Em gravação, Sarney diz que delação de Odebrecht é "metralhadora"
Em foto de 2011, Sérgio Machado, então presidente da Transpetro, em coletiva da Petrobras no Rio de Janeiro. Foto: Tasso Marcelo/Estadão Conteúdo/Arqu
Em gravação divulgada nesta quarta-feira (25) pelo jornal “Folha de S.Paulo”, o ex-presidente e ex-senador José Sarney (PMDB-AP) afirmou que eventuais delações premiadas de executivos da empreiteira Odebrecht, no âmbito da Operação Lava Jato, são "uma metralhadora de [calibre] ponto 100".
Foram reveladas conversas que Sarney teve em março deste ano com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que firmou acordo de delação premiada. Em um dos diálogos, Machado afirmou, em referência a Lava Jato, que a classe política está acabada” e que o momento é de “salve-se quem puder".
Em março, o grupo Odebrecht anunciou que, além de um acordo de leniência já em curso com a Controladoria Geral da União (CGU), todos os executivos da empreiteira concordaram em fazer acordos de delação – o que, em nota, a empresa chamou de "colaboração definitiva", sem dar mais detalhes.
Em nota, Sarney disse lamentar que "conversas privadas tornem-se públicas, pois podem ferir outras pessoas que nunca desejaríamos alcançar". O ex-presidente também disse que conhece o ex-senador Sérgio Machado "há muitos anos” (veja íntegra da nota ao final do texto).
PSDB e temores da classe política
Em um dos diálogos publicados pelo jornal, Machado afirma que o governo de Dilma Rousseff acabou. "Agora, se a gente não agir... Outra coisa que é importante para a gente, e eu tenho a informação, é que para o PSDB a água bateu aqui também. Eles sabem que são a próxima bola da vez", afirmou, em referência à Operação Lava Jato, ao que Sarney respondeu que “eles sabem que não vão se safar”.
O ex-presidente da Transpetro concordou: "E não tinham essa consciência. Eles achavam que iam botar tudo mundo de bandeja... Então é o momento dela para se tentar conseguir uma solução a la Brasil, como a gente sempre conseguiu, das crises". E completou: "Tem que construir uma solução. Michel [Temer] tem que ir para um governo grande, de salvação nacional, de integração e etc etc etc".
Segundo a reportagem, os dois falaram sobre os temores de toda a classe política. "Tá todo mundo se cagando, presidente. Todo mundo se cagando. Então ou a gente age rápido. O erro da presidente [Dilma] foi deixar essa coisa andar. Essa coisa andou muito. Aí vai toda a classe política para o saco. Não pode ter eleição agora", afirmou Sérgio Machado.
Em outra conversa, também divulgada pela "Folha", Sarney criticou a decisão do Senado de referendar a prisão do ex-senador Delcídio do Amaral no âmbito da Lava Jato. Machado afirmou que “a classe política está acabada” e que o momento é de “salve-se quem puder”. O ex-presidente da Transpetro alerta, então, que “nessa coisa de navio que todo mundo quer fugir, morre todo mundo.”
Após Sarney dizer que a oposição admitiu "diante de certas condições" apoiar Michel Temer para a presidência, Machado disse: "Não tem outra alternativa. Eles vão ser os próximos. Presidente: não há quem resista à Odebrecht".
Menções a Dilma
De acordo com a reportagem, Sarney relata ainda um episódio relacionado à Odebrecht em que a presidente afastada Dilma Rousseff está "envolvida diretamente".
"Nesse caso, ao que eu sei, o único em que ela [Dilma] está envolvida diretamente é que falou com o pessoal da Odebrecht para dar para campanha do... E responsabilizar aquele [inaudível]", diz Sarney.
A relação entre Dilma e Odebrecht também foi mencionada em uma conversa entre Machado e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Na ocasião, o ex-presidente da Transpetro afirmou que, com as informações de Renan de que "a Odebrecht vai tacar um tiro no peito dela [Dilma]", a presidente afastada "não tem mais jeito".
O ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que tem feito a defesa de Dilma, disse à "Folha de S.Paulo" que é "impossível entender exatamente" a totalidade da frase de Sarney que relaciona a presidente afastada e a Odebrecht, mas que Dilma "nunca pediu a ninguém contribuições ilegais de campanha."
O G1 também procurou a assessoria da presidente afastada Dilma Rousseff, e aguardava resposta até a última atualização desta reportagem.
'Lula acabou'
Em uma das conversas com Sarney, Machado citou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao falar sobre o processo de impeachment de Dilma. "Vamos fazer uma estratégia de aproveitar porque acabou. A gente pode tentar, como o Brasil sempre conseguiu, uma solução não sangrenta. Mas se passar do tempo ela vai ser sangrenta. Porque o Lula, por mais fraco que esteja, ele ainda tem... E um longo processo de impeachment é uma loucura. E ela perdeu toda..."
Mais adiante, o ex-senador pergunta se só os empresários e políticos "vão pagar". "E o governo que fez isso tudo, hein?" Então, Machado disse: "Acabou o Lula, presidente". Sarney concordou: "O Lula acabou, o Lula coitado deve estar numa depressão".
Procurado, o Instituto Lula informou que não vai comentar o conteúdo das gravações.
Oferta de ajuda a Machado
Em um dos diálogos gravados, Sarney prometeu ao ex-presidente da Transpetro que poderia ajudá-lo a evitar a transferência do seu caso para o juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba. Segundo o jornal, a ajuda seria "sem meter advogado no meio".
"O tempo é a seu favor. Aquele negócio que você disse ontem é muito procedente. Não deixar você voltar para lá [Curitiba]", disse o ex-presidente.
Machado ainda não é investigado formalmente no Supremo Tribunal Federal (STF), mas o procurador-geral da República Rodrigo Janot pediu a inclusão do nome dele no principal inquérito da Lava Jato. Machado presidiu a Transpetro, que é uma subsidiária da Petrobras, entre 2003 e 2015. Ele se desligou da petroleira após denúncias de envolvimento na Lava Jato.
Sarney teria manifestado preocupação sobre eventual acordo de delação premiada a ser fechado pelo ex-presidente da Transpetro. "Nós temos é que fazer o nosso negócio e ver como é que está o teu advogado, até onde eles falando com ele em delação premiada", disse Sarney, segundo o jornal. Em seguida, Machado teria respondido que havia insinuações, provavelmente da Procuradoria-Geral da República, sobre uma delação.
Segundo a reportagem, Machado concordou de imediato que "advogado não pode participar disso", "de jeito nenhum" e que "advogado é perigoso". Sarney repetiu três vezes: "Sem meter advogado".
A reportagem informa que a estratégia estabelecida por Sarney não fica inteiramente clara ao longo dos diálogos obtidos pelo jornal, mas envolvia conversas com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e com o senador Romero Jucá (PMDB-RR).
Pedido de reunião
O jornal informa, ainda, que Machado pediu que Sarney entrasse em contato com ele assim que estabelecesse horário e local para reunião entre eles e Renan.
"E o Romero também está aguardando, se o senhor achar conveniente", teria afirmado Machado. Sarney respondeu que não achava conveniente. "Não? O senhor dá o tom", respondeu Machado, segundo a reportagem.
Outro lado
A Odebrecht informou que não iria se manifestar. Veja a íntegra da nota de José Sarney:
Conheço o Senador Sérgio Machado há muitos anos. Fomos colegas no Senado Federal e sempre tivemos uma relação de amizade que continuou depois que deixei o Parlamento.
As conversas que tive com ele nos últimos tempos foram sempre marcadas, de minha parte, pelo sentimento de solidariedade, característica de minha personalidade. Nesse sentido, muitas vezes, procurei dizer palavras que, em seu momento de aflição e nervosismo, levantassem sua confiança e a esperança de superar as acusações que enfrentava.
Lamento que conversas privadas tornem-se públicas, pois podem ferir outras pessoas que nunca desejaríamos alcançar.
José Sarney
Fonte: G1
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