Conexão cerebral faz dor diminuir com o toque da pessoa amada
A simples proximidade entre os parceiros já era suficiente para produzir uma sincronia fisiológica: a respiração e os batimentos cardíacos do casal se ajustavam ao mesmo ritmo Foto: Marjawar/Pixabay
SÃO PAULO - Quando um casal entrelaça as mãos, a atividade dos cérebros de ambos entra em sincronia, acoplando uma rede cerebral envolvida nas regiões ligadas à dor - e o resultado é um efeito analgésico. A conclusão é de um novo estudo realizado por cientistas da Universidade do Colorado e publicado nesta segunda-feira, 25, na revista científica PNAS.
A equipe liderada por Pavel Goldstein realizou um experimento com 20 casais heterossexuais com idades entre 23 e 32 anos. Eles registraram um tipo único de atividade acoplada dos cérebros dos casais quando uma mulher que sentia dor dava a mão ao seu parceiro. Além da redução da dor, o toque do parceiro ativou também um mecanismo ligado à empatia.
Segundo os autores da pesquisa, os resultados sugerem um possível mecanismo neurológico para o que os cientistas chamam de "analgesia do toque social", isto é, o efeito analgésico do toque de outro ser humano.
A analgesia do toque social, segundo os cientistas, já havia sido demonstrada em outros estudos. O mesmo grupo já havia publicado uma pesquisa mostrando que quando uma pessoa amada toca a outra, a respiração e os batimentos cardíacos sincronizam, e a dor passa. Outros estudos também indicavam que o toque tem efeito analgésico em bebês submetidos a procedimentos médicos simples e tem efeito terapêutico na redução da dor de pacientes de câncer.
Mas, até agora, os mecanismos por trás da analgesia do toque social permanecem obscuros. "Enquanto estudos recentes destacavam o papel da empatia do observador no alívio da dor do observado, a contribuição da interação social para a analgesia é desconhecida", escreveram os autores.
Para realizar a pesquisa, os cientistas registraram as ondas cerebrais emitidas pelos casais com eletroencefalografia externa (EGG), um sistema não invasivo que envolve a instalação de eletrodos no couro cabeludo.
"Nossos resultados indicam que dar as mãos durante um episódio de dor aumenta o acoplamento entre os cérebros em uma rede que envolve as regiões centrais do cérebro do receptor de dor e o hemisfério direito do cérebro do observador. Os dados sugerem que o acomplamento entre os cérebros deve estar envolvido na analgesia ligada ao toque social", disseram os cientistas.
Segundo os autores da pesquisa, ela é coerente com estudos recentes que mostraram que os efeitos analgésicos são modulados pelos circuitos neurais corticais e subcorticais. De acordo com eles, os resultados reforçam a "teoria biopsico-social da dor", que sugere uma interação dinâmica entre fatores biológicos, fisiológicos e sociais afeta a percepção da dor.
"O toque afetivo parece afetar a percepção consciente da dor, expressando assim fatores sociocognitivos. Em consonância com essa descoberta, nossa nova pesquisa mostrou que segurar a mão de um parceiro reduz a ansiedade e a reação da pressão sanguínea ao estresse", escreveram. "Isso leva a crer que fatores emocionais estão envolvidos nos efeitos analgésicos do toque."
O acoplamento cerebral entre casais já havia sido tema de outros estudos do grupo da Universidade do Colorado. No ano passado, utilizando o mesmo tipo de experimento, eles mostraram na revista Scientific Reports que o toque era capaz de reduzir a dor.
No experimento anterior, com 22 casais, a mulher também era submetida a uma dor no antebraço enquanto as ondas cerebrais de ambos os parceiros eram lidas com EEG. Os cientistas estudaram três cenários: o casal junto sem se tocar; o casal segurando as mãos; e os parceiros em salas separadas.
A simples proximidade entre os parceiros já era suficiente para produzir uma sincronia fisiológica: a respiração e os batimentos cardíacos do casal se ajustavam ao mesmo ritmo. Quando o casal se tocava, a dor era reduzida. Quando o homem não podia tocar a mulher, a sincronia aumentou. Quando ele podia tocá-la novamente, a sincronia voltava ao índice normal, e a dor desaparecia.
Fonte: Fábio de Castro / Estadão
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