Como a exploração de uma árvore nativa pode ajudar a reduzir o desmatamento na Amazônia

Segundo uma pesquisa da Embrapa, área desmatada que recebeu sementes da árvore se recuperou melhor que lote sem intervenções.
16/02/2018 17:37 Meio Ambiente
Experimento com plantio do paricá em áreas desmatadas teve início em 1995 (Foto: Ronaldo Rosa)
Experimento com plantio do paricá em áreas desmatadas teve início em 1995 (Foto: Ronaldo Rosa)

Uma técnica que recupera a floresta amazônica a partir do plantio de uma única espécie nativa pode ajudar a reconstituir uma área do tamanho do estado do Paraná e reduzir a pressão sobre regiões preservadas.

A técnica, desenvolvida pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, estatal vinculada ao Ministério da Agricultura) em parceria com uma empresa madeireira, consiste no plantio do paricá, árvore cuja madeira é usada para fazer laminados.

Pesquisadores verificaram que, a partir da plantação de paricás em uma área desmatada de 108 hectares (1 km²), outras espécies passaram a se propagar naturalmente no local. Treze anos depois, a área tinha valor comercial 36% maior do que a de um lote vizinho também desmatado, mas onde não havia sido feita qualquer intervenção.

O experimento teve início em 1995 e ocorreu em uma fazenda em Dom Eliseu, município no nordeste do Pará, em uma parceria entre a Embrapa Amazônia Oriental e o grupo madeireiro Arboris.

Segundo a Embrapa, a metodologia pode ser aplicada em mais de 19 milhões de hectares (área equivalente à do Paraná) em áreas em diferentes graus de degradação no Pará. Pesquisadores afirmam que a técnica pode ser replicada em outros Estados amazônicos e também empregada com fins comerciais. aproveitando o valor do paricá.

Para isso, porém, seria preciso alterar a legislação ambiental, para permitir o corte de árvores com menos de 30 anos de idade e menos de 50 cm de diâmetro, já que os paricás costumam cair naturalmente por volta dos 18 anos de idade, antes de atingir essa grossura.

Em parceria com a UEPA (Universidade Estadual do Pará), a Arboris está catalogando espécies surgidas na mata regenerada e que poderiam ser exploradas comercialmente.

O engenheiro florestal da Embrapa Jorge Yared diz que a região onde a pesquisa foi feita começou a ser desmatada nos anos 1960, com a construção da rodovia Belém-Brasília. "Na década de 1980, a região era conhecida como o maior polo serralheiro do mundo", afirma.

Quando o experimento começou, haviam sobrado poucas árvores, nenhuma de grande porte. "Era o que chamamos de floresta de paliteiro", diz o engenheiro agrônomo Ademir Ruschel, da Embrapa.

Ruschel afirma que mudanças nas regras ambientais para permitir o corte do paricá, árvore de madeira branca, reduziria a pressão para a retirada das árvores de madeira vermelha, com maior densidade e maior valor de mercado. "Quem explora a área ganha tempo para colher essas árvores, que geralmente duram centenas de anos, em um tamanho maior", afirma.

O engenheiro diz que a rentabilidade pode fazer com que os proprietários não só mantenham a cobertura florestal em 50% em suas terras, conforme exigido por lei, mas até mesmo invistam em preservar ou recuperar um percentual maior de floresta.

Segundo Romulo Batista, coordenador do Projeto Amazônia do Greenpeace, a iniciativa é importante porque aumenta a possibilidade de lucro com a floresta em pé, além de diminuir a pressão sobre as áreas preservadas.

Para difundir a técnica, Slaviero, da Embrapa, afirma que pretende contatar assentamentos e agricultores familiares que vivem na região.

Fonte: Globo Natureza

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