Crise na Venezuela: veja a cronologia do agravamento da situação do país
Opositores protestam nesta quarta-feira (25) em Caracas, na Venezuela, contra decisão que restringe protestos diante do Conselho Nacional Eleitoral e
Inflação, insegurança e escassez de produtos básicos já eram o contexto da Venezuela em 2014, quando explodiram as manifestações de estudantes e opositores do governo de Nicolás Maduro que acabaram em confrontos violentos e a morte de 42 pessoas.
Recentemente, porém, a situação se agravou. A inflação passou a ser a “maior do mundo”, segundo o FMI. A escassez de remédios levou o Parlamento a decretar “crise humanitária”. O racionamento de energia, as longas filas nos supermercados e o aumento da criminalidade aumentaram o descontentamento social, os protestos e saques.
Uma série de fatores agravou os problemas sociais e econômicos, como a alta dependência da importação de bens, a queda do preço do petróleo – maior fonte de suas divisas - e o controle estatal de produção e distribuição de produtos básicos.
Neste contexto, a oposição obteve a maioria do Parlamento nas eleições legislativas de dezembro, e a convocação de um referendo para revogar o mandato de Maduro se torna sua principal campanha.
A oposição culpa o modelo socialista pela atual crise. Já o presidente a atribui à queda dos preços do petróleo e a uma "guerra econômica" de empresários de direita para desestabilizar seu governo. É com esse argumento que ele declarou estado de emergência no país.
Veja a seguir a cronologia do agravamento da crise na Venezuela:
8 de dezembro de 2015: vitória da oposição nas eleições legislativas
A apuração dos votos das eleições Legislativas de 6 de dezembro confirma que a oposição, reunida na coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD), derrotou os socialistas do governo e conquistou a maioria na Assembleia Nacional, pela primeira vez em 16 anos, formando uma plataforma para desafiar o presidente Nicolás Maduro.
Dois dias depois, o último boletim do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) aponta que a oposição alcançou poderosa maioria qualificada de dois terços do Congresso.
10 de dezembro: 'maior inflação do mundo'
Dados so Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre as projeções mundiais "apontam que a Venezuela teve a maior inflação do mundo em 2015, ao redor de 160%".
5 de janeiro: posse do novo Congresso
Nova Assembleia Nacional toma posse. Novo presidente é Henry Ramos Allup, que tem apoio de 109 deputados da coalizão de oposição MUD.
11 de janeiro: anulação de posse de deputados impugandos
Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) declarou nulas decisões do Legislativo devido à posse de três deputados da opsição impugnados (afetados pela medida cautelar) pelo governo.
15 de janeiro: emergência econômica
Maduro decreta "estado de emergência econômica" por 60 dias para atender à grave crise do país. O poder executivo passa a ter direito, entre outras coisas, a tomar uma série de medidas para garantir o abastecimento de bens básicos à população; a fixar "limites máximos de entrada e saída" de bolívares; a determinar outras medidas "de ordem social, econômica ou política que considere conveniente".
26 de janeiro: crise humanitária
Diante da grave escassez de medicamentos e insumos médicos, o Parlamento declara "uma crise humanitária em saúde", o que considera "a pior crise da história". O texto exige que o governo garanta acesso a uma lista de medicamentos básicos e restabeleça a publicação do boletim epidemiológico.
15 de fevereiro: campanha contra Maduro
A aliança opositora MUD se declara "em campanha social" para promover "a mudança de governo" na Venezuela.
17 de fevereiro: novas medidas econômicas
Maduro anuncia uma série de medidas econômicas, entre elas o o aumento de 20% no salário mínimo (de 9.600 para 11.520 bolívares); aumento do preço da gasolina, pela primeira vez em 20 anos; a desvalorização de 37% do bolívar reservada à importação de alimentos e medicamentos; e um novo regime de câmbio, que passa de três a duas taxas de câmbio.
18 de fevereiro: 180,9% de inflação
O Banco Central divulga que o país registrou inflação de 180,9% em 2015, uma das mais altas do mundo, e um retrocesso em seu PIB de 5,7%.
14 de março: prorrogação do estado de emergência
Maduro emite decreto para prorrogar por 60 dias da emergência econômica em vigor há dois meses. No texto, o presidente afirma que há "uma crise estrutural do modelo rentista pela queda abrupta dos preços do petróleo", à qual acrescenta um suposto "boicote econômico e financeiro nacional e internacional" contra a Venezuela.
22 de março: circulação de jornais interrompida
O Instituto de Imprensa e Sociedade da Venezuela (IPYS) anuncia que 17 jornais venezuelanos, sendo sete da região de Caracas, não circularão durante a Semana Santa por falta de papel, e que 45 jornais estão "em crise" de papel.
7 de abril: feriados às sextas-feiras
Maduro decreta feriado nas sextas-feiras pelo próximos dois meses como parte de um "plano especial" para poupar energia elétrica. Segundo o presidente, o motivo é a severa seca provocada pelo fenômeno El Niño. Maduro também amplia para nove horas diárias o racionamento elétrico para shoppings e hotéis.
11 de abril: 'holocausto da saúde'
A associação médica do país denuncia um "holocausto da saúde" devido à escassez de medicamentos e materiais hospitalares, e convoca manifestação porque "pessoas estão morrendo", acrescentou. De acordo com Douglas Leon, presidente da Federação Médica venezuelana, os hospitais sofrem com "mais de 95% de falta de medicamentos", enquanto "nas prateleiras das farmácias" a escassez é de 85%.
11 de abril: lei de anistia 'inconstitucional'
O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) declara "inconstitucional" a lei de anistia sancionada pela Assembleia Nacional em 29 de março para libertar 75 opositores políticos presos sob a acusação de incitar à violência nos protestos de 2014 que exigiam a saída de Maduro do poder.
A decisão é divulgada quatro dias após Maduro pedir à Sala Constitucional do órgão que declare a lei ilegal, alegando que sua aprovação deixaria impunes violações dos direitos humanos e desataria uma espiral de violência no país.
12 de abril: entrega de assinaturas
A oposição entrega mais de 2 mil assinaturas para iniciar o trâmite para a convocação de um referendo revogatório do mandato de Maduro.
21 de abril: racionamento de eletricidade
O governo anuncia racionamento no fornecimento de energia elétrica nos 10 estados mais populosos e industrializados do país, incluindo a região de Caracas. Os cortes de energia, de quatro horas diárias, começa quatro dias depois. O reservatório da hidrelétrica Guri, que gera 70% da eletricidade do país, está a ponto de entrar em colapso.
27 de abril: três dias de folga
Maduro ordena estender de um (sexta-feira) para três dias por semana (quarta, quinta e sexta-feira) a folga do setor público, para enfrentar a severa crise de eletricidade. Também determina que as escolas do ensino fundamental e médio não funcionem às sextas-feiras.
29 de abril: fechamento de cervejaria por falta de moeda internacional
A Cervejaria Polar, pertencente ao maior grupo empresarial da Venezuela e principal fabricante de cervejas, que produz cerca de 80% da cerveja consumida no país, paralisa a última de suas quatro unidades no país. A empresa já havia anunciado que só tinha "cevada maltada para produzir cerveja até 29 de abril", devido à falta de moeda internacional para pagar seus fornecedores estrangeiros, provocada pelo controle estatal do câmbio no país.
30 de abril: aumento do salário mínimo
O governo anuncia o aumento de 30% no salário mínimo - incluindo funcionalismo público, aposentados e militares - e nas pensões. Também sobe o bônus de alimentação, concedido a todos os trabalhadores e que pode ser usado em farmácias e supermercados.
Na ocasião, o governo afirma que a "guerra econômica" é a responsável pela inflação de três dígitos (180,9% em 2015, segundo dados oficiais), escassez de dois terços dos produtos básicos e medicamentos, e uma contração de 5,9% da economia no ano passado.
1º de maio: novo fuso horário
Para enfrentar a crise energética, os venezuelanos adiantam em 30 minutos seus relógios, voltando ao fuso horário vigente até 2007. A mudança de fuso horário de meia hora tinha sido uma das marcas registradas do governo do falecido presidente Hugo Chávez.
2 de maio: 1,85 milhão contra Maduro
A oposição apresenta 1,85 milhão de assinaturas ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) pedindo a convocação de um referendo revogatório contra o presidente. O CNE exige 195.721 assinaturas (1% do padrão eleitoral) para pedir que se inicie o processo.
14 de maio: ampliação do decreto de emergência
Maduro amplia os alcances do decreto de emergência econômica em vigor desde janeiro ao decretar "estado de exceção e de emergência econômica" por 3 meses para "neutralizar e derrotar a agressão externa" que, segundo ele, afeta o país. O novo decreto é "mais completo, mais integral, de proteção do nosso povo, de garantia de paz, de garantia de estabilidade, que nos permita (...) recuperar a capacidade produtiva", disse.
14 de maio: intervenção em fábricas paralisadas
Maduro ordena intervenção nas fábricas que estiverem paralisadas e a detenção dos empresários que pararem a produção com o objetivo de "sabotar o país", no âmbito de estado de exceção e de emergência econômica.
20 e 21 de maio: treinamentos militares
520 mil militares e civis fazem exercícios de defesa em sete estados, com o objetivo de garantir a ordem interna e a defesa do país diante de um suposto desembarque de tropas inimigas e de ataques a instalações de distribuição do sistema elétrico.
24 de maio: sem Coca-Cola por falta de açúcar
A Coca-Cola interrompe a produção de refrigerantes por falta de estoque de açúcar refinado de uso industrial. As bebidas que não levam açúcar seguem em operação.
Fonte: Marina Franco, do G1
COMENTÁRIOS
Usando sua conta do Facebook para comentar, você estará sujeito aos termos de uso e politicas de privacidade do Facebook. Seu nome no Facebook, Foto e outras informações pessoais que você deixou como públicas, irão aparecer no seu comentário e poderão ser usadas nas plataformas do iFato.