Origem humilde, preconceito e luta: o salto de Angelo rumo ao topo do pódio
Moradora até hoje do humilde bairro de AE Carvalho, no extremo da Zona Leste de São Paulo, dona Magali bem que sonhava, mas era muito distante imaginar há dez anos que aquele garotinho magrinho que ela carregava diariamente no colo em um ônibus público lotado um dia seria responsável por vencer um bicampeão mundial, conquistar uma medalha de ouro de Copa do Mundo de São Paulo e fazer a torcida brasileira ir à loucura, neste sábado, no Ibirapuera, o mais famoso ginásio da cidade onde ele nasceu.
Essa é uma passagem importante da história de Angelo Assumpção, de 18 anos, que ao subir no alto do pódio no salto, desbancando o astro brasileiro Diego Hypolito, apareceu para o grande público e ratificou a sua condição de grande promessa da ginástica masculina brasileira. De quebra, o jovem deu um pontapé nos preconceituosos que o apontavam o dedo por ele ser um homem negro que escolheu ser ginasta.
- Eram duas horas de ônibus cheio para ir e mais duas horas para voltar, de segunda a sábado, da nossa casa até o Clube Pinheiros, onde o Angelo passou em uma peneira e foi treinar como militante, em 2005. Ele era pequeninho e ia dormindo no meu colo no trajeto. Nós já passamos dificuldades com alimentação, condução e preconceito por ele ser negro e ser um homem que faz ginástica. Nós sofremos muito, mas eu nunca desisti. É muita emoção ver meu filho ganhando uma medalha de ouro aqui em São Paulo - afirmou Magali Dias de Assumpção, que chorou ao ouvir o Hino Nacional que Angelo fez tocar no Ibirapuera.
Carregando no peito a sua histórica primeira medalha – e já dourada – em uma etapa de Copa do Mundo, Angelo fez questão de valorizar todo o esforço da sua mãe ao longo da sua ainda breve carreira.
- Eu comecei a treinar com sete para oito anos de idade. Eram duas horas de ônibus para ir e duas horas para voltar, achava muito cansativo, mas a minha mãe estava sempre ao meu lado. Conquistar essa medalha de ouro de Copa do Mundo é ver que tudo que minha mãe fez por mim valeu a pena. Agora que estou na seleção e posso treinar mais tranquilo, está sendo bem mais fácil. Mas não posso esquecer tudo que vivi e o que a minha mãe fez para me ajudar a vida toda - disse o jovem, que ainda vai disputar a final do solo, neste domingo.
Angelo Assumpção executa o salto que lhe rendeu o ouro na Copa do Mundo (Foto: Ricardo Bufolin/CBG)
Angelo ainda vive com a família na Zona Leste paulista, mas desde o mês passado ele está concentrado com a seleção brasileira no novo CT da Barra, no Rio de Janeiro, e ficará por lá até o Mundial de Glasgow, na Escócia, em outubro. A distância já faz a progenitora sentir bastante saudade do rebento, o mais velho dos seus dois filhos. Mas ela sabe que essa é uma etapa fundamental para que o garoto realize o sonho de disputar as Olimpíadas do Rio, no ano que vem. Para isso, ele precisa antes assegurar vaga no Mundial desta temporada.
- A saudade já está grande. Sempre fomos muito próximos. Mas esse tempo no Rio é muito importante para a carreira dele, para ele se preparar bem para tentar a vaga nas Olimpíadas. Ele sempre quis ser cada vez melhor e está buscando isso. Acho que ainda vamos ter tempo de comemorar com ele depois dele competir no domingo.
Agora mais conhecido e valorizado pela torcida, Angelo espera que o ouro em São Paulo possa fazer com que ele consiga seu primeiro patrocínio individual. Atualmente, o ginasta conta apenas com o apoio do Bolsa Atleta, programa do governo federal.
- Eu busco um patrocínio pessoal faz um bom tempo e tomara que ele venha agora. Essa medalha de ouro no Brasil pode me ajudar a conseguir apoio de empresas.
Fonte: Globo Esporte
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