Olic pela direita, a bola passou por David Luiz e acabou sendo desviada por Marcelo, que tentou cortar e empurrou para as redes. A torcida, que até então apoiava com gritos esporádicos, reforçou seu incentivo à equipe, com gritos de “Brasil”. Quatro minutos depois, com boa parte do público jogando junto, Oscar cruzou da direita, mas Neymar e Fred não alcançaram. O camisa 11, que havia sido muito criticado nos dois amistosos de preparação, fazia boas jogadas pelo lado do campo e aparecia como melhor opção ofensiva do time.

O Brasil seguia tentando igualar o placar: aos 20, Paulinho, uma das melhores alternativas de Felipão para jogos em que o adversário se fecha na defesa, se infiltrou na área e chutou com perigo; o goleiro Pletikosa fez boa intervenção. No minuto seguinte, Neymar disparou pela direita, foi ao fundo e cruzou. A zaga rebateu e, no rebote, Oscar chutou com efeito, exigindo uma incrível defesa de Pletikosa. Explorando a ansiedade dos brasileiros, a Croácia começou a tentar ganhar tempo, demorando a cobrar suas bolas paradas e esfriando o jogo depois de cada falta. O time da casa sentia a pressão e errava muitos passes. Aos 26 minutos, Neymar golpeou a cabeça de Modric numa dividida pelo alto e levou o cartão amarelo do árbitro Yuichi Nishimura – o mesmo que expulsou Felipe Melo na eliminação do Brasil diante da Holanda, no último Mundial. Aos 28, outro cruzamento perigoso dos croatas e outra cabeçada perigosa, desta vez de Jelavic, o substituto do artilherio Mandzukic, suspenso. Júlio César subiu bem e agarrou.

Logo em seguida, a estrela maior do Brasil enfim começava a brilhar na Copa: Neymar recebeu na intermediária, ajeitou e bateu de perna esquerda, cruzado, meio mascado, mas com a direção exata: a bola bateu mansamente na trave esquerda de Pletikosa e entrou. O Itaquerão enfim se transformava num caldeirão para os donos da casa. Empurrados pelo público, os comandados de Felipão logo partiram em busca do segundo, mas a Croácia, uma equipe experiente e bem postada em campo, sabia conter o ímpeto dos favoritos. A seleção europeia procurava trocar muitos passes e manter a posse de bola. O Brasil preferia não esperar: quando recuperava a bola, tentava agredir rapidamente, em investidas de Hulk e Oscar pelos lados e arrancadas de Neymar pela faixa central. Aos 44, Neymar aproveitou uma bobeira de Olic, roubou a bola e invadiu a área, mas não conseguiu achar uma brecha para o arremate. A bola sobrou para Hulk, que chutou forte, mas muito alto. O Brasil encerrava a primeira etapa aparentemente recuperado do baque de ter saído em desvantagem no marcador. A Croácia, contudo, dava sinais claros de que venderia muito caro a derrota.

Virada

A segunda etapa começou com a Croácia mais recolhida em seu campo defensivo, tentando segurar o Brasil nos minutos iniciais para só depois especular algum contra-ataque. Diante de um oponente fechado e muito competitivo, o time de Felipão sofria para encontrar um caminho até o gol. Os erros de passes continuavam e levavam Scolari ao desespero na beira do campo. Tentando melhorar a qualidade dos passes, Felipão trocou Paulinho por Hernanes. A Croácia, por sua vez, aumentava seu domínio da bola e saía aos poucos ao ataque. Numa roubada de bola de Neymar, aos 20 minutos, o craque quase conseguiu deixar Fred na cara do gol, mas foi derrubado por Corluka. Daniel Alves bateu a falta da entrada da área mas chutou sobre o gol. Felipão trocou Hulk por Bernard, o caçula do grupo. Logo em seguida, Fred, que estava sumido no jogo, fez o pivô, tentou girar para bater, recebeu um leve puxão no ombro e desabou, cavando um pênalti mais que providencial. Neymar bateu e, aos 25, virou o jogo para o Brasil. Pletikosa chegou a espalmar, mas não impediu que a bola entrasse. Até o fim do jogo, a Croácia brigou muito e ameaçou várias vezes a meta brasileira, mas o último gol do jogo foi de Oscar, que arrancou em velocidade, já nos acréscimos, para selar a vitória.

Falhas e xingamentos

Nos instantes que antecederam o jogo, a Fifa voltou a dar uma forcinha a Felipão: repetindo o protocolo das partidas da Copa das Confederações, no ano passado, a organização só tocou a primeira parte do Hino Nacional, dando a deixa para que os torcedores cantassem os demais trechos a plenos pulmões, incendiando a equipe da casa. Antes do pontapé inicial, o trio de arbitragem reuniu os jogadores de Brasil e Croácia ao redor do círculo central para uma cerimônia simbólica pedindo “paz, tolerância e respeito aos direitos humanos”, em nome da Fifa e da ONU (o secretário-geral Ban Ki-moon estava na tribuna de honra ao lado da presidente Dilma Rousseff). Com três pombas  brancas soltas a partir do centro do campo, a Fifa declarava aberta a Copa do Mundo. Normalmente, a tarefa cabe ao chefe de Estado do país-sede, mas o temor de que a vaia ouvida na abertura da Copa das Confederações se repetisse afastou Dilma tanto do microfone como do campo de visão do público. Não adiantou: pela segunda vez na tarde desta quinta, a presidente era alvo de um xingamento obsceno em coro (ela já havia sido xingada logo depois da cerimônia de abertura).

Não foi a única dor de cabeça das autoridades brasileiras: logo no primeiro minuto, parte da iluminação se apagou. Em um quarto da fila de refletores que contorna a cobertura do Itaquerão, as luzes ficaram apagadas por cerca de sete minutos. Passados outros sete minutos, em que os refletores lentamente começaram a se acender, novo apagão nos mesmos lugares do topo do estádio. Como ainda estava claro, não houve qualquer interrupção na partida – e quando anoiteceu, a iluminação não voltou a falhar, para alívio dos organizadores. Para as cerca de 62.000 pessoas presentes ao jogo inaugural da Copa, a abertura transcorreu com pequenos problemas, mas sem falhas capazes de comprometer a realização da partida. Muitos torcedores reclamaram das filas longas demais nos bares e restaurantes, da falta de comida em alguns pontos de venda perto do início do jogo e da falta de informações precisas para conseguir encontrar seu assento no estádio. Assim como a falha na iluminação, são defeitos que poderiam ter sido corrigidos caso o Itaquerão tivesse sido testado adequadamente nos meses que antecederam o Mundial. Entregue em cima da hora, o estádio acabou sendo palco de uma abertura ao modo brasileiro.

Fonte: Giancarlo Lepiani para a Veja

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