Bilhete de Marcelo Odebrecht para advogados dizia para destruir e-mail sondas

25/06/2015 01:24 Política
Agentes da Polícia Federal fizeram cópia de bilhete do presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, para advogados.. Reprodução
Agentes da Polícia Federal fizeram cópia de bilhete do presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, para advogados.. Reprodução

A Polícia Federal apreendeu um bilhete manuscrito pelo presidente da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, no qual há a expressão “destruir e-mail sondas. US RR”. O bilhete começa com a frase “pts p/ o hc” e lista uma série de pontos que fazem referência a acusações contra a empreiteira. O empresário, que estava fora da cela para encontrar com seus advogados, afirmou aos agentes federais que o bilhete seria entregue a eles. O bilhete foi apreendido por volta de 10 horas da última segunda-feira, foi fotocopiado pela PF e encaminhado ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, na manhã desta quarta-feira.

Um dos agentes da PF que faziam a segurança do local acredita que o empresário tenha uma “mania”, pois sempre sai da cela com algum papel escrito nas mãos e presume que ele tenha sido ingênuo ao imaginar que seu bilhete não seria examinado pelos policiais, como é praxe nas prisões do país. Outra possibilidade, segundo o agente declarou em depoimento à PF, é que o empresário tenha feito as anotações para que ele mesmo se lembrasse de pontos a serem conversados com os advogados. De acordo com o agente, Marcelo Odebrecht se encontraria naquele momento com quatro de seus defensores.

Convocados pelo delegado da PF a falarem sobre o teor do bilhete, os advogados da Odebrecht, Dora Cordani e Rodrigo Rios, afirmaram que o verbo “destruir” se referia a uma estratégia processual e não supressão de provas. Segundo eles, o bilhete original já havia sido levado para São Paulo. Segundo o delegado Eduardo Mauat afirmou na representação encaminhada a Moro, os advogados foram informados que, independentemente da posição deles, “havia clara possibilidade” de ter havido orientação para a prática de conduta estranha à relação advogado-cliente. Os advogados teriam sido avisados que deveriam entregar o bilhete original em 24 horas. Porém, segundo Mauat, até a manhã desta quarta-feira eles não o fizeram.

Os agentes da PF disseram ter tido dificuldade inicial de entender o bilhete, devido à letra do empresário, mas que conseguiram identificar rapidamente a expressão “destruir e-mail sondas”.

O bilhete de Odebrecht, logo após a expressão "destruir e-mail sondas vs RR" diz: "e-mail rr era da Braskem assim que conseguir recuperar por lá história de iniciativa André Esteves. Lembrar que naquela época sete = Petrobras off balance portanto ajudar Sete era visto como ajudar Petrobras.

A Polícia Federal havia apreendido na sede da Odebrecht em São Paulo um e-mail enviado pelo executivo Roberto Prisco Ramos para executivos da Odebrecht, incluindo Marcelo Odebrecht. Neste e-mail, cujo assunto é “sondas”, havia menção a sobrepreço, que a Odebrecht alegou ser uma expressão de mercado. O e-mail foi endereçado ainda para Márcio Faria e Rogério Araujo, dois executivos da Odebrecht apontados por delatores da Lava-Jato como representantes da Odebrecht no cartel que agia na Petrobras.

A Sete Brasil foi criada para produzir sondas para o pré-sal e tem como maior acionista o banco BTG Pactual, do banqueiro André Esteves.

E-MAIL É PRINCIPAL PROVA DO MPF
A existência deste e-mail de Ramos, endereçado a Marcelo Odebrecht, é uma das principais provas apresentadas pelo Ministério Público Federal de que o presidente da Odebrecht sabia das manobras do cartel e participava diretamente delas.

“Falei com o André em um sobre-preço no contrato de operação da ordem de $20-25000/dia (por sonda). Acho que temos que pensar bem em como envolver a UTC e OAS, para que eles não venham a se tornar futuros concorrentes na área de afretamento e operação de sondas. Já temos muitos brasileiros “aventureiros” neste assunto (Schahim, Etesco...)”

O “André” citado neste e-mail pode ser André Esteves, cujo nome foi grafado inteiramente no bilhete de Marcelo Odebrecht a seus advogados.

O delegado da PF informou o juiz Moro que notificou a Braskem, desde as buscas realizadas na sede da empresa, a apresentar em cinco dias os arquivos da caixa de e-mail de Ramos, que ficam guardados em empresa terceirizada.

A PF acredita que Marcelo Odebrecht tenha se referido a Roberto Prisco Ramos como “RR” no bilhete manuscrito apreendido com ele na carceragem.

A Braskem afirmou em nota que todo o conteúdo do e-mail, incluindo a operação de sondas, não tem relação com qualquer atividade da Braskem. A empresa diz que Prisco Ramos trabalhou na Braskem até dezembro de 2010 e, na data da referida mensagem, já havia sido transferido para outra empresa da Organização Odebrecht.

ADVOGADA DIZ QUE PF TENTA TUMULTUAR
A advogada de Marcelo Odebrecht, Dora Cavalcanti, acusou a Polícia Federal de “tentar tumultuar o processo para justificar a prisão ilegal” de seu cliente. A advogada não negou que o bilhete do empresário tenha a expressão “destruir e-mail sonda”, mas afirmou que o sentido não era de destruição de provas, mas de rebater a prova, que é uma das principais da acusação ao presidente da Odebrecht.

— Como ele (Marcelo Odebrecht) teria mandado destruir um documento que já estava apreendido desde novembro e que foi um dos objetos da prisão? —questionou a advogada ao GLOBO.

Dora Cavalcanti informou que ingressou com uma petição ainda na noite de ontem para o juiz Moro justificando o conteúdo do bilhete, flagrado por agentes da carceragem onde Odebrecht está preso. A advogado disse ainda que estuda levar o episódio para a Ordem dos Advogados do Brasil como um caso de "violação de correspondência entre o preso e seus advogados".

Na petição a Moro, a advogada Dora Cavalcanti afirma que o bilhete versava sobre vários pontos do longo decreto de prisão e refletia o anseio de seu cliente em exercer sua autodefesa e contribuir com o trabalho de seus advogados.

Segundo ela, a palavra "destruir" foi usada no sentido de "descontituir", "rebater" e "infirmar" e que a interpretação da PF foi equivocada e as considerações do delegado da PF "fazem antever a lastimável determinação de criar celeuma onde não existe". A advogada afirmou que logo abaixo estão registrados os argumentos e fatos que deveriam ser invocados para elucidar o teor do dito e-mail apresentado como comprometedor".

Para Dora, não faria sentido destruir mensagem que já havia sido apreendida pela Polícia Federal e que Marcelo Odebrecht a entregou na mão de um agente federal justamente porque nada continha de irregular ou ilegal.

A advogada reclama que a comunicação do empresário com seus advogados foi devassada pela autoridade policial, “maliciosamente interpretada”, e quando isso acontece o direito de defesa está sob ataque.

Para Dora, a ação da Polícia federal, foi "um flagrante preparado". Procurado pelo GLOBO, o delegado Eduardo Mauat disse que não iria "bater boca" com advogados.

Segundo a advogada da Odebrecht, o delegado lhe disse que deixou passar o bilhete para ver a reação dos advogados diante do pedido de Marcelo.

- Ultrapassamos as raias do absurdo - disse Dora na petição encaminhada ao juiz Moro, que ainda não se pronunciou sobre a polêmica.

 

Fonte: Cleide Carvalho e Germano Oliveira, do O Globo

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