Um esquema de manipulação de resultados a partir de apostadores em sites internacionais pode ter interferido no desempenho do Rio Branco, time da primeira divisão do Campeonato Paranaense, à exemplo do que aconteceu no episódio da Máfia do Apito em 2005, quando o ex-árbitro Edilson Pereira de Carvalho entrava em campo pré-disposto a arrumar resultados que enriquecessem apostadores.

Só que desta vez os envolvidos seriam os jogadores da própria equipe, que tem sede em Paranaguá, litoral do Paraná, a cerca de 100 km da capital Curitiba. Vice-campeão da Taça Dionísio Filho, o primeiro turno do Paranaense, o Rio Branco ficou longe de repetir o desempenho no segundo turno. O time, que havia eliminado o Atlético Paranaense nos pênaltis após segurar um 0 a 0 na Arena da Baixada antes de perder a decisão para o Coritiba, levou vinte gols em cinco jogos e só não teve de amargar o descenso graças a uma improvável vitória do já rebaixado Prudentópolis sobre o União, que acabou caindo.

Na segunda-feira após a queda, o presidente do Rio Branco, Leandro Ribeiro, procurou o Ministério Público Federal em Paranaguá, para dizer que o lateral-esquerdo Thiaguinho teria intermediado uma oferta de 5 mil reais por atleta para que jogadores do time do litoral perdessem jogos. Nesse sábado (24), o site "Agora Paraná" publicou imagens de uma conversa entre o jogador e colegas de time e trouxe a informação de que o atleta confessou que fez a intermediação a pedido de um "apostador cearense".

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O UOL Esporte teve acesso à integra de uma conversa em que Thiaguinho revelou: "O bicheiro me procurou e eu não aceitei esse serviço. E ele pediu que eu passasse o número de outra pessoa. Como eu já tinha ido embora, tinha brigado com o pessoal do Rio Branco, eu passei o número do (atacante) Rodrigo Jesus pra ele falar", afirmou, dizendo que ele próprio não participou de esquema algum: "Eu estou machucado, fiquei sem jogar o segundo turno todinho, como eu ia me vender?". Thiaguinho se machucou na semifinal contra o Atlético.

O jogador jura inocência. Na conversa pelo WhatsApp revelada pelo jornalista Oswaldo Eustáquio, do "Agora Paraná", o lateral-direito Raul contesta Thiaguinho, afirmando que ele próprio fazia apostas antes dos jogos. Thiaguinho contestou a acusação, e o caso agora seguirá na Polícia. 

Na conversa obtida pelo UOL Esporte, Thiaguinho se contradiz insinua que esteve ao lado do corruptor enquanto falava com os colegas. "Ele estava perto de mim, junto comigo. Ele foi me falando, 'oferece 5 mil reais a eles', e eu fui falando. Não passou nem um minuto de conversa, o pessoal falou que não e eu já desliguei", contou, para depois demonstrar arrependimento: "Eu fui muito inocente nessa situação".

Em gravações, Rodrigo Jesus confirmou que recebeu a ligação e o pedido para que se entregasse o jogo contra o Londrina e que pagariam 5 mil reais, mas disse que não iria aceitar. Na partida, o Londrina fez 4 a 1 e o Rio Branco só não caiu por que o Prudentópolis fez 3 a 1 no União e o time de Paranaguá acabou escapando. Jesus fez o gol solitário dos parnanguaras.

O Ministério Público Federal já abriu processo para apurar as responsabilidades. A Federação Paranaense e o Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná estiveram fechados no fim de semana, mas o UOL Esporte apurou que a procuradoria do TJD abrirá denúncia contra o Rio Branco já nesta segunda-feira (26). Thiaguinho é pernambucano e disse que foi achado pelo apostador após contatos de amigos de infância.

Diversos sites de apostas cancelaram as apostas que envolviam o Rio Branco já durante as partidas, não disponibilizando mas a possibilidade de aumento de ganhos conforme a diferença de gols no placar apostado. Habitualmente, os sites bloqueiam esse tipo de aposta conforme o volume financeiro aumenta, o que gera suspeita. No segundo turno, o Rio Branco venceu o Prudentópolis por 3 a 1 e perdeu por 4 a 2 para o Toledo, 4 a 0 para o União, 4 a 1 para o Londrina e 7 a 1 para o Atlético. No primeiro, havia empatado com o Coritiba, 1 a 1, com o Atlético, 0 a 0, e vencido o Paraná, 2 a 0.

Nas derrotas do Rio Branco, a aposta simples na vitória do adversário pagava, em média, 1,20 para cada real apostado no Atlético, 1,50 no Londrina, 2,90 para um em favor do União e 4 para um a favor do Toledo. Se a margem de gols apostada for maior que um, o valor sobe exponencialmente.

Antes do jogo contra o Londrina, os jogadores do Rio Branco ameaçaram não viajar e, com isso, perder o jogo por WO. Os jogadores cobram os dois meses de salários atrasados da diretoria, que teria prometido um bicho de 25 mil reais após a vitória nos pênaltis sobre o Atlético e anunciou que não faria mais o pagamento. O técnico Maurílio, que comandou o time no primeiro turno, saiu demissionário antes da derrota por 7 a 1 na Arena da Baixada. Procurado, não quis comentar o caso: "Estou sabendo por você". 

Fonte: Napoleão de Almeida / UOL