Veja cinco possíveis impactos econômicos da saída do Reino Unido da UE

24/06/2016 13:42 Mundo
Cartão postal com o slogan "Siga em frente" é encontrado em banca de jornal em Londres (Foto: Leon Neal/AFP)
Cartão postal com o slogan "Siga em frente" é encontrado em banca de jornal em Londres (Foto: Leon Neal/AFP)

Os britânicos decidiram sair da União Europeia. A decisão do referendo, realizado na quinta-feira (24), causou um mau humor generalizado nos mercados financeiros em meio às incertezas sobre o impacto que a saída do Reino Unido do bloco deve causar aos outros países pelo mundo.

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Na Ásia, as bolsas recuaram com força, enquanto as ações na Europa e nos Estados Unidos também registram desvalorização. No Brasil, a Bovespa também opera no vermelho.

A cotação da libra também foi impactada pelo resultado do referendo. A moeda britânica afundou 10% em valor, atingindo o ponto mais fraco desde 1985. Já o dólar abriu o dia em alta de mais de 2% sobre o real.

Um dia antes, os índices de ações haviam subido com força, porque as pesquisas apontavam que os votos pela permanência no bloco venceriam a disputa. O índice que reúne as principais ações europeias fechou no maior valor em duas semanas em meio ao otimismo do mercado.

Veja uma lista de possíveis impactos econômicos da decisão de referendo:

1. Impactos para a economia britânica
Assim como os outros países do bloco, o Reino Unido também faz contribuições financeiras à União Europeia. A quantia total arrecadada entre todos os países-membros é repartida de forma equitativa.

Um dos argumentos dos britânicos a favor da saída do bloco é de que o Reino Unido mais contribui com a UE do que recebe recursos. Isso porque os fundos pagos pelo Reino Unido para o orçamento europeu contribuem para financiar programas e projetos em todos os países da UE. O Reino Unido também tem projetos financiados por fundos estruturais e de investimento do bloco.

No entanto, a soma da contribuição britânica com a UE é maior do que os gastos do bloco com o Reino Unido. Segundo dados da própria União Europeia, em 2014 o Reino Unido contribuiu com € 11,3 milhões à UE, o que corresponde a 0,52% de seu rendimento nacional bruto. Em contrapartida, as despesas do bloco com o país foram de € 6,9 milhões, ou 0,32% do rendimento bruto.

O professor Otto Nogami, do MBA do Insper, aponta os prejuízos internos sofridos pelo Reino Unido graças a esse “desequilíbrio monetário”, com mais saída que entrada de dinheiro no país. “Isso acaba criando uma pressão inflacionária maior, domesticamente falando”, diz.

Mas Paulo Figueiredo, diretor de operações da FN Capital, aponta que os impactos econômicos para o Reino Unido vão além dessa diferença entre contribuição para a UE e investimentos recebidos. Segundo o especialista, a receita britânica deve cair sem a livre circulação de mercadorias e pessoas entre os países do bloco.

“O Reino Unido contribui mais do que se recebe, mas se isolando no bloco essa conta talvez não vá fechar. Será muito mais difícil se ter uma receita sem o livre trânsito de mercadorias e pessoas. Esse ganho que o Reino Unido tinha com a União Europeia vai cair muito.”

O professor do curso de Relações Internacionais da FAAP Marcus Vinicius de Freitas lembra, no entanto, que o desejo de reorganização da economia pode ser justamente o fator que motiva muitos britânicos a votarem pela saída do bloco. “Existem regras da União Europeia com relação ao sistema financeiro, bancário, administração das finanças públicas. O que os britânicos questionam é que o projeto da UE não é o que eles ambicionam, ” diz o especialista.

2. Impacto para o comércio exterior britânico e europeu
A participação na União Europeia permite que os países comprem e vendam produtos e serviços entre si sem a aplicação de taxas e impostos dentro da área comum. O Reino Unido então passa a ter taxas diferentes no comércio exterior com os países europeus em relação às praticadas agora, podendo inclusive trocar de parceiros.

"Na UE, o que se formou foi uma união aduaneira, além de ser uma área de livre comércio e também de união tarifária em termos de comércio internacional", explica Otto Nogami.

Paulo Figueiredo afirma que a saída do bloco pode prejudicar o comércio britânico, "pois ele deixa de contar com a livre circulação do bloco.

Já Nogami aponta que pode haver benefícios. Segundo o especialista, a entrada na UE "fez com que a Inglaterra, que era importadora de carne da Austrália, por exemplo, fosse obrigada a renunciar e passar a importar do continente. Isso são os acordos comerciais, se permite o livre comércio entre os integrantes em detrimento de outros países”, explica Nogami.

"Nesse sentido, com a saída, a Inglaterra pode ter condições comerciais melhores que com seus parceiros do continente europeu. Já para a União Europeia, acaba representando ônus", diz o professor.

3. Impacto nas importações e exportações de outros países, incluindo o Brasil
As negociações com países fora do bloco se tornam mais livres, como pontua Marcus Vinicius de Freitas.

"O Brasil se beneficiaria eventualmente, porque agora poderia exportar para os britânicos produtos primários que sofrem algum tipo de impedimento na entrada na União Europeia. A negociação passa a ser bilateral simples, com um único país", diz Otto Nogami.

Já Paulo Figueiredo aponta que "o Brasil não vai se beneficiar tanto". "A facilidade é um pouco maior, mas o Reino Unido não é um grande parceiro comercial do Brasil, não tem tanta influência."

Em maio de 2016, o Brasil exportou US$ 256 milhões em produtos para o Reino Unido, o que equivale a 1,4% do total de exportações brasileiras no mês, segundo dados do Mistério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

Segundo a União Europeia, o Reino Unido exporta principalmente para os EUA, a Alemanha e os Países Baixos. Por sua vez, as suas importações vêm sobretudo da Alemanha, da China e dos EUA.

4. Impactos econômicos para o bloco
O professor Otto Nogami afirma que uma eventual saída do Reino Unido do bloco significa a extinção de uma das bases do tripé no qual está apoiada a União Europeia.

“Toda a estrutura da UE está baseada na Alemanha, França e Reino Unido. Na medida em que se tira um deles, a estrutura fica capenga. São as três economias mais fortes e representativas, e tirar uma delas pode desestabilizar a economia da União Europeia. Todo o peso acaba recaindo sobre a Alemanha, porque hoje a França está totalmente desestabilizada. O que não se sabe é até que ponto a Alemanha teria condições de carregar todo o continente nas costas, economicamente falando."

5. Impactos para outros países, como o Brasil, se a União Europeia perder força
Paulo Figueiredo aponta que a principal incerteza após a decisão britânica é com relação ao posicionamento de outros países europeus.

“A grande questão é a incerteza que essa saída vai gerar e a brecha que abre. A gente já teve discursos na Holanda e na França de que também deve ter uma votação para permanecer ou não.  E isso pode enfraquecer muito o bloco. Com possíveis saídas de outros países, talvez se tenha um movimento igual na Alemanha. Tudo isso traria um problema econômico, porque o bloco deixaria de existir.”

“Todas as alianças comerciais que os países da União Europeia têm com o resto do mundo teriam que ser refeitas. Isso traria uma complicação muito grande", completa o especialista. "Se a gente começa a ver que o bloco perde força, aí sim vai trazer um impacto para o Brasil e outros países."

Em 2015, o Brasil exportou US$ 33,9 bilhões em produtos para países da União Europeia, o que significa 17,7% do total de exportações do país no ano, segundo dados do MDIC.

 

Fonte: Karina Trevizan, do G1

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