Pedaço de Marte que está na Terra vai voltar para casa
Sayh al Uhaymir (mais conhecido como SaU008) saiu de sua terra natal em um período conturbado, há alguns milhões de anos – é difícil cravar a data com precisão. Expelido da superfície de Marte por um choque violento com outro astro, esse pedregulho de 8,5 kg vagou sem rumo pelo espaço até encontrar o pálido pontinho azul de Carl Sagan – a Terra. Pousou na Península Arábica, onde foi encontrado por humanos em 1999.
Conheceu a burocracia: foi classificado como um meteorito, e além do nome-código ali em cima, ganhou uma ficha completa, que você vê aqui. Junto com 163 colegas, foi submetido a testes de laboratório para comprovar sua origem marciana – pensa que vida de imigrante é fácil?
Agora, depois de 20 anos morando em uma gaveta do Museu de História Natural de Londres, SaU008 finalmente vai voltar para a sua terra. Ou pelo menos parte dele vai. Um fragmento do meteorito será devolvido a Marte de carona com a missão Mars 2020 da Nasa – que enviará um veículo não-tripulado de seis rodas, do tamanho de uma picape, para buscar sinais de vida no planeta vermelho.
Pedaços de Marte não pousam na Terra com frequência. Você precisa de um ótimo motivo para mandar um deles de volta, e a Nasa tem um: SaU008 será usado para calibrar um dos instrumentos de investigação científica do rover antes dele começar a trabalhar para valer.
O instrumento em questão atende por uma sigla engraçadinha: SHERLOC (Scanning Habitable Environments with Raman and Luminescence for Organics and Chemicals). Em português, isso dá algo como “varredura de ambientes habitáveis com raman e luminescência em busca de químicos e orgânicos”. Mas em português mesmo – do tipo que dá para entender –, isso significa uma máquina capaz de encontrar pedacinhos minúsculos de material que pode ter pertencido a seres vivos.
Infelizmente, não é suficiente calibrar o SHERLOC uma vez só, antes dele decolar. Ele precisará ser regulado diversas vezes ao longo da missão, que pode durar quase dois anos (687 dias). E é por isso que a pedra marciana vai junto. “Todos os anos, nós mandamos centenas de pedaços de meteorito para cientistas de todo o mundo”, afirmou em comunicado Caroline Smith, curadora de meteoritos do museu inglês. “Essa, porém, é a primeira vez que vamos mandar uma das nossas amostras de volta para casa em nome da ciência”.
SaU008 foi selecionado por ser especialmente resistente: não será fácil sobreviver à decolagem de um foguete, e muito menos ao pouso quando o rover chegar a seu destino. No final das contas, seu sacrifício pode aumentar, em vez de diminuir, a quantidade total de Marte na Terra. Pois a missão de 2020, além de encontrar sinais de vida, tem outros objetivos – como extrair do solo amostras fresquinhas que poderão ser trazidas ao planeta azul em missões posteriores.
Blog Supernovas
Fonte: Super Interessante
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