Pegos com grupo de extermínio, "jammers" serão usados contra crime
Policial do Bope com um dos bloqueadores de sinais eletromagnéticos que agora vão ser usados pelo Bope. (Foto: Silas Lima)
O uso de bloqueadores de sinais eletromagnéticos por criminosos é relatado no Brasil já tem tempo, mas só agora, como consequência da Operação Omertà, as forças de segurança em Mato Grosso do Sul terão os dois primeiros equipamentos do tipo.
Também chamados de jammers, os aparelhos estão desde o dia 14 de janeiro de posse do Bope (Batalhão de Operações Especiais), sediado em Campo Grande, e vão ficar na unidade no mínimo até o fim do processo contra organização criminosa com a qual foram apreendidos. O grupo é chefiado, segundo as investigações, pelos empresários Jamil Name e Jamil Name Filho, presos desde 27 de setembro do ano passado. No fim da ação, conforme o resultado, será definido o destino do material apreendido.
Foi o comando do Bope quem pediu para ficar com o material, operado ilegalmente por assaltantes de bancos, golpistas em caixas eletrônicos, ladrões de carros e, no caso dos envolvidos no grupo criminoso alvo da Omertà, pelos integrantes do núcleo de execução de desafetos da família Name, como indica o trabalho investigatório.
Um dos apontamentos é de que José Moreira Freires, o Zezinho, ex-guarda municipal indicado como pistoleiro de aluguel do grupo de extermínio, tenha se valido de um dos aparelhos durante execuções. Fez isso, de acordo com o trabalho policial, para anular o sinal da tornozeleira eletrônica que usava, em razão de condenação pelo assassinato do delegado aposentado Paulo Magalhães, ocorrido em 2012.
Como acabou de receber os jammers, o Batalhão agora vai entender melhor o que tem em mãos, informou ao Campo Grande News o subtenente da Polícia Militar Roberson de Oliveira Souza. “Vamos entrar agora nas fases de testes para ver a capacidade e daí definir a questão do emprego deles'', explica. Será preciso, de início, providenciar carregador para um dos instrumentos tecnológicos.
A capacidade referida pelo militar é o raio de “ação” do jammer, ou seja, qual é espaço físico em que ele elimina ou embaralha sinais eletromagnéticos, entre eles os de celular, os de alarmes, tornozeleiras ou aparelhos de radiofrequência e ainda GPS. Há produtos capazes de zerar as ondas em até cem metros quadrados, revelam as informações disponíveis em buscas na internet.
Desautorizados pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), os bloqueadores são encontrados em lojas virtuais, em alguns casos com o alerta de que a “responsabilidade é do comprador”.
A agência só permite a utilização em presídios, para impedir a comunicação via celular e radiocomunicadores. Fora disso, é considerada atividade clandestina de telecomunicação. Ou seja, crime, passível de pena de detenção de dois a quatro anos, aumentada da metade se houver dano a terceiro. Incorre na mesma pena quem, direta ou indiretamente, concorrer para o crime.
Para o bem – Na polícia, a intenção é usar o que antes era manuseado por bandidos no combate e repressão a atividades ilegais. Uma das circunstâncias levantadas pela reportagem é quando se torna necessário cortar a comunicação de infratores, como em motins e situações com reféns. O Bope atua também em situações de assaltos a bancos.
Negociador do Bope em situações de gerenciamento de crises, o subtenente Roberson é cuidadoso ao falar das possibilidades de aplicação justamente por envolver estratégia de combate ao crime. Cita, porém, a importância da autorizadação de uso dada pela Justiça. ''Vai fazer muita diferença”, resume.
“Primeiramente, propicia uma segurança melhor em resolução das ocorrências típicas da nossa natureza. E em uma questão secundária, é um tipo de equipamento que determinados criminosos utilizam para certas finalidades”, diz. “Para nós, acaba sendo uma tecnologia que temos acesso para fazer estudos e até adquirir técnicas para fazer frente com esses criminosos”, observa.
Relembre – Os bloqueadores agora entregues à unidade de operações especiais da Polícia Militar estavam junto com arsenal apreendido no dia 19 de maio de 2019, a partir da prisão do ex-guarda civil municipal dee Marcelo Rios, hoje cumprindo prisão preventiva no presídio federal de segurança máxima da Capital. Flagrado com armamento pesado por policiais do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros), Rios levou a polícia até uma casa onde foram encontrados mais armas, de grosso calibre, além dos bloqueadores de sinais eletromagnéticos e até arreiadores eletrônicos, esses últimos utilizados como instrumentos de tortura.
O imóvel era de Jamil Name, depois preso com mais vinte pessoas quando foi desencadeada a Operação Omertà.
Não foi a primeira vez que o Garras encontrou algo do tipo com bandidos. Em outra investigação de fevereiro de 2018 quando foi preso, em Cuaibá (MT), suspeito de furto ao Banco do Brasil no bairro Moreninhas, foi apreendido um equipamento semelhante. Neste episódio, os ladrões arrombaram a agência do bairro e levaram o cofre.
Em dezembro de 2019, em outro crime cinematográfico, bloqueadores de sinais foram achados na casa em que bandidos começaram túnel de 63 metros para tentar chegar ao cofre do Nuval (Núcleo de Valores do Banco do Brasil), no Bairro Coronel Antonino. O plano foi descoberto, dois bandidos foram mortos e sete presos.
Fonte: Marta Ferreira e Kerolyn Araújo / Campo Grandes News
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