Vítima de João de Deus acusa médium de abuso durante visita a Bonito em 2009

Promotor responsável pela investigação relatou que denúncia foi feita apenas 2h depois do Ministério Público divulgar que vítimas poderiam procurar a promotoria
18/12/2018 11:12 Policial
O médium e líder religioso João de Deus (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O médium e líder religioso João de Deus (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Até o momento, com origem em 14 estados e em outros 6 países, 506 mensagens foram recebidas pelos Ministérios Públicos estaduais, com relatos de abusos sexuais cometidos pelo médium João de Deus. Preso na tarde de segunda-feira (17), o líder religioso fez ao menos uma vítima em Bonito.

Quem recebeu a denúncia foi o promotor titular da 1ª Promotoria de Justiça de Bonito, João Meneghini Girelli, responsável pela investigação. Foi iniciativa do promotor divulgar uma matéria no site do MPMS (Ministério Público Estadual) para que as possíveis vítimas pudessem procurar o Ministério Público para serem ouvidas. Duas horas depois da matéria ir ao ar, contou, a promotoria recebeu a primeira denúncia.

“Tudo começou porque fiquei sabendo de familiares da presença dele em Bonito. Com esse conhecimento eu tomei a iniciativa de fazer uma reportagem interna para tentar divulgar para o público externo e para nossa surpresa em menos de 2h já teve uma ligação. Essa vítima disse que não queria ter muita dor de cabeça para prestar o depoimento, então falei: vamos fazer uma gravação sua por telefone, a gente combinou um horário determinado”, contou o promotor.

O médium visitou a cidade turística nos anos de 2008 e 2009 e em julho de 2009, relatou o promotor, o abuso aconteceu. “A história é semelhante, ela destacou que o médium a levou para um atendimento reservado e acabou praticando abusos”, comentou.

Risco de “caducar” – O caso de abuso que teria ocorrido em Bonito, ainda assim, corre o risco de “caducar”, assim como diversas denúncias contra João de Deus, conforme entrevista da delegada Karla Fernandes à Folha de São Paulo. O promotor explica, no entanto, que o caso é analisado com muito cuidado para que a denúncia possa ser apresentada.

“São ouvidas testemunhas, seria pessoas que na época ouviram ela comentar, viram ela traumatizada, viram ela em choque. Ela nunca escondeu de ninguém, muitas pessoas ouviram. Nesse caso específico vou assumir essa investigação”, afirmou.

Outra questão que permeia à investigação é a mudança no Código Penal, que ocorreu em agosto de 2009 e trouxe novas tipificações para crimes sexuais, além de penas mais elevadas. O caso do abuso em questão, no entanto, ocorreu antes da mudança da lei e dessa forma, explica o promotor, será enquadrado na lei antiga.

“A situação é um pouco delicada, a lei nova piorou a situação dos agressores, deu toda uma reformulação nesses crimes sexuais, acabou com muita velharia, colocou coisas novas. Eram muito mais brandas as penas”, esclarece o promotor. João explica que há possibilidade do abuso ser denunciado como violência presumida, grave ameaça ou caso da violação sexual mediante fraude.

O promotor, apesar dos desafios do caso, faz um alerta: o risco de “caducar” ou a legislação antiga não podem desestimular as vítimas a denunciarem.

“A nossa maior preocupação é a decadência, conhecido popularmente como o crime ‘caducou’. É uma coisa que estamos atentos, porque muitos casos não podem ser levados a justiça. Estou falando com o pessoal do ministério público. Estamos avaliando, estamos com calma nessa situação porque não queremos desestimular as denúncias”, declarou.

Prisão – Foragido, o líder religioso se entregou às autoridades de Goiânia na segunda-feira (17). Nesta terça (18), no entanto, a Justiça de Goiás pode decidir o pedido da defesa, que entrou com habeas corpus para transformar a decisão judicial de prisão preventiva em prisão domiciliar com tornozeleira. A defesa argumenta a idade avançada e no estado de saúde de João de Deus.

O Ministério Público Estadual de Goiás criou uma força-tarefa para investigar as denúncias de abuso sexual, que teriam ocorrido desde a década de 80 até outubro do ano passado.

Fonte: Izabela Sanchez / Campo Grandes News

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