Em fenômeno raro, mar recua e surpreende moradores de Santos
Fenômeno é conhecido por maré seca ou Transporte de Ekman (Foto: Fábio Fontes/ Especial para A Tribuna)
Ventos de 50 quilômetros por hora soprando do nordeste e paralelos à costa provocaram um fenômeno incomum: o recuo de até 90 centímetros no nível do mar na região. A rara conjunção de fatores climáticos provocou imagens curiosas, como a aparição de faixa de areia na Ponta da Praia, em Santos, e na Fortaleza da Barra Grande, em Guarujá.
Também fez com que os trapiches ficassem em terra firme, deixando ilhados moradores de comunidades da baía. Esse foi o menor registro da maré desde 2012, quando Praticagem de São Paulo iniciou medição em série histórica. Na Ponta da Praia, a situação ocorreu no final de semana e teve reflexos até a tarde desta terça-feira (15).
O fenômeno teve início na sexta-feira (11) passada, quando praias do Uruguai registraram recuo do mar em cerca de dez metros da costa. E subiu em direção ao Litoral brasileiro, com a retração da maré em 50 metros, conforme medição do marégrafo de Itajaí (SC).
Segundo o biólogo Renan Braga Ribeiro, do Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas (NPH) da Universidade Santa Cecília (Unisanta), o recuo médio do mar ocorre diversas vezes ao ano, mas em menor intensidade. “Normalmente, a redução no nível médio do mar é de 10 a 20 centímetros. No final de semana, a redução foi entre 70 e 90 centímetros”.
A oceanógrafa Rossio Camaio, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), explica que o fenômeno é conhecido por maré seca ou Transporte de Ekman – nome derivado do pesquisador sueco Vagn Walfrid Ekman (1874-1954), que fez os primeiros estudos sobre a movimentação da maré, no ínício do século passado.
Ele acontece quando as águas do oceano são empurradas para longe da costa pelo vento durante a chegada de uma frente fria. A redução no nível do mar é temporária e se ameniza à medida que o vendaval perde força.
“É um fenômeno raro de acontecer no Brasil, pois depende de alguns fatores. Como a direção do vento soprando paralelo à costa e por desses ventos persistirem por vários dias”, afirma. Ela descarta a hipótese de tsunamis.
Problemas
Renan Ribeiro argumenta que o maior problema à região está relacionado à navegação. “O nível do mar muito baixo prejudica as operações de entrada e saída de navios maiores no Porto de Santos”.
Residentes na Praia do Góes e em Santa Cruz do Navegantes enfrentaram dificuldades para cruzar o canal do estuário. “As barcas não puderam se aproximar dos trapiches. Para chegar à praia, os moradores precisaram usar outras embarcações menores”, afirma a presidente da Sociedade de Melhoramentos da Praia do Góes, Léia Gonzalez.
Devido à maré baixa, a dona de casa Bettiane Santos não pôde levar seus dois filhos à escola por dois dias.Ela afirma ainda que, no domingo, os moradores da localidade ficaram mais de cinco horas esperando a alta da maré.
Nesta terça, por volta das 14 horas, houve nova vazante de água. “Ficamos ilhados. Ainda bem que nada grave aconteceu”, comenta.
O marinheiro Nelsi Carvalho se diz surpreso com o fenômeno. “Em 20 anos de profissão, nunca vi algo assim”.
Fonte: Do Jornal A Tribuna
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