MP aponta ex-chefe do DOF como integrante de esquema para facilitar entrada de cigarro ilegal vindo do Paraguai

Denúncia aponta Klebber Haddad Lane e outros chefes de polícias na fronteira como integrantes de esquema criminoso. Ex-chefe do DOF teria recebido quantia mensal e feito partilha com outros chefes para manter contrabando.
20/07/2020 21:28 Justiça
Foto: Reprodução
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Uma investigação do Ministério Público (MP) mostrou como agiam oficiais da cúpula da Polícia Militar, na facilitação do contrabando de cigarros vindos do Paraguai. Um coronel, quatro tenentes-coronéis e um major estão no banco dos réus por supostamente terem recebido propina para integrar uma organização criminosa. O inquérito faz parte da terceira fase da Operação Oiketicus, que investiga a corrupção de policiais no contrabando de cigarros em Mato Grosso do Sul desde 2018. A nova fase recebeu o nome de "Avalanche".

De acordo com as investigações, participavam do esquema criminoso o coronel Kleber Haddad Lane, ex-chefe do Departamento de Operações de Fronteira (DOF), em Dourados, os tenentes-coronéis Carlos da Silva, que comandou a PM em Dourados, Jidevaldo de Souza Lima, então major em Sidrolândia, Josafá Pereira Dominoni, sub-comandante da Polícia Rodoviária e Wesley Freire de Araújo, que comandou a PM em Amabai e depois no município de Naviraí, além do major Luiz Cesar de Souza Herculano, em Coxim.

Após a Operação Oiketicus ser deflagrada, a Polícia Federal descobriu que PMs estavam envolvidos nos crimes - todos eles em cargo de comando. Conforme o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), o coronel Kleber, que foi chefe do DOF entre os anos de 2017 e 2019, era apelidado pelos contrabandistas como o “cacique águia” e o “bicho”.

Para o Ministério Público (MP), esses apelidos faziam referência ao símbolo do DOF, além da posição que ele ocupava como comandante. A denúncia do Gaeco aponta que o coronel recebeu quantias sem origem que passaram de R$150 mil, além de "depósitos sem identificação". Conforme a denúncia, "a análise de dados fiscais revelou que em agosto de 2017, ele adquiriu uma propriedade rural em Aquidauana no valor de R$ 205 mil, pagou à vista, sem que gerasse qualquer decréscimo em seu patrimônio declarado – indicando a origem criminosa do bem”.

O Gaeco também desconfiou da ligação do coronel com outro policial, o sargento Ricardo Campos Figueiredo, condenado por integrar a organização criminosa que contrabandeava cigarros e que está preso desde 2018. Pela denúncia, Kleber recebia "quantia mensal" e "era responsável por partilhá-la com os demais integrantes do esquema, possivelmente com instâncias superiores, que lhe davam suporte no cargo".

A denúncia ainda aponta que "malas de dinheiro eram transportadas para Campo Grande" e "um dos responsáveis por fazer isso era o sargento Campos Figueiredo". A relação entre Lane e Figueiredo ficou ainda mais evidente porque Kleber foi testemunha de defesa do sargento na ação em que ele foi condenado. Lane afirmou em depoimento que Campos Figueiredo o "ajudou a conquistar sua promoção ao posto de coronel". Meses depois, na decisão do juiz, a condenação concluiu que o "sargento PM Ricardo Campos Figueiredo era um dos responsáveis por colocar policiais corruptos em pontos estratégicos dentro da polícia militar para garantir a permanência do esquema criminoso".

Em Amambai e Naviraí, municípios do sul do estado, o contrabando também foi beneficiado. Só que por outro comandante, o tenente-coronel Wesley Freire de Araújo. Para o MP, ele é citado como "comandante Amambai" em troca de mensagens dos contrabandistas para receber R$ 20 mil em propina. De acordo com a denúncia, os contrabandistas possuíam "listas de propina" onde constavam “PM Amambai”, com valores de R$ 176,5 mil e R$ 150 mil e “Comandante de Amambai” com valores de R$ 20 mil e R$ 15 mil.

Pela denúncia, "ao assumir o comando do batalhão em Naviraí, uma de suas primeiras ações foi trocar o efetivo da agência local de inteligência – ali, reconhecidamente atuante no combate ao contrabando de cigarros". Araújo ainda "trocou agentes capacitados e reconhecidos pela honestidade por policiais que, na maioria, não possuíam expertise na área e tinham notícias de envolvimento com corrupção".

Conforme a denúncia, o tenente-coronel fazia questão de expor que "não quero(queria) um policial honesto, eu quero(mas sim) um policial leal!”. O comandante-geral da Polícia Militar, discorda da declaração de Araújo. "A honestidade e a lealdade sempre caminham juntas. Todo policial que infringir uma lei e desvio de conduta, certamente será responsabilizado. E tenha certeza que todo policial militar sabe disso", afirma.

As defesas dos acusados negam as acusações e o envolvimento dos policiais no esquema criminoso. Mas o MP "concluiu que os oficiais militares investigados, todos com altas patentes, usaram de seus cargos para permitir o transporte livre de cigarros pelas estradas, mediante o recebimento de altas somas da organização criminosa". Agora, a justiça vai decidir se os policiais serão condenados e se o pedido do Ministério Público Estadual (MPE) para que "seja decretada a perda do cargo dos denunciados" será aceito.

Fonte: G1 MS

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