Abuso nas categorias de base de clubes choca Argentina
Portão de entrada da sede do Independiente, em Avellaneda, um dos clubes envolvidos no escândalo de abuso sexual - Juano Tesone / Clarin/Folhapress
Um par de chuteiras novas, uma recarga no cartão de transporte público (o Sube, similar ao Bilhete Único) e entre o equivalente a US$ 10 (R$ 34) ou US$ 40 (R$ 135).
Era assim que se “compravam” favores sexuais de garotos menores de idade que jogavam nas categorias de base do clube Independiente, um dos mais tradicionais da Argentina, segundo seus depoimentos à Justiça.
O escândalo estourou quando um dos meninos contou ao psicólogo do clube o que estava ocorrendo. Logo, outros seis se somaram à denúncia. A causa já conta com quatro pessoas detidas, aguardando julgamento.
Um deles é um árbitro, Martín Bustos, outros dois são representantes de jogadores, Leonardo Arazi e Alejandro Carlos Dal Cin, e há também um organizador de torneios infantis, Juan Manuel Díaz Vallone.
Segundo a promotora que investiga o caso, María Soledad Garibaldi, ainda não está esclarecido como os menores eram recrutados dentro do clube, mas sim que, segundo seus relatos, estes eram levados a apartamentos alugados onde ocorriam os abusos sexuais. “A quantia que obtinham estava relacionada aos atos que aceitavam praticar”, disse Garibaldi.
A promotora acrescenta que os menores afetados eram em sua maioria de famílias muito humildes e que vivem longe de seus pais.
“Qualquer um que já tivesse agente, ou um maior responsável por perto, era descartado como potencial vítima”, acrescentou.
Após o escândalo do Independiente, uma médica que trabalhou no River Plate entre 2004 e 2011 denunciou que o mesmo ocorria num dos maiores clubes do país.
À polícia, ela disse que contou a diretores do clube que menores que viviam na Casa River —hospedaria do clube que fica ao lado do estádio Monumental de Núñez, para os jovens das categorias de base que vêm de outras províncias— reclamavam de abusos a ela e a outro profissional do corpo médico.
Seriam dois garotos menores de 14 anos, do futebol, e uma menina, da mesma idade, membro do time de vôlei.
Um dos garotos, conta a médica, apareceu em seu consultório com fortes dores. Ao ser questionado, ele revelou estar com medo de ter contraído Aids porque havia sido estuprado.
Na época, ela buscou a direção do clube e conta que foi orientada pelos dirigentes a “manter-se fora do assunto”. Um tempo depois, quando voltou de uma licença-maternidade, foi demitida. Assim como o outro profissional.
Com o escândalo estampando os jornais e os noticiários televisivos na Argentina, onde o futebol é o esporte mais popular de todos, tanto o Independiente como o River dizem que irão colaborar com a Justiça.
Nenhum de seus representantes está dando declarações à imprensa, mas ambos os clubes divulgaram comunicados se dizendo dispostos a cooperar nas investigações.
Há, porém, uma diferença de comportamento. O Independiente, assim que ouviu a denúncia por parte dos menores, acionou a Justiça, e as pessoas que estão presas respondendo a processo são todas as que estavam vinculadas aos supostos delitos relacionados a este clube.
Já o River Plate, que acumula denúncias internas desde 2004, apenas agora se disponibilizou a dar informações e a responder judicialmente sobre o caso.
Na última terça-feira (3), a polícia fez uma busca na Casa River e em dependências da direção do clube.
Fonte: Sylvia Colombo / Folha de S.Paulo
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