Ex-parceiros de Rafaat teriam contratado cabos do Exército para narcotráfico
Por trás da prisão por tráfico de maconha de três cabos do 20º Regimento de Cavalaria, quartel da elite do Exército, em Campo Grande, há uma investigação em curso bem mais minuciosa do que se imagina. Inicialmente, esperava-se que o desfecho da apuração que envolve Polícia Civil, Polícia Federal e Ministério Público Militar apontasse apenas a motivação do deslize disciplinar dos militares, encarcerados desde o dia 28 de agosto deste ano.
No entanto, uma das linhas da investigação acerca do episódio, que também culminou com a apreensão de 3 toneladas de maconha, reforça a ideia de que há uma guerra envolvendo facções criminosas pelo domínio do narcotráfico na região de fronteira entre Mato Grosso do Sul e o Paraguai.
Uma das autoridade que age no caso informou ao Jornal Midiamax que um dos focos da apuração tem a ver com a disputa por território envolvendo integrantes da tida como a maior organização criminosa do Brasil, o temido PCC (Primeiro Comando da Capital) e os ex-parceiros de Jorge Rafaat, narcotraficante morto fuzilado em junho deste ano, em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia.
Pelo investigado até agora, há suspeitas indicando que os seguidores de Rafaat teriam contratado os cabos do Exército, em Campo Grande, e os mandado entregarem três toneladas de maconha, em Campinas, interior de São Paulo.
Ainda segundo a investigação, os traficantes queriam reativar a rota explorada antes somente com o aval de Raafat.
Ocorre que os integrantes do PCC ficaram sabendo do esquema e teriam criado um plano capaz de frustrar a entrega da carga na cidade paulista. A estratégia, ainda segundo a investigação, foi fazer com que algum simpatizante do PCC informasse as autoridades policiais paulistas sobre a ida do carregamento.
Os cabos Simão Raul, Maycon Coutinho Coelho Higor Abdala Costa Attene, já expulsos do Exército, foram presos assim que a droga ia ser entregue a um grupo no pátio de uma empresa desativada em Campinas. O trio tentou fugir, trocou tiros com a polícia paulista, mas foi detido.
Os cabos levaram a maconha de Ponta Porã até Campinas, distância de 1.085 km, num caminhão do Exército, furtados pelos militares.
Logo que tiraram a viatura militar do quartel, situado na Vila Sobrinho, em Campo Grande, os cabos foram até Ponta Porã, fronteira com o Paraguai, 313 km distante da Capital, depois seguiram para São Paulo.
HISTÓRICO
Jorge Rafaat, que era conhecido como o “Rei da Fronteira”, manteve uma espécie de “sociedade” com a facção PCC, parceria desfeita neste ano porque o narcotraficante aumentou os valores cobrados pelo “pedágio”. Rafaat, no caso, autorizava o PCC sair da fronteira com cargas de maconha, armamento ou cocaína, desde que pagasse a ele somas de dinheiro.
Para se livrar da “taxa”, o PCC teria resolvido matar o rival.
Logo que soube do atentado contra Rafaat, o então secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, também policial federal, disse que a morte do narcotraficante era uma “alerta muito grave”.
“Já atuei em investigações sobre esse traficante [Rafaat, no caso], que era antigo no crime e conhecido por tentar impedir que quadrilhas instalassem na região”, disse Beltrame, ao portal G1 do Rio de Janeiro, um dia depois da morte de Rafaat, ocorrida no dia 15 de julho deste ano.
O ex-secretário do Rio disse também à época do crime que autoridades da segurança carioca já tinham em mãos “relatórios dando conta de que a facção [PCC, no caso], já atua no Paraguai e isso, se confirmado, vai mexer com o futuro da criminalidade no Brasil”.
Para Beltrame, o controle do PCC seria imposto dos dois lados da fronteira, que, com o assassinato de Rafaat teria o domínio da cadeia criminosa, ou seja, produzindo drogas no Paraguai e enviando-as para os grandes centros no Brasil.
MORTE
Rafaat foi morto fuzilado na noite do dia 15 de junho deste ano, perto de uma farmácia situada numa rua central de Ponta Porã. Ao menos 100 pistoleiros, segundo cálculos da polícia paraguaia, atuaram na emboscada que destruiu o carro blindado do narcotraficante. O grupo usou armamento antiaéreo, ponto 50, para executar o narcotraficante, que havia sido condenado pela Justiça Federal a 47 anos por lavagem de dinheiro e tráfico internacional de droga. Ele recorreu não cumpriu a pena por ter recorrido da sentença.
Fonte: Celso Bejarano, do Midiamax
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