Futebol no presídio, batalha judicial e Pelé: a vida de Edinho após 7 meses

21/02/2018 04:51 Futebol
Desde 2005, Edinho vive "vaivém" da prisão; ele está condenado a 12 anos e dez meses / Foto: Delamonica/Futura Press/Estadão Conteúdo
Desde 2005, Edinho vive "vaivém" da prisão; ele está condenado a 12 anos e dez meses / Foto: Delamonica/Futura Press/Estadão Conteúdo

Filho do maior jogador de futebol da história, Edinho completa, nesta quarta-feira, sete meses preso após condenação por lavagem de dinheiro e associação ao tráfico de drogas. O ex-goleiro do Santos cumpre pena de 12 anos e dez meses na Penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo, à espera de recursos que correm no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e da possibilidade de entrar em regime semi-aberto ainda no primeiro semestre de 2018. Na cadeia, ele mantém planos para o futuro dentro do futebol e tem externado preocupação com a saúde de Pelé, que recentemente se ausentou de eventos e só apareceu publicamente amparado por um andador.

"Ele sabe das notícias do mundo exterior, está a par de tudo. A preocupação dele hoje é a saúde do pai, porque eles são muito ligados e a ausência nesse momento incomoda", relata Eugênio Malavasi, advogado de Edinho.

O primeiro filho homem do Rei do Futebol tentou carreira como jogador e chegou a ser vice-campeão brasileiro pelo Santos, em 1995. Na sequência, ainda defendeu Ponte Preta, Portuguesa Santista e São Caetano antes de pendurar as luvas. Em 2005, ele foi preso junto com outras nove pessoas na Operação Indra, do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), acusado de envolvimento na quadrilha de seu amigo de infância Naldinho, Ronaldo Duarte Barsotti de Freitas. Edinho admitiu ser usuário e dependente de drogas, permaneceu preso por seis meses e posteriormente foi condenado a 33 anos de detenção.

Saúde do pai preocupa Edinho no presídio

A prisão de 2005 foi só a primeira de Edinho, que ainda voltaria a ser detido mais quatro vezes, mas neste meio tempo viu sua pena diminuir para os atuais 12 anos e dez meses, que cumpre em regime fechado em Tremembé. Preso em Santos no dia 21 de julho de 2017, ele completa sete meses sem contato com o mundo exterior. Apesar disso, o contato com o universo esportivo se mantém, assim como os planos de retomar a carreira no futebol após a liberdade.

Segundo apurou o UOL Esporte, Edinho é presença certa nas atividades esportivas realizadas para socialização dos detentos em Tremembé. O presídio dispõe de uma quadra de futebol que funciona diariamente - durante a semana, o local fica disponível no período da tarde e aos finais de semana em horário integral. A Secretaria de Administração Penitenciária confirma a informação: "A unidade oferece diversas atividades aos presos, sendo laboraterápicas, culturais, educacionais, assistência religiosa e esportivas. O detento Edson Cholbi Nascimento participa de atividade esportiva, jogando futebol".

Além de jogar em Tremembé, Edinho também orienta os outros presos como uma espécie de treinador do time de detentos. É esta carreira, de técnico, que ele registra em sua documentação e pretende seguir após deixar a penitenciária. Fora de lá ele trabalhou nesta função em três clubes: Mogi Mirim (entre abril e maio de 2015), Água Santa (entre julho e setembro de 2016) e Tricordiano (entre dezembro de 2016 e fevereiro de 2017), além de uma longa experiência como auxiliar-técnico no Santos.

"Ele está trabalhando na área dele, a esportiva, e fazendo alguns cursos que estão disponíveis para os detentos. O escritório o visita de 15 em 15 dias e a família segue dando todo o suporte", conta Malavasi.

Tremembé recebe presos em casos de comoção nacional e permite visitas semanais, durante os sábados e domingos. Os cursos a que se refere o advogado de Edinho são oferecidos por instituições parceiras, como o Serviço Nacional de Aprendizagem (Senai), Universidade de Taubaté, Fundação Professor Doutor Manoel Pedro Pimentel (Funap), entre outros. São cursos de corte, costura, reforma de carteiras escolares, usinagem e montagem de torneiras. A instituição também oferece trabalho como pintores, pedreiros, cozinheiros, barbeiros e marceneiros, além de lavanderia e rouparia. Trabalhar dentro do presídio pode reduzir o tempo da pena, mas Edinho ainda "aguarda designação de trabalho por ordem cronológica".

A penitenciária em que está o filho de Pelé é conhecida por receber presos "famosos", a exemplo de Guilherme Longo (padrasto do menino Joaquim), Alexandre Nardoni, irmãos Cravinhos ou Limdemberg Fernandes. A Secretaria de Administração Penitenciária diz que por questão de segurança não informa sobre configuração de celas ou quem divide espaço com Edinho, mas diz que a população carcerária hoje é de 332 pessoas dentro de uma capacidade de 408 detentos.

No início de fevereiro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, negou um pedido de Habeas Corpus impetrado pela defesa de Edinho por razões técnicas. Os representantes do ex-goleiro ainda têm recursos em tramitação do STJ, mas já traçam outra estratégia em nome da liberdade do filho de Pelé nos próximos meses: somando as cinco passagens pela cadeia, Edinho já está próximo do cumprimento de um sexto da pena de 12 anos e dez meses. Isso significa que há uma possibilidade de seguir a pena em regime semi-aberto ainda neste primeiro semestre.

"Desde a primeira prisão, lá atrás, ele passa a ter direito ao que se chama detração penal. O primeiro período somado ao que está agora, os cinco dias até conseguir o Habeas Corpus... Nada é em vão, nenhum período é em vão. É um cálculo que temos que fazer baseado neste "vaivém" desde 2005. Fora que ele irá remir a pena por estar trabalhando. O Edinho está sofrendo um dano irreparável passível de indenização. Mas essa é outra questão. Para mim o Edinho não cometeu lavagem de dinheiro. Conseguimos uma boa vitória no Tribunal, porque eram 33 anos e foi reduzido para 12, e agora estamos alcançando o lapso temporal para ir para o semi-aberto", relata Malavasi, que põe a "confiança na Justiça" como esperança de Edinho nestes sete meses atrás das grades.

"Dentro do contexto ele está bem, confiante na Justiça. Ele só fica preocupado por saber que é inocente, mas está condenado. Mas isso é da vida, vamos lutar e brigar até o Supremo objetivando a comprovação da fragilidade probatória. À luz do direito, porque não se analisa mais o mérito. Ele está tranquilo e confiante na Justiça, apesar da decepção por conta da manutenção da condenação. Ele ficou contente com a redução, mas na minha concepção uma sentença por lavagem ser de 33 anos, maior que pena de homicídio qualificado, é absurdo. Ele cometeu uma chacina? Nada disso. O Edinho ficou mais confortável com a redução, mas não contente", diz.

Fonte: Gabriel Carneiro / UOL

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