Israel não vai tolerar hegemonia do Irã no Oriente Médio
Tanque israelensa no lado israelita da fronteira com a Síria, perto da cidade de Druze de Majdal Shams, Golã, Israel, 11 de fevereiro de 2018. / REUTERS/Ammar Awad
Teerã foi o grande beneficiário da implosão do Oriente Médio. Depois do 11 de setembro, os iranianos deram uma mãozinha ao “ianques” no Afeganistão. Em contrapartida, eles agora controlam a minoria xiita dos hazaras.
Hoje, os iranianos podem contar com um contingente significativo de xiitas afegãos sustentando o regime de Bashar Al Assad. Quando os americanos acabaram com o regime de Saddam Hussein, o Irã se viu livre de seu pior inimigo: na década de 1980, o Iraque sunita havia lançado uma guerra sangrenta que custou mais de um milhão de mortos iranianos.
Agora, governos xiitas substituíram a minoria sunita no poder em Bagdá. O regime iraquiano não é uma criatura de Teerã, mas a influência iraniana é imensa. A recente vitória da coalizão ocidental e das forças iraquianas contra os terroristas do grupo “Estado Islâmico” não teria acontecido sem o apoio das milícias xiitas iraquianas comandadas por oficiais iranianos.
Hoje, o Irã circula pelo território do Iraque, abrindo uma verdadeira “via de trânsito” para a Síria e o Líbano.
Graças ao Hezbollah, o Irã conseguiu salvar o regime de Damasco
A guerra de Bashar Al Assad contra a revolta de sua própria população sunita foi mais uma oportunidade. Graças ao seu aliado libanês, o Hezbollah xiita, e às milícias xiitas trazidas do Iraque ou do Afeganistão, o Irã conseguiu salvar o regime de Damasco.
Claro, os bombardeios russos foram cruciais, mas sem combatentes no chão para conquistar territórios, nada feito. E o regime sírio não tinha mais tropas. Hoje, Bashar Al Assad depende absolutamente dos soldados do Hezbollah e das milícias comandadas pela Guarda Revolucionária iraniana.
Pela primeira vez, Teerã pode celebrar uma vitória estratégica que ambicionava há muito tempo: um corredor militar, da fronteira iraniana às praias do Líbano. Um trunfo que faz do Irã a potência regional dominante no Oriente Médio.
Claro, Israel não pode tolerar tamanha ameaça. E os Estados Unidos, a Europa e os regimes sunitas árabes também não podem aceitar esse começo de hegemonia iraniana na região. Washington e vários aliados europeus já declararam que o acordo nuclear com o Irã não basta.
E que falta um novo tratado para proibir que Teerã continue desenvolvendo mísseis balísticos de grande alcance, ameaçando o Estado judeu e até a própria Europa. A recente parada militar em Teerã para comemorar a revolução islâmica de 1979 apresentou um míssil capaz de voar 2.000 quilômetros: nada mais nada menos do que uma “banana” para os ocidentais.
Enquanto isso, Moscou ficou entre a cruz e a caldeirinha. Putin precisa dos iranianos para manter o regime aliado de Damasco, mas também não quer, de jeito nenhum ter as poderosas forças armadas israelenses como inimigo. Os russos não têm condições nem de estabilizar, nem de reconstruir a Síria.
A ideia é sair dessa ratoeira, mas mantendo suas posições na região. Complicado. E ainda têm que fazer média entre Al Assad, a invasão turca contra o enclave curdo no norte do país, e as forças armadas curdas apoiadas pelos americanos.
Vem muita bala por aí, e a coisa não vai ser resolvida só com bombardeiros Sukhois. Putin está condenado às denguices da turma do “deixa disso”. Para ele é um perigo. Mas que remédio?
Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, faz um crônica de política internacional para a RFI às segundas-feiras
Fonte: Alfredo Valladão / Le Monde
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