A luta de Lula para não ser esquecido e eleger Haddad
Nem tão cedo Lula sairá da cadeia. Foi o que ouviu de advogados que cuidam de sua defesa em Curitiba, São Paulo e Brasília. A não ser que uma decisão judicial o beneficie, ficará preso à espera que o presidente a ser eleito em outubro próximo tome posse em 1º de janeiro e possa ajudá-lo a ir para casa via uma anistia ou algum outro tipo de indulto.
Caso até lá Lula seja condenado em outro processo, a situação dele ficará mais complicada, e o tempo que passará na cadeia, mais longo, segundo advogados. Quanto a uma eventual decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que o ponha em liberdade em curto prazo, seus advogados não põem a menor fé nisso, embora publicamente digam o contrário.
Consideram remota a possibilidade de o STF votar nesta quarta-feira as duas ações diretas de inconstitucionalidade que têm o ministro Marco Aurélio Mello como relator e que se, aprovadas, poriam fim à prisão em segunda instância. Se fossem votadas, estão certos de que elas seriam rejeitadas, inclusive, com o voto da ministra Rosa Weber.
Por ora, restaria a Lula, e ao seu partido, lutarem para mantê-lo politicamente forte até que o Tribunal Superior Eleitoral rejeite em agosto, de preferência em setembro, o registro de sua candidatura à sucessão do presidente Michel Temer. O registro será pedido no final de julho. Lula e seus advogados e a direção do PT sabem que será negado.
Mas assim, pelo menos, ele chegaria às vésperas das eleições vivo, vivíssimo na memória dos eleitores, e influente. Dessa forma, sua palavra de apoio a qualquer nome do PT que o substitua como candidato teria um peso expressivo. Esse nome, hoje, seria o de Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo. Dificilmente haverá outro até lá.
A candidatura de Haddad só será lançada no último minuto do jogo que começou a ser jogado antes mesmo da decretação da prisão de Lula pelo juiz Sérgio Moro. O PT acha que não ganharia nada se antecipasse o lançamento. Haveria o risco de diluir-se até início de outubro o efeito do apoio de Lula ao candidato.
A solidão de Lula na cadeia é o que mais preocupa os que lhe são próximos. Lula viveu cercado de gente desde que se tornou diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo no final dos anos 70. Seu principal instrumento de trabalho sempre foi a palavra. Está só numa cela da Polícia Federal em Curitiba. Sozinho, tomará banhos de sol.
A depressão é o fantasma que mais assombra pessoas como ele condenadas, de repente, à solidão. É por isso que, em breve, seus advogados tentarão transferi-lo para algum presídio do Paraná onde possa conviver com outros presos. Se não na mesma cela por motivos de segurança, mas pelo menos nas horas dos banhos de sol coletivos.
Fonte: Ricardo Noblat / Veja
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