Temeroso, governo tenta afagar Cunha e terá dificuldades para pacificar PT
BRASÍLIA (Reuters) - Temerosos do poder do PMDB no Congresso Nacional e, principalmente, com a força política do novo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sobre os demais partidos aliados, ministros teceram elogios públicos nesta segunda-feira ao peemedebista e começaram a tentar reconstruir as pontes que foram dinamitadas na disputa da Câmara.
Há ainda uma dificuldade adicional para essa reaglutinação da base: o PT. A bancada da Câmara vive um momento de disputa interna, num ambiente de ampla desconfiança, que se ampliou após a disputa pela presidência da Casa, e parte dos petistas segue revoltada com a escolha do deputado Pepe Vargas (PT-RS) para a Secretaria de Relações Institucionais e não reconhece sua articulação política.
"Serão anos difíceis", resumiu um deputado e ex-ministro petista à Reuters sob condição de anonimato nesta segunda-feira ao analisar as sequelas das eleições da Câmara.
"Nós estamos num gueto e fomos levados até lá por parte dos nossos colegas e por alguns integrantes do governo", avaliou esse petista, argumentando que o resultado da eleição de domingo só confirmou o isolamento que o PT vem sofrendo dos aliados desde as eleições presidenciais.
Uma fonte do governo disse à Reuters, sob condição de anonimato, que a situação do PT é um tempero adicional, mas não o prato principal para a articulação política. "Mas temos um contexto mais complexo, que exigirá mais articulação. Mas acho que nesse momento tem muito trovão e poucos raios", analisou.
A ordem da presidente Dilma Rousseff, após analisar o resultado da eleição com seus principais ministros na noite do domingo, é esquecer o mais rápido possível a derrota, assimilar os erros e agir para se reaproximar do PMDB, especialmente de Cunha, e juntar novamente a base aliada, segundo relato de um ministro à Reuters, que pediu para não ter seu nome revelado.
Uma fonte do Palácio do Planalto disse que a derrota na Câmara não surpreendeu o governo, mas sua dimensão sim. Nas avaliações levadas a Dilma, o candidato do PT, Arlindo Chinaglia (SP), ex-líder do governo, tinha condições de disputar o segundo turno contra Cunha.
E mesmo que não conseguisse a articulação feita pelo governo deveria lhe dar muito mais dos que os parcos 136 votos. Na reunião, o lançamento da candidatura petista foi apontado como erro estratégico.
"Isso sim nos surpreendeu. A base não é tão pequena. Teve o efeito do voto secreto. Agora é reabrir o diálogo e recompor", disse esse auxiliar presidencial, sob condição de anonimato.
Nessa linha, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, disse após participar da primeira sessão do Congresso, e levar a mensagem presidencial aos parlamentares, que independentemente do resultado o importante é manter o diálogo.
Ao ser questionado sobre uma possível postura de oposição de Cunha na Câmara, ele descartou. "Acho que ele já disse que quer preservar a independência do Legislativo, mas não será uma presidência de oposição e temos absoluta convicção sobre isso", disse o ministro a jornalistas.
"Essa é uma Casa política, tem votação, a gente ganha e a gente perde, o importante é manter o diálogo, a disposição de construção da agenda que o país precisa", afirmou. "Eu tenho certeza que todos são homens públicos já vividos e experimentados e se restabelece o diálogo e a agenda para o Brasil", afirmou.
Ele negou que o governo considere Cunha um "desafeto político".
Dilma telefonou para Cunha e para o presidente reeleito do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para parabenizá-los. Ela pode se reunir com eles nesta semana, segundo a fonte do Palácio do Planalto.
MAIS AFAGOS
O ministro Pepe Vargas também tentou acalmar os ânimos e elogiar Cunha. "Ele não vai criar nem dificuldades e nem facilidades (para o governo)", disse.
"Quando ele tem uma opinião convicta de um assunto e o governo tem opinião distinta da dele, ele não precisa ser submisso", afirmou. "Nós o respeitamos, como parlamentar que tem suas posições", acrescentou.
"O Eduardo Cunha não é desafeto do governo", salientou Vargas.
"Quando tem um jogo de futebol, tem carrinho, tem puxão na camiseta, às vezes tem até canelada. Termina o jogo, os amigos sentam e tomam uma cervejinha, é mais ou menos isso", comparou o articulador político do governo.
Por Jeferson Ribeiro
Fonte: R7
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