Estado tem média de um PM morto por mês

13/11/2014 11:04 Policial
Policiais militares do Estado vivem sob risco e são mal remunerados, segundo sindicato (Foto: Divulgação/ACS-MS).
Policiais militares do Estado vivem sob risco e são mal remunerados, segundo sindicato (Foto: Divulgação/ACS-MS).

Divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança, o Anuário de Segurança Pública revela que Mato Grosso do Sul tem um índice considerável e alarmante no que diz respeito à morte de policiais militares. A média chega a um óbito por mês no ano de 2013 considerando confronto em serviço ou lesão não natural fora de serviço.

Em 2012 o total chegava a três casos. Em 2013, o número é de 11 casos do tipo registrados no Estado. O índice considera números levantados pelo Fórum junto à Sejusp/MS (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública), o Sinesp (Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas), Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública) e Ministério da Justiça.

As taxas de policiais mortos são calculadas a partir dos efetivos informados à Pesquisa Perfil das Instituições Policiais do Ministério da Justiça. O levantamento de 2013 não foi realizado, portanto, as taxas foram calculadas para ambos os anos com o efetivo de 2012.

O estudo revela ainda que um dos fatores que podem estar relacionados a este índice de mortes é a diminuição em 15,47% dos investimentos do Estado em policiamento e uma destinação de 28,35% a mais de recursos da segurança pública para o setor de informação e inteligência, relacionado a atribuição da Polícia Civil.

Dados do Ministério da Fazenda e STN (Secretaria do Tesouro Nacional) apontam que em 2013 as despesas com segurança pública em Mato Grosso do Sul no que diz respeito a policiamento caíram para R$ 734,6 milhões. Isso porque, em 2012, o montante era de R$ 869,1 milhões. Já com relação ao setor de informação e inteligência, os investimentos passaram de R$ 89 milhões em 2012 para R$ 114,2 milhões em 2013.

“Um Estado onde é natural que o policial perca a sua vida em razão da sua profissão, é um Estado que está sob a lógica da barbárie”

Na análise dos dados não apenas de Mato Grosso do Sul, como de todo o cenário nacional, o documento do Fórum Brasileiro de Segurança classifica o cenário como “verdadeiramente alarmante” e condena a naturalidade com a qual a morte de policiais é tratada no país.

Conforme a análise é necessário que sejam estudadas as causas, para que sejam adotadas medidas de combate e preservação da vida dos servidores. A morte de policiais fora do horário de serviço, por exemplo, é remetida aos ‘bicos’ que muitos fazem como complemento a renda, já que a grande maioria dos salários pagos em todo o país não são uma remuneração justa ao risco e pressão constante com a qual os servidores convivem. “É fundamental melhorar as condições de remuneração dos policiais para que eles tenham menos necessidade de expor as suas vidas praticando bicos”.

“Estado erra em investimentos”, afirma Associação Estadual de Cabos e Soldados da PM

Procurada pelo Dourados News, a ACS/MS (Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul) comentou o levantamento e criticou os investimentos da Sejup/MS.

Conforme o presidente da associação, Edmar Soares da Silva, faltam investimentos na Polícia Militar e em seus servidores, que fazem o trabalho preventivo e ostensivo que é de alto risco e de suma importância.

“A própria Sejusp admite que nos últimos anos tem investido mais em inteligência do que em policiamento e isso é um erro. A inteligência atua depois do crime acontecer, por meio da Polícia Civil. É importante, claro. Mas mais importante que solucionar crimes é evitá-los, então a secretaria erra ao desassistir a PM no que diz respeito a investimentos em efetivo e infraestrutura e isso prejudica a preservação da vida dos nossos policiais”.

Ainda conforme Silva, muitos policiais no Estado fazem sim o chamado ‘bico’ para complementar a renda. Atualmente, um policial de carreira recebe R$ 2.589. Esse valor vai subir para R$ 3.050 a partir do dia 1º de dezembro, seguindo reajuste anual. A carga horária mensal chega a até 280 horas de trabalho. Conforme o representante sindical, o valor não é justo porque o risco de morte ofertado no exercício da profissão é grande.

“Temos uma luta constante pela melhoria salarial para a dedicação exclusiva do policial e o combate aos bicos. O risco de morte é grande, prova disso são esses dados do levantamento nacional. Para se ter uma ideia, um policial civil de carreira ganha aproximadamente R$ 600 a mais que um PM. Parece que a vida do meu soldado vale menos que a de um agente da Polícia Civil sendo que o policial militar corre mais risco porque quem chega primeiro a cena é ele. Respeito as demais instituições, mas não achamos que isso seja um cenário justo. O Estado precisa repensar a maneira como reconhece o valor do PM e a maneira como investe na segurança pública de modo geral”, finalizou Silva.

De acordo com dado da ACS/MS, em 2014 dois policiais militares foram mortos em Mato Grosso do Sul. Ambos os casos aconteceram em Campo Grande. No primeiro, o policial fazia um ‘bico’ acompanhando o transporte de valores de uma empresa particular e acabou assassinado após um assalto. No segundo caso, o PM foi morto na frente da família também em um caso de possível assalto, quando acabou rendido no estabelecimento comercial da família.

Sem contato
O Dourados News procurou a assessoria da Sejusp/MS e também da Polícia Militar no Estado, para um posicionamento a respeito dos dados. No entanto, até a publicação desta matéria, não houve retorno.

 

Fonte: Thalyta Andrade/Dourados News

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