Pedreiro perdeu tudo para falsa corretora, um golpe recorrente em MS
Depois de golpe, Maurício resolveu voltar a morar na casa do pai e construiu um quarto nos fundos do terreno. (Foto: Kisie Ainoã)
Em 2015, o pedreiro Maurício Moreira de Oliveira achou que iria concretizar o plano de comprar casa, garantida depois de muito trabalho em conjunto com a esposa. Naquele ano, porém, a expectativa deu lugar à frustração. Ele foi enganado por falsa corretora, que levou R$ 10 mil do sinal e não entregou o prometido imóvel.
“Depois disso, minha vida foi por água abaixo”, lamentou Maurício, que recorda-se com tristeza do que considera seu principal erro: não se certificar se a “corretora”, identificada como Rejane Terezinha Pereira Macedo, 66 anos, era registrada no Creci-MS (Conselho Regional dos Corretores de Imóveis em MS).
Somente depois de ouvir que não teria o dinheiro de volta é que foi se certificar da informação e descobriu que ela já havia sido denunciada três vezes, todas pela mesma situação: entregaram sinal para compra do imóvel e ficaram sem nada.
A prática irregular é recorrente. De janeiro a julho deste ano, 114 pessoas foram autuadas por exercício ilegal da profissão em Mato Grosso do Sul, todos, casos de estelionatários que se aproveitaram da boa fé de quem sonhava ter imóvel próprio. “Ela apresentou carteira de corretora, parecia tudo certo”.
Normal – Segundo Maurício, ele foi enganado pela aparente legalidade de Rejane, que mantinha escritório na região central da cidade. No início de 2015 ele e a esposa contrataram o serviço dela para compra da casa, em prazo de 45 dias.
Passado o período, não houve retorno. Quando entrou em contato, Rejane disse que havia encontrado o imóvel e chegou até a proporcionar visita.
Maurício gostou da casa e estava pronto para fechar o negócio. Ela, dizendo ser procuradora, elaborou contrato e pediu sinal de R$ 10 mil, além de R$ 1.748,00 da taxa de financiamento da CEF (Caixa Econômica Federal), vistoria do engenheiro e imposto de renda.
“Não tinha como desconfiar, ela fez contrato, apresentou documento de financiamento”, lembrou. Segundo Maurício, ela estava munida de procuração do dono do imóvel e parecia tudo correto.
Porém, depois de passar os R$ 10 mil e aguardar os 45 dias da negociação, nada aconteceu.
Passados três meses, procurou Rejane para desfazer o negócio e ouviu que não receberia nada, pois a devolução seria quebra de contrato. Maurício resolveu procurar o dono do imóvel. “Ele disse que nunca deu procuração para ela”. Foi quando percebeu o golpe.
Ele e o dono do imóvel registraram boletim de ocorrência por estelionato. “Fiz a denúncia num dia, no outro, a polícia foi no escritório, estava vazio”, disse o pedreiro. “Daí ela não me atendeu mais, disse que só me responderia perante o juiz”.
Em julho daquele ano entrou com ação indenizatória, sendo R$ 50 mil por danos morais e R$ 11.748,68 por danos materiais. Os dois voltaram a se reencontrar na primeira audiência do caso, em que ela negou qualquer irregularidade. Depois disso, não soube mais dela.
No dia 5 de agosto deste ano saiu a decisão de 1ª instância, dada pelo juiz Wilson Leite Corrêa, da 5ª Vara Cível, concedendo provimento parcial, sendo julgada totalmente procedente em relação ao dano material, sendo corrigido por R$ 13.848,00.
Segurança – a esperança de receber pelo dinheiro é remota. Segundo o presidente do Creci-MS, Eli Rodrigues, ela já foi autuada três vezes por exercício ilegal da profissão.
O presidente do conselho diz que é importante pedir o credenciamento e verificar a documentação. O documento tem um QR Code para que os dados possam ser verificados. Por questão de segurança, também deve entrar em contato com o Creci. Do contrário, não há como se precaver de cair em um golpe. “São contraventores, não são corretores; tem ânsia de auferir o direito dos honorários, sem responsabilidade e quem é ludibriado não tem a quem recorrer”.
No sistema do TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), constam outros cinco processos, em que Rejane foi denunciada por estelionato e outras fraudes. A reportagem não conseguiu contato com a suposta corretora.
Recomeço – depois do golpe, Maurício disse que nada voltou ao normal. Sem dinheiro para entrada de uma nova casa, e morando de aluguel, a relação com mulher se desgastou e eles se separaram no fim de 2015. Na partilha, a ex-esposa ficou com o salão de beleza que gerenciava e a pequena conveniência, já que os espetinhos eram feitos por ela.
Maurício resolveu voltar para a casa do pai, no bairro Taquarussu e construiu um quarto nos fundos do terreno. Há quatro anos, vive de bicos, tendo experiência como porteiro, motoboy, pedreiro, servente e costureiro.
Agora, vive sem grandes expectativas. Sem renda fixa, dificilmente terá como conseguir financiar uma casa. “Esse dinheiro eu vou tentar, mas é difícil; ganhar é uma coisa, receber é mais complicado”.
Fonte: Silvia Frias / Campo Grandes News
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