Cunha recebeu 9,4 milhões de reais em propina por obra em MS, diz delator

01/07/2016 16:28 Política
Fábrica de celulose da Eldorado Brasil em Três Lagoas (MS). (Foto: Arquivo/CampoGrandeNews)
Fábrica de celulose da Eldorado Brasil em Três Lagoas (MS). (Foto: Arquivo/CampoGrandeNews)

O ex-vice presidente da Caixa Fábio Cleto revelou em delação premiada que o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha PMDB-RJ), teria recebido cerca de R$ 9,4 milhões em propina na captação de recursos feita em 2012 pela Eldorado Brasil junto ao Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS) para construção da fábrica de celulose de Três Lagoas, a 338 quilômetros de Campo Grande.3

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Em depoimentos prestados à PGR (Procuradoria-Geral da República ), Fábio Cleto disse, que o valor pleiteado inicialmente foi de R$ 1,8 bilhão para obras da unidade, mas acabou reduzido para R$ 940 milhões. Nesse caso, Cleto disse acreditar que Cunha tenha recebido valor superior a 1% como comissão, ou seja, cerca R$ 9, 4 milhões.

O delator contou que a negociação do aporte foi feita com o controlador da J&F, Joesley Batista, supostamente apresentado a ele num jantar em sua casa pelo operador do mercado financeiro Lúcio Bolonha Funaro, preso nesta sexta-feira (1).

A fábrica da Eldorado Brasil em Três Lagoas, construída em dois anos, começou a produzir em novembro de 2012. Na época, a inauguração foi festejada por autoridades do Estado e, inclusive, contou com a presença do então vice-presidente Michel Temer e representantes do grupo J&F, que também controla a Friboi.

A unidade tem capacidade para produzir 1,5 milhão de tonelada de celulose por ano, total que deve ser alçando no próximo ano. Até então, a maior fábrica tem potencial de produzir 1,3 milhão de tonelada. Em 2017, deve ser aberta mais uma linha de produção. Em 2020, será ativada a terceira linha. Em 2021, a meta é alcançar 5 milhões de toneladas de celulose por ano.

Captação de propinas
Fábio Cleto relatou ainda, que Cunha teria recebido propinas em mais 11 operações de grupos empresariais. As comissões variavam de 0,3%, 0,5% ou até mais de 1% dos repasses feitos pelo fundo, conforme fonte com acesso às investigações relatou ao jornal "O Estado de S. Paulo".

Cleto foi vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa entre 2011 e dezembro do ano passado, indicado ao cargo por Cunha. Ele integrava também o Comitê de Investimento do FI-FGTS, colegiado que aprova os repasses de recursos em empresas.

Aos procuradores da Operação Lava Jato, o delator contou que tinha reuniões semanais com o peemedebista, em Brasília, para informar de forma pormenorizada quais grupos buscavam apoio do banco público e definir quais seriam os alvos do achaque.

Conforme o relato aos investigadores, esses encontros ocorriam todas as terças-feiras, por volta das 7h30, primeiro no apartamento funcional do deputado. Depois que ele assumiu a Presidência da Câmara, teriam passado a ocorrer na residência oficial da Casa, no Lago Sul.

Para confirmar os encontros, ele indicou à PGR o nome do motorista da Caixa que o levava. Também entregou cópias de seus votos no comitê do FI-FGTS e uma planilha com a prestação de contas do esquema, produzida pelo por Funaro.

Cleto explicou que, ao tomar conhecimento das informações, Cunha apontava quais aportes lhe interessavam e pedia que o vice-presidente da Caixa trabalhasse para viabilizar a aprovação. Nos demais casos, a ordem seria para "melar" as operações.

Defesa
Ao jornal Folha de S. Cunha disse desconhecer o "o conteúdo da delação" de Cleto e que, por isso, não poderia comentar detalhes.

"Reitero que o cidadão delator foi indicado para cargo na Caixa, pela bancada do PMDB/RJ, com meu apoio, sem que isso signifique concordar com qualquer prática irregular. Desminto, como aliás já desmenti, qualquer recebimento de vantagem indevida. Se ele cometeu irregularidades, que responda por elas", disse ao jornal.

 

Fonte: Michel Faustino, do Campo Grande News

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