Délia Razuk confirma que disputará a Prefeitura de Dourados em 2016

11/05/2015 14:05 Política
Marcos Santos, O Progresso
Marcos Santos, O Progresso

Délia Godoy Razuk é uma mulher determinada. Eleita vereadora em 2008 com a maior votação entre os nomes que conquistaram uma cadeira na Câmara Municipal de Dourados, ela decidiu que disputaria a prefeitura em 2012. No meio do caminho, a Operação Uragano colocou quase toda a Câmara Municipal atrás das grades e como única parlamentar sem envolvimento em qualquer esquema de corrupção, Délia foi eleita presidente do Poder Legislativo e acabou sendo nomeada prefeita interina pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, entrando para a história política douradense como a primeira mulher a ser prefeita da cidade.

Em apenas 120 dias, Délia Razuk promoveu uma verdadeira revolução, devolvendo a governabilidade ao município e coordenando mudanças estruturais que até hoje beneficiam a população. Traída pelo Diretório Municipal do PMDB, que preferiu apoiar outra candidatura ao invés de colocá-la na disputa pela Prefeitura de Dourados ainda em 2012, ela decidiu, então, disputar um novo mandato na Câmara Municipal e, mais uma vez, foi a mais votada entre todos os eleitos.

Em 2014, Délia Razuk disputou uma cadeira na Assembleia Legislativa e recebeu 19.938 votos, sendo 11.181 votos somente no município de Dourados e só não foi eleita porque o próprio PMDB trabalhou contra, apoiando outros candidatos no reduto eleitoral da vereadora e boicotando a campanha dela em outras cidades como em Campo Grande, por exemplo. Agora, Délia Razuk está decidida a disputar a Prefeitura de Dourados em 2016 e já comunicou ao cacique-mor André Puccinelli, que deixará o PMDB nas próximas semanas. Confira a entrevista onde ela fala sobre seu futuro político, analisa o quadro sucessório em Dourados, relembra o trabalho desenvolvido como prefeita e comenta seu mandato na Câmara Municipal, além, de tornar pública a traição sofrida dentro do PMDB:

Como a senhora está acompanhando o processo político em Dourados em ano pré eleitoral?
Délia Razuk – Vejo que os partidos começam a se movimentar para fortalecer suas pré-candidaturas ou para conquistar adesão de nomes de peso, capazes de liderar um projeto pela Prefeitura de Dourados. Muitas legendas estão passando por mudanças já visando as eleições municipais, mas outros partidos, como o PMDB, por exemplo, devem sofrer um processo de esvaziamento em razão da forma como estão sendo conduzidos. De qualquer maneira, entendo que as eleições de 2016 serão uma das mais disputadas dos últimos tempos, com bons nomes na corrida pela Prefeitura de Dourados.

A senhora colocará seu nome nessa disputa?
Sim! Vou disputar a Prefeitura de Dourados em 2016 e entendo que os 11.181 votos que recebi no ano passado, quando nossa cidade foi invadida por inúmeras candidaturas de fora para a Assembleia Legislativa e muitos nomes gastaram milhões na campanha e tiveram uma votação abaixo do esperado, me habilitam a concorrer ao cargo de prefeita com possibilidades reais de vitória.

Como está sua relação com o PMDB, sobretudo depois do que ocorreu nas eleições estaduais de 2014?
Não existe mais relação partidária e desde o ano passado deixei de ser uma soldada do PMDB. A cúpula do partido nunca deu respaldo para o meu trabalho, mesmo eu sendo a única vereadora da legenda na segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul. O comando do partido nunca reconheceu meus esforços em favor do PMDB e, tampouco, valorizou as renúncias que fiz em nome do partido. Ademais, não recebi qualquer respaldo do comando estadual ou do Diretório Municipal quando disputei uma cadeira na Assembleia Legislativa, pelo contrário, o PMDB preferiu colocar seus candidatos a deputado federal para dobrar com nomes de outras legendas ao invés de prestigiar a candidatura de alguém que sempre honrou o partido.

Dentro desse contexto a senhora analisa a possibilidade de deixar o PMDB?
Sim, estou sendo procurada por vários partidos, sobretudo por aqueles em que tenho amigos, e decidirei meu destino tão logo o Congresso Nacional aprove a reforma política que está em curso, o que deve ocorrer antes do recesso parlamentar do meio do ano.

Como as lideranças estaduais do PMDB receberam sua decisão de deixar o partido?
Estive semana passada com o ex-governador André Puccinelli onde comuniquei a decisão de sair do PMDB. Deixei bem claro os motivos que me levaram a essa decisão e o governador, apesar de tentar me convencer a mudar de ideia, acabou entendendo minha motivação. Outros nomes importantes da legenda, como o deputado estadual Marquinhos Trad, também apoiam minha decisão, mesmo porque está mais do que claro que muitas outras lideranças vão deixar o PMDB nas próximas semanas por não concordarem com a forma como a legenda está sendo conduzida nas Executivas Municipais.

Como seu grupo político recebeu essa decisão de deixar o PMDB?
Meu grupo político foi o primeiro a apoiar a iniciativa. Aliás, as pessoas que acompanham minha jornada política já defendiam há muito tempo minha saída do PMDB, mesmo porque todos percebiam que o partido não respaldava nossas ações e não apoiava nossos projetos. Todos do meu grupo político enxergavam a falta de interesse da cúpula do PMDB em minha eleição para a Assembleia Legislativa, sobretudo nas alianças informais que o partido firmou com outras legendas em detrimento da nossa candidatura.

Em algum momento a senhora se sentiu traída pelo PMDB?
Sim! Sempre abri mão de outras candidaturas para fortalecer o partido, mas na hora em que me apresentei como candidata a Assembleia Legislativa não tive respaldo do PMDB. Em Dourados, por exemplo, candidatos a deputado federal do PMDB preferiram lançar outros nomes ou apoiar candidatos de outros partidos, ao invés de apoiarem minha candidatura. Tudo isso sob as bênçãos do comando estadual da legenda que, ao invés de atuar para fazer valer o projeto do partido, preferiu jogar contra minha candidatura. Ainda assim, recebi 19.938 votos para deputada, sendo 11.181 votos somente no município de Dourados. Aliás, não sou a única a sofrer com a traição do PMDB. Veja o que acontece hoje com o deputado estadual Marquinhos Trad, que é perseguido dentro do partido e tiraram dele até mesmo a presidência de uma CPI que ele trabalhou para instalar. A diferença é que o Marquinhos Trad grita e eu não. Contudo, caso ele saia do PMDB, o que tudo indica ser o mais provável, mesmo na condição de primeira suplente não pedirei a vaga dele por infidelidade partidária porque entendo que sendo vítima de perseguição a saída dele do partido é legítima.

O que a senhora coloca como credencial para disputar a Prefeitura de Dourados?
A principal credencial é o trabalho que desenvolvo como vereadora e, sobretudo, o que realizei como prefeita por 120 dias. Durante o período de interinidade recuperei a normalidade administrativa e encaminhei a transição político para entregar a prefeitura com dinheiro em caixa. Em quatro meses de trabalho firmei com a Superintendência da Caixa Econômica Federal, convênio da ordem de R$ 8 milhões para a segunda etapa do programa habitacional do conjunto Dioclécio Artuzi; determinamos a realização de um novo sorteio, entre os candidatos inscritos para os programas habitacionais a fim de completar a locação existente nas unidades construídas nos conjuntos Altos do Indaiá I, Altos do Alvorada I e II, Novo Horizonte e Estrela do Leste e encaminhei Lei à Câmara para que as casas fossem entregues por sorteio público; garantimos o convênio para construção da Praça da Juventude, dei ordem de serviço para a construção da UPA 24 horas, que hoje está funcionando, e do Pronto Atendimento Infantil (PAI); garantimos uma economia de mais de 40% nos preços praticados pelas empreiteiras que venciam as licitações para serviços de tapa-buraco; assinei seis convênios com a Caixa Econômica Federal para investimento de R$ 3.257.494,65 em projetos das áreas de saúde, esporte e lazer e agropecuária; determinamos a conclusão das obras e reabertura da Praça Antônio João, que estava interditada desde 2008 e promovemos um Natal Iluminado que até hoje é realizado pelo governo municipal; agilizamos o processo de recuperação do Estádio Douradão; valorizamos os servidores públicos municipais com aumento real de salário e convoquei aprovados em concurso público que iria caducar; viabilizamos a mudança do Hospital da Mulher para o Hospital Universitário; desenvolvemos uma campanha de prevenção à dengue que deixou Dourados livre da epidemia no ano seguinte; determinamos mutirões de cirurgias de ginecologia e obstetrícia, atendendo cerca de 200 mulheres que aguardavam na fila por quase três anos; a reativação da Banda Lira Douradense; agilizamos a documentação para entregar 17 veiculos à área da saúde que estavam parados no pátio por falta de documentaçao; providenciamos veículos para o Conselho Tutelar e a Assistência Sociall. Foram ainda tantas outras ações nas áreas de esporte, lazer, ação social e meio ambiente que dariam uma outra entrevista.

Seu trabalho na Câmara também repercute nessa candidatura?
Sim! Primeiro porque trabalho com independência e penso sempre no cidadão, no bem estar da minha comunidade. Não estou na Câmara Municipal a serviço de grupos, mas para atuar na fiscalização do erário, na votação de projetos importantes para minha cidade. Tenho muito orgulho da postura que tenho como vereadora e sei que os eleitores enxergam em mim uma representante deles no Poder Legislativo.

Nas últimas eleições a senhora sempre foi a mais votada. O que a senhora espera dos seus eleitores na ano que vem?
Espero que eles façam de mim a candidata mais votada outra vez (risos). Sempre me preocupei em honrar cada voto recebido, pois assim tenho condições de olhar para cada eleitor e pedir mais um voto de confiança na eleição seguinte. Penso que as pessoas reconhecem o trabalho que realizo na política e a cada dia me surpreendo com as manifestações espontâneas de carinho que recebo. Dia desses, por exemplo, ao analisar meus guardados encontrei um texto do saudoso advogado Isaac Duarte de Barros Júnior que falava com muita propriedade do meu trabalho e quero compartilhar parte deste texto com os leitores: “Assistindo no doméstico conforto dos seus eleitores silenciosos, meu coração mestiço vibrou de emoção, assistindo televisivamente à imagem de uma mulher com sangue e belos traços da etnia guarani, caminhar lentamente pela estrada estreita da história e assumir a chefia do executivo municipal douradense. Discreta, altiva como são todas as pessoas de origem paraguaia, vi uma esposa, mãe e avó dedicada, atendendo as liturgias do cerimonial legislativo, parar e levantar a mão direita, para em seguida prestar seu juramento de posse como a primeira mulher na função municipal douradense.

Naquele instante, com ela, finalmente um descendente direto dos verdadeiros desbravadores destas terras, chegava ao comando da maior cidade do interior sul-mato-grossense. Meus olhos, incendiados pela expectativa, acompanharam emocionados o momento solene. Sugestionado, me pareceu ouvir as vozes saudosas dos antigos ervateiros, pedindo bênçãos em orações sinceras a Caá-vari, entidade feminina mitológica dos ervais, protetora daqueles nativos desencarnados. Colocando definitivamente seu retrato na galeria dos prefeitos douradenses, a crise institucional que envergonhou o município de Dourados chegava ao fim. Aliás, nos tempos dos ervais, as mulheres como ela, aquelas companheiras fiéis dos carregadores de raídos para os barbácuas no meio do caatin, pediam sempre a assessoria de ibopáguá, para cuidar das sobras. E como sobram problemas para resolver na municipalidade, sua raça vai mostrar capacidade, vestida da delicadeza inteligente dessa ilustre senhora.”

 

Fonte: O Progresso/Agoranews

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